Espinosa, meu éden

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sexta-feira, 25 de outubro de 2024

3585 - O guerreiro Maguila sofreu o último nocaute em vida

Nos anos 80 e 90 no Brasil, o boxe atraía a atenção de vários apaixonados por esporte no país. Eu e mais outros apreciadores do boxe ficávamos até a madrugada acordados para assistir na TV as lutas do fenômeno Michael "Mike" Gerard Tyson, um jovem lutador que assombrava o mundo do esporte naquela época com seus incríveis e espetaculares nocautes nos adversários, abatidos inapelavelmente quase sempre nos primeiros momentos do primeiro round. No Brasil, influenciados pelo empresário e excelente locutor Luciano do Valle, que mantinha um programa de 10 horas no canal Bandeirantes aos domingos, dando espaço a várias modalidades esportivas, os amantes do esporte passaram a dar mais atenção ao boxe, com o surgimento de uma figura de grande carisma e espirituosidade, um lutador de boxe peso-pesado batizado como José Adilson Rodrigues dos Santos, mas conhecido como "Maguila", apelido originado de um gorila personagem dos desenhos animados da Hanna-Barbera.



Nascido em 12 de junho de 1958 na capital de Sergipe, Aracaju, o menino pobre deixou sua terra natal para, assim como milhões de irmãos nordestinos, ir para a metrópole São Paulo em busca da sobrevivência e de melhores condições de vida. Passou fome e chegou a morar em cima de uma caçamba de um caminhão abandonado na rua. Trabalhando como servente de pedreiro, leão-de-chácara de uma boate e segurança de um motel, passou a treinar boxe, influenciado pelos seus ídolos no esporte, Éder Jofre e Muhammad Ali (Cassius Marcellus Clay Jr.). Com o primeiro suporte oferecido por Luciano do Valle, teve ao longo da carreira vários treinadores importantes, como o Ralph Zumbano, o campeão mundial Miguel de Oliveira e o americano Angelo Dundee. Foi Campeão Brasileiro de Boxe, Campeão Sul-Americano, Campeão Latino-Americano, Pentacampeão Continental, Campeão das Américas e a glória maior, Campeão Mundial pela Federação Mundial de Boxe (FMB).



Ganhou notoriedade, o carinho e o respeito da população pela sua vitoriosa trajetória nos ringues como também pela sua comicidade e excentricidade de, sempre após as suas lutas, quando entrevistado pelos repórteres de TV, mandar abraços aos amigos, familiares e patrocinadores. Maguila foi uma potência no boxe brasileiro, um gigante, uma lenda, mas ainda assim bem distante da força, técnica e talento dos ícones do Boxe norte-americano. Ele conquistou um cartel digno de aplausos entre os anos de 1983 e 2000, atuando em 85 lutas oficiais, com impressionantes 77 vitórias (61 por nocaute), sete derrotas e um empate técnico. Foi em dois confrontos memoráveis com astros do esporte estadunidense que Maguila sofreu suas mais famosas derrotas, nocautes pesados infligidos por Evander Holyfield (15-07-1989, nos Estados Unidos Caesars Tahoe, Stateline, Nevada) e George Foreman (16-06-1990, nos Estados Unidos Caesars Palace, Las Vegas, Nevada). Maguila se despediu dos ringues com 41 anos de idade no dia 29 de fevereiro de 2000, na Brasil Gallery 21, em São Paulo, quando foi nocauteado pelo oponente Daniel Frank aos 2:55 do quarto round.



Após aposentar as luvas, Maguila foi comentarista e humorista em programas popularescos de TV, gravou um disco, esteve em vários programas televisivos dando entrevistas e até se aventurou na política, sem sucesso. Foi diagnosticado com uma doença neurodegenerativa evolutiva e incurável conhecida como "demência pugilística", causada pelos inúmeros golpes recebidos na cabeça durante seus 17 anos de pugilismo. Nos últimos sete anos esteve sob cuidados especiais em uma clínica, falecendo ontem, aos 66 anos de idade, deixando o seu amor de mais de 40 anos, a esposa Irani, e os seus três filhos, Adílson, Adenílson e Edmílson.



Maguila deixou muitos bons exemplos para o povo brasileiro. Conseguiu sair da pobreza com luta, dignidade e esperança, vencendo a fome com muita dificuldade, mas com ajuda de pessoas maravilhosas, como Luciano do Valle e sua fiel companheira Irani. Sempre bem-humorado, Maguila espalhou alegria e humildade por onde passou e, mesmo sem uma formação educacional básica, demonstrou sua sabedoria ao não expressar ódio nem preconceito contra os homossexuais, um deles o seu próprio filho, a quem sempre concedeu apenas amor, compreensão e respeito.
Minha admiração e agradecimento ao Maguila por tantas alegrias. Que descanse em paz! 
Um grande abraço espinosense.