Espinosa, meu éden

Espinosa, meu éden

sexta-feira, 4 de março de 2011

100 - Meu grande amigo Tuka

Existem pessoas especiais que entram na vida da gente para nunca mais sair. Mesmo atualmente estando a centenas de quilômetros de distância e sem nos encontrar há mais de 26 anos. Essa pessoa especial para mim é o funcionário aposentado do Banco do Brasil Antônio Felisberto Fernandes, ou simplesmente Tuka. O pessoal mais antigo, principalmente os apaixonados por futebol de salão no início da década de 80, vai se lembrar bem dele, devido à grande rivalidade existente entre o time do Banco do Brasil, formado por Waltinho, Mílton, João Carlos, Tintin, Camilo e Tuka, e a garotada do Mescra, famoso time espinosense cujo nome era formado pelas iniciais dos nomes dos seus jogadores, sendo "M" de Marquinhos, "E" de Ernane, "S" de Silvinho, "C" de Célio, "R" de Ricardo (Tu de Carlito) e "A" de Alberto (Zé de Ieié). Para irritá-lo, o pessoal o chamava de "Boneca".
Equipe de futsal da AABB-Espinosa no início dos anos 80:
Eustáquio, Tiãozinho, Quinha, Waltinho e Tuka;
Dino, Vitamina, Mangabinha, João Carlos e Klebinho (filho de Tuka).
Tuka era um aficionado do futebol. Lembro-me bem dele, ao lado da esposa Nislei e dos dois filhos, ainda bem pequenos, munidos de rodo e pano de chão, enxugando a quadra da AABB para que pudéssemos bater uma pelada de futebol de salão. Um vício sem igual! Sempre estava no Campão (hoje Mercado Municipal) para acompanhar os treinos do Cruzeirinho, de quem era torcedor. Ele sempre gostou da gente, do nosso futebol. Quando eu chegava para treinar à tardinha, ele já estava lá, no seu Fiat 147 ouvindo músicas de Rolando Boldrin, de quem é grande admirador. Foi conversando sempre ali, que iniciamos a nossa grande amizade.
Um belo dia de novembro de 1981, recebo um telefonema de Tuka me avisando que eu havia passado no concurso do Banco. Achei que era brincadeira e brinquei que ele estava me gozando. Ele apenas respondeu: - É sério, agora o time do Sukata (time reserva da turma do Banco) vai ficar mais forte. Depois de muita incredulidade, vi que era sério e fiquei imensamente feliz com a notícia. Era um sonho que se realizava. Depois que tomei posse, ele foi como um pai para mim. Dava-me conselhos, opinava até nas roupas e nos calçados que eu deveria usar no trabalho. Sempre apoiou a mim e a todos os colegas que tomaram posse naquela época, como Quinha e Mangabinha. Aliás, uma de suas características marcantes era colocar apelido em todo o mundo. Girafinha (Dino), Mangabinha (Carlinhos de Zezé) e Taquinho (eu), por exemplo, foram idéia sua. Naquela época formamos um time razoável, mas bastante competitivo e aguerrido, conseguindo ser campeão nos jogos da Fenabb em Montes Claros, ganhando da equipe de Bocaiúva, com o excelente Zé Américo no gol, por 2 x 1 na final.
Time campeão em Montes Claros em 1982:
Dino, Vitamina, Tiãozinho, Eustáquio e Tuka;
Luiz Dedinho, Mangabinha e João Carlos.
Meu primeiro título no futsal
Tuka, Tiãozinho e Eustáquio;
Mangabinha, João Carlos e Vitamina.
Comemoração da delegação campeã de Espinosa em Montes Claros:
Waltinho, Marquinhos, Dino, Quinha, Eustáquio, Mangabinha, Tiãozinho,
Zazá (In Memoriam) e Tuka; Tonhão, Vitamina, Luiz Carlos e João Carlos.
Amigos eternos.
Mesmo depois de transferido para o estado de Goiás, ele ainda assim jogou conosco na fase estadual que aconteceu em Ituiutaba, quando ficamos em quarto lugar, atrás apenas das equipes de Divinópolis, Governador Valadares e Juiz de Fora.
Merece registro essa nossa viagem para Ituiutaba, uma tremenda aventura. Saímos de carro para Monte Azul, onde pegamos o trem de passageiros (ainda existia o chamado "Trem Baiano") até Montes Claros. Em MOC, alugamos uma velha Kombi na Monvep e nos mandamos para a bela cidade do Triângulo Mineiro, sendo conduzidos pelo nosso velho saudoso companheiro e motorista Quincão. A Kombi quebrou uma três vezes na viagem. Quando parecia que tudo ia terminar bem, Tiãozinho soltou uma profecia: - "agora só falta furar um pneu". Incrível! Não andamos nem mais um quilômetro e eis que um pneu fura. Foi uma gargalhada só! Que coisa, sô! Que boca maldita!
Finalmente, quase na hora do nosso jogo de estréia, chegamos a Ituiutaba. Só aí descobri que havia esquecido de levar meu tênis. Saí apressado pela cidade para comprar um novo par de tênis. Ao chegar à AABB, uma triste constatação. Enquanto chegávamos, meia-dúzia de gatos pingados, cansados e maltrapilhos, em uma velha Kombi, as delegações de outras cidades, como Governador Valadares, Curvelo, Belo Horizonte, Juiz de Fora e Divinópolis, entre outras, chegavam, com famílias inteiras totalmente uniformizadas e em ônibus super confortáveis, dotados de banheiro e ar condicionado onde se lia nas laterais, em letras garrafais: Air Bus. E nós de Kombi! Que dureza! 
Ganhamos o nosso primeiro jogo contra o time de Abaeté por 3 x 1 em uma quadra de cimento, debaixo de um sol escaldante.
Nossa primeira vitória, contra o time de Abaeté
O segundo jogo, seria no Ginásio recém inaugurado, novinho em folha. Fomos enfrentar o time de Passos. Ninguém do nosso time conseguia ficar em pé, devido ao piso escorregadio da novíssima quadra, toda taqueada. Perdemos por 3 x 1. Só após a partida, nossos adversários foram nos avisar que deveríamos passar os tênis em breu (betume artificial adesivo), para ter aderência ao piso liso do ginásio. Aprendemos a lição. Na próxima partida, decidiríamos a vaga contra os donos da casa, o Ituiutaba. Ginásio lotado. Um barulho infernal. Todo mundo contra nós. Todo mundo não. Tínhamos dois fanáticos torcedores ao nosso lado: Nislei, a mulher de Tuka e o nosso motorista Quincão. Jogo disputadíssimo, mas conseguimos a vitória no sufoco, por 4 x 3. Fomos para a semifinal jogar contra o futuro campeão do torneio, o fortíssimo time de Juiz de Fora. Perdemos por 3 x 1,  fomos desclassificados e tivemos que voltar à nossa velha Kombi para retornar à Montes Claros, dali ao trem de passageiros e, finalmente, de carro até Espinosa. Uma verdadeira via-crúcis. Despedimo-nos de Tuka e Nislei e pegamos a estrada. Mesmo com todo o sofrimento, não há como negar que foi uma das melhores viagens que já fiz na vida. Valeu cada momento, cada segundo.
Uma lembrança do nosso torcedor e motorista Quincão:
Waltinho, Eustáquio, Mangabinha, Tiãozinho e Quincão;
Vitamina, João Carlos e Quinha.
Desde aquele dia, não mais encontrei Tuka, que mora hoje em São José do Rio Preto-SP. Mas estamos sempre em contato através da Internet. Dias desses, todo orgulhoso, ele me mandou umas fotos da sua netinha, a Lorena, que nasceu recentemente. É uma pessoa maravilhosa, que mesmo distante, faz parte da minha vida e tem o meu reconhecimento e o meu carinho, eternamente. A ele, o meu abraço e o desejo de muita saúde e felicidade ao lado da sua família. Longa vida e muita alegria e paz, grande amigo Tuka! 
Tuka, meu grande amigo

Nislei e sua netinha Lorena


99 - O Juventus Esporte Clube

Tive a felicidade e a honra de jogar no time do Juventus Esporte Clube de Espinosa, cujo uniforme vermelho oficial da Adidas foi um grande diferencial na história do futebol da cidade. O presidente do clube, Valdivino do Sindicato, era um apaixonado pelo futebol e adquiriu um uniforme completo da famosa e cara marca alemã Adidas, para vestir os craques da equipe. Era realmente muito bonito o uniforme.
Eustáquio e Quinha no Campão, na estréia do belo uniforme do Juventus
No Juventus, ainda tive a alegria e a fantástica experiência de jogar ao lado de dois dos maiores craques do futebol espinosense de todos os tempos, o zagueiro Téo e o meio-campista Pé-Duro, dois dos meus ídolos. Por lá também jogou muita gente boa de bola também: Zinho, Jorginho, Marquinhos, Neguinho, Valdomiro, Quinha, João Carlos, Nivaldo, Roberto, Tone Chaves, Júlio, Duda, Dedé, Eduardo.
Uma das melhores formações do Juventus:
Dedé, Roberto, Marquinhos, Eustáquio, Tone Chaves e Téo;
João Carlos, Valdomiro, Jorginho, Zinho e Neguinho.
Uma das histórias mais interessantes do Juventus aconteceu na cidade de Jaíba, onde fomos jogar em certa ocasião. Lúcio, que trabalhava na tipografia de Zezinho da Gráfica, ali no casarão da Rua da Resina onde mora o meu tio Luizão, marcou uma partida contra um time local da Jaíba. Não me recordo do nome do nosso adversário. Fomos de ônibus e havia até alguns torcedores, entre eles Zecão. Pois bem, vamos ao jogo. O campo era de terra, ficava em frente a um pequeno clube da cidade e estava cercado por uma corda por toda a sua extensão, para impedir o acesso dos torcedores, que eram muitos.
Eustáquio no inesquecível jogo da Jaíba

Time do Juventus na Jaíba:
Téo, Tone Chaves, Nivaldo, Duda e Pé-Duro;
Eduardo, Eustáquio, Zinho, João Carlos, Neguinho e Valdomiro.
 Estávamos ganhando o jogo por 3 x 2, com dois gols marcados por Quinha, que tinha entrado no segundo tempo. Depois de marcar o primeiro gol em um chute que desviou no zagueiro, eu fui expulso ao revidar um pontapé do adversário. O jogo estava tenso, muito disputado e com alguma violência por parte dos antagonistas. De repente, quase no final da partida, começou a confusão. O nosso craque Pé-Duro também foi atingido covardemente por um jogador da Jaíba e foi reclamar com o adversário. Neste momento, Zecão, que já estava um pouco exaltado, pulou a corda e partiu para cima do cara. Os jogadores da Jaíba foram todos para cima de Zecão. Nisso, Lúcio, que era o responsável pela marcação da partida, desesperado, também entrou em campo para tentar conter a confusão e separar os brigões. O que aconteceu em seguida bem poderia ser uma cena clássica do cinema. Zecão levou um potente soco que o fez voar até a corda que circundava o campo, que causou um enorme arranhão em dos lados do seu rosto. Lúcio também levou um soco na cara e desmaiou. O nosso goleiro Duda, forte como um touro, foi perseguido por várias pessoas dentro do campo. Enquanto corria, de vez em quando ele parava e desferia vários golpes contra os agressores, derrubando-os com enorme força. Nunca vi coisa igual! Eu e Júlio estávamos de fora, tocando os instrumentos da fanfarra, no lado contrário de onde estava o nosso ônibus. Saímos em desabalada carreira em direção a ele e fomos, felizmente, ignorados pela multidão enfurecida. Em pouco tempo, a confusão terminou, os ânimos se acalmaram e o jogo acabou ali mesmo. Então, fomos procurar refúgio no clube ali próximo ao campo. Morrendo de medo de ser agredido, eu fiquei, com outras pessoas, próximo da tela atrás do gol da quadra de futebol de salão, perto de Téo, já que ele era conhecido por ser bom de briga e que poderia nos salvar daquela situação complicadíssima. Mas daí em diante já não aconteceu mais nada. Depois de algum tempo de espera, entramos no ônibus e nos dirigimos a um bar e boate, em Otinolândia, do outro lado da ponte, para tomar umas cervejas. Depois de toda aquela confusão, a coisa virou festa, com muita resenha e gargalhadas sobre o que havia acontecido. Lembro-me bem da farra que lá fizemos, com destaque para a presença do nosso treinador Domingão (In Memoriam) que, bem animado, bebeu e dançou à beça. A viagem de volta também foi na maior alegria, com muita risada e vários depoimentos sobre o acontecido. O que aconteceu ali daria um ótimo filme. Só havia visto coisa parecida na briga entre o Espinosense e o Santa Cruz, no Campão, no episódio do sumiço da taça. Veja aqui a história contada por Raimundo Mário.