Espinosa, meu éden

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quarta-feira, 22 de outubro de 2025

3884 - Sidney Miller, quem conhece?

É até desanimador, baixo astral. É que quanto mais eu me esforço para aprender e descobrir coisas e fatos novos deste mundo tão lindo, esférico, azul e maltratado pelos homens gananciosos por poder e grana, mas me deparo de frente com o imenso tamanho da minha ignorância. Só hoje, após 45 anos da sua morte é que descobri a existência e o talento do cantor e compositor carioca Sidney Álvaro Miller Filho, nascido no Rio de Janeiro em 18 de abril de 1945 e falecido ainda muito jovem no mesmo local em 16 de julho de 1980.



Nascido no bairro carioca de Santa Teresa, Sidney Miller destacou-se nas décadas de 1960 e 1970 com suas belas composições que traziam letras muito bem estruturadas e com conteúdos líricos, poéticos e relevantes, apresentadas inicialmente em festivais. Em 1965, no I Festival de Música Popular Brasileira da TV Excelsior, passou a ser observado por conquistar o quarto lugar com a sua canção "Queixa", composta em parceria com Paulo Thiago e Zé Kéti, interpretada por Cyro Monteiro. Ficou conhecido ao aparecer na TV em 1967, na disputa do III Festival de Música Popular Brasileira, quando venceu o prêmio de Melhor Letra por sua composição "A Estrada e o Violeiro", cantada por ele ao lado de Nara Leão. Apesar de ter cursado Sociologia e Economia, não concluiu os cursos e se entregou ao trabalho com música, compondo canções que encantaram a cantora Nara Leão, que gravou e incluiu nada menos que cinco delas no seu álbum "Vento de Maio", de 1967, pela Gravadora Philips. A cantora gravou outras mais canções do artista carioca, como "Pede Passagem", no seu disco "Nara Pede Passagem", de 1966, e "Tambores da Paz", no disco de 1969 "Coisa do Mundo".



Alguns versos do poeta Sidney Miller:

Não faz feitiço quem não tem um terreiro
Nem batucada quem não tem um pandeiro
Não vive bem quem nunca teve dinheiro
Nem tem casa pra morar
Não cai na roda quem tem perna bamba
Não é de nada quem não é de samba
Não tem valor quem vive de muamba
Pra não ter que trabalhar
Eu vou procurar um jeito de não padecer
Porque eu não vou deixar a vida sem viver (Maria Joana)

Passa o tempo na janela
Vejo tudo que se passa
Passa o dia, passa a hora
Passa a pressa de ir embora
Passa o pranto de quem chora
Passa o verso de quem canta
Passa a dor e a dor é tanta
Que eu nem sei por onde mora (Passa, Passa, Gavião)

Vejam vocês até meu amor foi-se embora
Pra não viver ao lado do meu sofrimento
Restou apenas do samba a saudade que chora
E o violão agora é quem faz meu lamento (Fui Bem Feliz, com Jorginho)

São os tambores da paz
Que vem rufando de alegria
Cores, bandeiras ao vento me acenando
Quem diria?
E eu que pensava tão triste o momento presente
As batalhas campais
Encontro os sorrisos nos lares, nos bares,
Nos mares tropicais (Tambores da Paz)

Chegou a hora da escola de samba sair
Deixa morrendo no asfalto uma dor
Que não quis
Quem não soube o que é ter alegria na vida
Tem toda a avenida
Pra ser muito feliz (Pede Passagem)



Sidney Miller morreu muito novo, aos 35 anos de idade, e gravou apenas três álbuns: "Sidney Miller" (1967), "Brasil, do Guarani ao Guaraná" (1968) e "Línguas de Fogo" (1974). No dia 16 de julho de 1980 ele foi encontrado morto em seu apartamento, no bairro carioca de Laranjeiras. A causa da morte foi um ataque cardíaco, ao misturar remédios e álcool. Uma das suas composições mais conhecidas certamente é a música "O Circo". Sidney Miller também se destacou fazendo trilhas sonoras de peças e filmes, como também na produção de espetáculos e discos. O artista de vida breve e grande importância na música brasileira foi homenageado pela Fundação Nacional de Artes em 1980 com o batismo de uma sala cultural no Centro do Rio de Janeiro com seu nome.
Há muito o que se descobrir na História do nosso Brasil. Muita gente não conhece ou não se importa em conhecer nosso passado tão cheio de fatos interessantes e gente muito talentosa, mesmo com esta infinita e maravilhosa ferramenta de pesquisa que é a Internet. Cada dia que passa, ao descobrir algo relevante e valioso sobre nosso Brasil e nossos irmãos brasileiros, especialmente na música, alegro-me muito. E vou continuar garimpando à procura de coisa boa neste emaranhado gigantesco de porcarias. Que Deus me ajude e dê-me ânimo, calma e paciência! 
Um grande abraço espinosense.


 


NÓS OS FOLIÕES
Sidney Miller

Nosso amor passou eu sei
No principio eu não quis acreditar
Chorei
Mas, depois eu tive que me conformar
Me conformei
A realidade foi maior
Aprendi nessa dor
A mágoa não compensa
E o orgulho é mais cruel
Que toda a indiferença
Pode acreditar, mulher
Nosso amor foi lindo
Como um Carnaval qualquer
Que se acaba
E faz um novo dia a dia acontecer
Tão difícil assim como viver
Até um dia em que vem
reacender alegrias e salões
Nós, os foliões
Nossas alegorias
Tão esperado e se foi
Tão colorido e lá vai
Perdendo a cor o Carnaval do nosso amor