A noite da quarta-feira prometia fortes emoções para as torcidas mineiras, principalmente para a alvinegra, já acostumada a incríveis momentos de ansiedade, tensão e sofrimento. Mas, como sempre surpreendente, o futebol nos reservava um estado de coisas jamais imaginado pelos torcedores.
Na Vila Belmiro, o Santos saiu na frente, com Robinho marcando logo no primeiro minuto da partida, igualando o placar do primeiro jogo, o que levaria a decisão para os pênaltis. Mas o destino queria mais emoção e logo aos 7 minutos, Marcelo Moreno estufou a rede do goleiro Aranha, empatando o jogo em 1 x 1. No finalzinho do primeiro tempo, pênalti a favor do Santos, com cobrança perfeita de Gabigol, colocando o time praiano novamente na frente do placar.
Mesmo com esse resultado adverso, o Cruzeiro ainda assim se classificaria, pelo gol marcado fora de casa. Para se classificar, o Santos precisava de mais um gol. E ele veio em um ótimo contra-ataque com finalização certeira de Rildo, aos 13 minutos. Se nada mudasse dali em diante, o famoso time da Vila Belmiro e do gênio Pelé estaria na final da Copa do Brasil. O Cruzeiro, entretanto, não estava morto e, com gols de William aos 37 e aos 49 minutos do segundo tempo, decretou o resultado final, levando o time mineiro à sua sexta final da competição (em que já levantou o título em quatro edições: 1993, 1996, 2000 e 2003) e enlouquecendo de alegria a torcida azul de Minas Gerais.
SANTOS 3 x 3 CRUZEIRO
Motivo: Jogo de volta da semifinal da Copa do Brasil.
Local: Santos (SP) - Estádio da Vila Belmiro.
Data: 5 de novembro de 2014.
Árbitro: Dewson Fernando Freitas da Silva (PA).
Auxiliares: Bruno Boschilia (PR) e Cleriston Barretos Rios (SE).
Cartões amarelos: Rildo e Lucas Lima (Santos); Willian, Egídio e Lucas Silva (Cruzeiro).
Gols: Robinho a 1', Marcelo Moreno aos 7' e Gabriel aos 47' do primeiro tempo; Rildo aos 13', Willian aos 37' e aos 49' do segundo tempo.
Santos: Aranha, Cicinho, Edu Dracena, Bruno Uvini e Mena; Alison, Arouca e Lucas Lima; Rildo, Robinho e Gabriel.
Técnico: Enderson Moreira.
Cruzeiro: Fábio, Ceará, Dedé (Bruno Rodrigo), Léo e Egídio (Samudio); Henrique, Lucas Silva, Éverton Ribeiro (Júlio Baptista) e Ricardo Goulart; Willian e Marcelo Moreno.
Técnico: Marcelo Oliveira.
No Mineirão, mais uma noite iluminada dos jogadores atleticanos. Precisando reverter o resultado de 2 x 0 da derrota para o Flamengo na primeira partida, no Maracanã, o Atlético tinha que buscar forças sobrenaturais e mostrar uma eficiência cirúrgica para vencer o grande rival por três gols de diferença. Estava de volta a busca pelo milagre, descortinado pela manifestação de fé e confiança da apaixonada Massa Atleticana nos gritos de "Eu acredito!", que novamente explodiam fortes no Mineirão.
Confesso que, por mais otimista, já não acreditava em outra virada histórica como aquela em que batemos o Corinthians de forma espetacular e inesquecível por 4 x 1, em uma das mais belas apresentações de um time atleticano na sua gloriosa história. Pensei: "isso é impossível de acontecer de novo. Talvez a gente consiga uma vitória por 2 x 0 e a decisão vá para os pênaltis, com aquele sofrimento todo que a gente já se acostumou". Pois bem, estava eu completamente equivocado, graças a Deus! Aconteceu de novo! E como esse Atlético me faz feliz!
Depois de perdermos algumas chances, levamos o castigo. Depois de mais uma bobeira na marcação, o atacante rubronegro Éverton conseguiu se safar entre três jogadores atleticanos e bateu cruzado para vencer o goleiraço Víctor e jogar por terra, momentaneamente, o sonho de chegar à inédita final da Copa do Brasil. Um balde de água fria. Não, gelada!
Com aquele gol, teríamos que fazer mais quatro, no mínimo. Tornara-se uma tarefa impossível, para tão pouco tempo. É, mas o Atlético tem o poder divino de causar transformações espantosas em momentos de dificuldades aparentemente insuperáveis. E o milagre se fez novamente! Primeiro, com o garoto Carlos, ainda aos 41 minutos do primeiro tempo. Era preciso, em apenas 45 minutos, marcar ainda mais três gols. E não tomar nenhum. Que complicação! Mas como disse brilhantemente o goleiro Víctor: "Emoção no Atlético não é opcional, é obrigatória".
E assim aconteceu. Aos 11 minutos, depois de ótima jogada de Luan, Maicosuel, até então sumido no jogo, tocou para marcar o segundo gol do Atlético e incendiar a Massa no estádio. A esperança renascia forte, vigorosa, emocionante. A força do "Eu acredito!" se fazia valer no interior do Mineirão.
Aos 35 minutos, Dátolo bate no cantinho do goleiro Paulo Víctor e faz mais um. Faltava só mais um, só mais um. E ele veio com o pequeno grande guerreiro Luan, que empurrou a bola para o fundo das redes flamenguistas, com um leve toque de perna direita. A loucura da emoção exacerbada invadiu o Mineirão, os lares e bares infestados de atleticanos pelo país. O impossível existe! O Atlético conseguiu mais uma proeza inacreditável! Esse time é demais, parece renascer das cinzas tal qual uma fênix. O Atlético conseguiu! Está na final da Copa do Brasil pela primeira vez.
Para então completar a felicidade e sentir um prazer especial, é ver os bairristas jornalistas cariocas e paulistas tendo que, a notório contragosto, ter que abrir as páginas dos seus jornais, os caros espaços dos seus programas esportivos na TV e na Internet para o nosso glorioso futebol mineiro, que é hoje, indubitavelmente, o melhor do país.
Agora é cada um torcer pelo seu time, gritar enlouquecidamente Galô ou Zêro, mas sempre com respeito, com harmonia, com muita paz e gentileza, pois somos humanos e livres para fazer as nossas escolhas na vida, sem preconceitos e sem a menor arrogância.
Um grande abraço espinosense e que o melhor vença.
ATLÉTICO 4 X 1 FLAMENGO
Motivo: Jogo de volta da semifinal da Copa do Brasil.
Local: Belo Horizonte (MG) - Estádio Mineirão.
Data: 5 de novembro de 2014.
Árbitro: Anderson Daronco (RS).
Assistentes: Marcelo Carvalho Van Gasse (Fifa/SP) e Kléber Lúcio Gil (Fifa/SC).
Cartões amarelos: Wallace, Cáceres, Éverton, Elton e Márcio Araújo (Flamengo); Víctor (Atlético).
Gols: Éverton aos 33' e Carlos aos 41' do primeiro tempo; Maicosuel aos 11', Dátolo aos 35' e Luan aos 40' do segundo tempo.
Pagantes: 41.352 espectadores.
Renda: R$ 4,6 milhões.
Atlético: Víctor, Marcos Rocha, Leonardo Silva, Jemerson e Douglas Santos; Josué (Leandro Donizete), Dátolo, Luan e Maicosuel (Marion); Diego Tardelli e Carlos (Dodô).
Técnico: Levir Culpi.
Flamengo: Paulo Víctor, Leonardo Moura, Chicão, Wallace e João Paulo; Cáceres, Márcio Araújo, Canteros e Éverton (Matheus); Nixon (Elton) e Eduardo da Silva.
Técnico: Vanderlei Luxemburgo.