Um dia de domingo reservado às mães. Como se fosse possível reservar um único e mísero dia a homenagear quem nos deu a vida, depois de nos carregar nas entranhas por longos 9 meses, sofrendo todas as mutações, enjoos e dores resultantes do milagre da criação.
Mãe é para ser cultuada, acarinhada, beijada, abraçada, bem tratada, ouvida, obedecida, amada e respeitada todo santo dia, sem exceção. E relembrada com carinho, gratidão e saudade, aquelas que já estão junto ao Pai.
Quisera eu ter a capacidade intelectual de fazer um belo e tocante poema para as mães, especialmente para a minha, que alçou voo há algum tempo. Não, Deus não me deu essa dádiva. Mas me deu a sensibilidade de poder me encantar com aqueles que tem esse dom de transformar palavras e sons em belíssimas canções. E é com eles, dois grandes poetas da nossa música, que quero prestar uma singela homenagem a todas as mães do mundo, em especial a Dona Zu, minha saudosa mãe, e a Dona Cléa, minha esposa.
A primeira canção é um agradecimento bonito e emocionante do cantor e compositor Djavan à sua mãe, que tanto o influenciou na vida musical. Ela era apaixonada por música e passava o dia inteiro cantando, enquanto trabalhava duro lavando roupa no rio. Adorava Orlando Silva, Ângela Maria, Dalva de Oliveira, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro. Ela tinha o dom musical na alma e extravasava isso a todo momento, inclusive criando canções de ninar para cada filho que gerava. Não podia resultar em outra coisa, um ser encantado capaz de conceber canções belíssimas repletas de poesia. Para homenageá-la, Djavan compôs a música "Dona do Horizonte", gravada para o 23º álbum do artista, "Vidas Pra Contar".
A segunda canção é "Mãe", de Caetano Veloso. Sobre Caetano não é preciso falar mais nada sobre a sua imensa aptidão de concatenar palavras e acordes para fabricar verdadeiras pérolas do cancioneiro popular. Tudo indica que esta música foi feita em homenagem a Dona Canô, mãe de Caetano e também de Maria Bethânia e mais 6 filhos. Claudionor Viana Teles Veloso, a Dona Canô, era uma notória residente de Santo Amaro, na Bahia, participante ativa das festas religiosas da cidade e conhecida e amada por todo mundo por lá. Apenas 3 meses depois de completar 105 anos, ela infelizmente se foi, no dia de Natal de 2012.
Então, Mães de todo o mundo, sintam-se abraçadas e amadas, sempre!
Um grande abraço espinosense.
Dona do Horizonte
Djavan
Eu já nasci
Minha mãe quem diz
Predestinado ao canto
Ela falou
Que eu tinha o dom
Quando eu estava
Na soleira
Dos meus poucos anos!
Foi indo assim, quando dei por mim
Já não fazia outra coisa
Cantava ali, só pra ela ouvir
E me dizer coisas tão boas
Por exemplo:
Quero vê-lo o mais querido
Como nosso Orlando
Hei de ler seu nome escrito
Em placa de avenida
Não vai mudar, toda mãe é assim
Mãe é o nome do amor!
Logo cresci
Minha mãe ali
Dona do horizonte
Me fez ouvir
Dalva de Oliveira
E Ângela Maria todo dia
Deusas que adorava
Tinha prazer
Em me levar pra ver
Luiz Gonzaga cantar
Não sem deixar
De advertir
Pra que eu estudasse sempre mais
E sem descanso
Quero vê-lo o mais querido
Como nosso Orlando
Hei de ler seu nome escrito
Em placa de avenida
Não vai mudar, toda mãe é assim
Mãe é o nome do amor!
Mãe
Caetano Veloso
Palavras, calas, nada fiz
Estou tão infeliz
Falasses, desses, visses não
Imensa solidão
Eu sou um Rei que não tem fim
E brilhas dentro aqui
Guitarras, salas, vento, chão
Que dor no coração
Cidades, mares, povo, rio
Ninguém me tem amor
Guitarras, salas, colos, ninhos
Um pouco de calor
Eu sou um homem tão sozinho
Mas brilhas no que sou
E o meu caminho e o teu caminho
É um nem vais nem vou
Meninos, ondas, becos, mãe
E só porque não estais
És para mim que nada mais
Na boca das manhãs
Sou triste, quase um bicho triste
E brilhas mesmo assim
Eu canto, grito, corro, rio
E nunca chego a ti