Espinosa, meu éden

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sexta-feira, 18 de outubro de 2024

3580 - Duas paixões: o Galo e Vander Lee

O mundo e a vida são injustos, não há como negar. Infelizmente. Como explicar que artistas de pouco ou nenhum talento especial alcancem um sucesso estrondoso, enriqueçam de forma absurda e sejam idolatrados por milhões de seguidores enquanto verdadeiros craques e virtuoses criativos e bastante inspirados artisticamente não conseguem se destacar mundialmente e receber o merecido reconhecimento?
O músico, cantor e compositor Vanderli Catarina, ou Vander Lee, nasceu em Belo Horizonte aos 3 de março de 1966. Começou a aparecer para um público um pouco mais abrangente na capital mineira após passar a se apresentar constantemente em bares da cidade e gravar suas próprias composições (quatro) em uma fita demo em 1986. A partir do ano seguinte, 1987, já fazia pequenos shows com seu ainda pequeno repertório pessoal. O contato inicial com um mínimo de sucesso se deu após conquistar o segundo lugar no Festival Canta Minas, apresentando sua música "Gente Não É Cor", em 1996. A canção em ritmo de Reggae já mostrava a veia bem humorada, poética e crítica do artista belo-horizontino, defendendo aberta e firmemente a sua negritude, com orgulho e consciência. O reconhecimento, ainda tímido e limitado, viria depois do lançamento do seu primeiro álbum em 1997, independente e ainda assinando Vanderly. O público seria amplificado com o lançamento do segundo disco em 1999 já pelo Selo Kuarup, "No Balanço do Balaio". Dali em diante, sua qualidade maravilhosa nas composições chamou a atenção de duas deusas da MPB, Maria Bethânia, que gravou a música "Estrela" no seu disco ao vivo "Amor Festa Devoção" em 2010; e Gal Costa, que gravou a linda canção "Onde Deus Possa Me Ouvir" no álbum "Gal Bossa Tropical" em 2002, ainda antes do próprio autor. Sua incrível versatilidade permitiu que Vander Lee criasse belas canções nas mais diversas searas musicais, desde o Reggae até o Samba, sempre com letras repletas de poesia, criatividade e bom humor. São lindas suas composições "Românticos", "Esperando Aviões", "Minha Criança", "Do Brasil", "Bom Dia", "Aquela Estrela", "Iluminado", "Meu Jardim", "Breu", "Pensei Que Fosse o Céu", "Alma Nua", "A Voz", "Tu", "Eu e Ela", "Seu Rei", "Sempre Cedo", "Farol", "Chazinho Com Biscoito", "Prece Preciosa", "Siga Em Paz"" etc etc etc. 


 
Atleticano apaixonado pelo Clube Atlético Mineiro, o letrista inspirado que nos deixou precocemente em 5 de agosto de 2016 com apenas 50 anos de idade, nos deixou canções extremamente saborosas sobre situações do cotidiano, inclusive um relato de um relacionamento amoroso entre um casal formado por um atleticano e por uma cruzeirense. Esse assunto esteve em pauta em um interessante vídeo criado pelo canal Acervo do Galo - Christiano Pacheco no YouTube. Nele, denominado "Galo de Briga - O Atlético Mineiro por Vander Lee", o carismático, sereno e notável artista mineiro nos mostra sua familiaridade com o futebol em geral e com o nosso Galo em particular.
Quanta falta faz o talentoso e querido Vander Lee! Quem, em sã consciência e com a dádiva de poder conhecer seu trabalho, desconsiderá-lo ou não se permitir ser encantado por sua música, precisará urgentemente de um tratamento psicológico intensivo. "Ô louco, meu!", dirá o Faustão.  
Um grande abraço espinosense.





"GALO E CRUZEIRO"
Vander Lee

Minha Preta não fala comigo
Desde primeiro de janeiro
Ela me deu a mala eu fui dormir na sala
Fiquei sem dinheiro
Não tem mais feijoada, nem vaca atolada
Rabada ou tropeiro
Já fez greve de cama, diz que não me ama
Quebrou meu pandeiro

Na hora do cruzamento, ela deu impedimento
Ou falta no goleiro
Pra aumentar meu tormento, meu irmão
Eu sou Galo e ela é Cruzeiro

Com o gol anulado, saí do gramado,
voltei pro chuveiro
Isso tudo porque, meu irmão
Eu sou Galo e ela é Cruzeiro

Caí de centroavante
Pra médio-volante, agora sou zagueiro
No último domingo ela foi jogar bingo
E eu fiquei de copeiro
Ela fala, eu me calo, ela canta de galo
Lá no meu terreiro

Ela apita esse jogo, ela é quem bota fogo
No nosso palheiro
Ela finge que não, mas no seu coração
Ainda sou artilheiro
Só faz isso porque, meu irmão
Eu sou Galo e ela é Cruzeiro
Ela finge que não, mas no seu coração
Ainda sou artilheiro
Só faz isso porque, meu irmão
Eu sou Galo e ela é Cruzeiro

Caí de centroavante
Pra médio-volante, agora sou zagueiro
No último domingo ela foi jogar bingo
Eu fiquei de copeiro
Ela fala, eu me calo, ela canta de galo
Lá no meu terreiro
Ela apita esse jogo, ela é quem bota fogo
No nosso palheiro
Ela finge que não, mas no seu coração
Ainda sou artilheiro
Só faz isso porque, meu irmão
Eu sou Galo e ela é Cruzeiro

Ela finge que não, mas no seu coração
Ainda sou artilheiro
Só faz isso porque, meu irmão
Eu sou Galo e ela é Cruzeiro
Isso tudo porque, meu irmão
Eu sou Galo e ela é Cruzeiro
Só faz isso porque, meu irmão
Eu sou Galo e ela é Cruzeiro

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