Espinosa, meu éden

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sábado, 6 de janeiro de 2024

3373 - Morre o mestre Zagallo

O único desportista no planeta a ganhar por quatro vezes o título de Campeão Mundial de Seleções da FIFA, o jogador, treinador e coordenador técnico Mário Jorge Lobo Zagallo, morreu ontem, dia 5 de janeiro no Rio de Janeiro, sexta-feira, às 23h40. Ele tinha 92 anos de idade e estava internado desde o dia 26 de dezembro no Hospital Barra D'Or na capital fluminense. 
Zagallo foi, indiscutivelmente, um ícone do futebol brasileiro, desde o começo no juvenil do América, passando por Flamengo, época em que chegou à Seleção Brasileira, e posteriormente o Botafogo, sempre vitorioso. O iluminado alagoano de Maceió, nascido aos 9 de agosto de 1931, veio para o Rio de Janeiro com apenas oito meses de idade e ali construiu sua memorável história no esporte. Trabalhando como soldado do Exército na segurança da triste final da Copa do Mundo de 1950, viu de perto o Maracanazo que fez o guerreiro time do Uruguai vencer a poderosa equipe brasileira. 



Foi para o Flamengo e lá foi Campeão Carioca ao lado de Evaristo e Dida, chegando à Seleção Brasileira que encantou o mundo conquistando a Copa de 1958, jogando com os gênios Pelé e Garrincha. Foi para o Botafogo e também foi Campeão Carioca jogando com craques como Garrincha, Didi, Quarentinha e Amarildo. Continuou titular da Seleção Brasileira e conquistou em 1962 o segundo título mundial. Em 1965, com 299 partidas jogadas com a camisa da Estrela Solitária e 22 gols marcados, ele decidiu encerrar a carreira de atleta profissional de futebol aos 34 anos. Ali mesmo, no Botafogo, começou a carreira de treinador, ainda no juvenil. Dois anos depois, em 1967 era técnico da equipe principal e campeão estadual. Muitos outros títulos vieram, o mais importante o da Copa do Mundo do México em 1970, quando foi o líder daquela genial Seleção Brasileira que ganhou o Tricampeonato, colocando para jogar juntos na mesma equipe nada menos que cinco geniais "camisas 10": Pelé, Rivellino, Tostão, Jairzinho e Gérson". Treinou equipes estrangeiras na Ásia, inclusive seleções.



Zagallo viveu diversos momentos de glória e fracasso. A eliminação na Copa de 1974 para a Holanda e a derrota na final da Copa de 1998 para a França foram instantes terríveis, mas a alegria do seu quarto título em Copas do Mundo foi gigante ao ser campeão como coordenador técnico do treinador Carlos Alberto Parreira em 1994. O "Velho Lobo" conseguiu a proeza de chegar a sete finais de Copa do Mundo, ganhando quatro delas, duas como jogador, uma como treinador e outra como coordenador técnico. E está entre os três únicos esportistas que conquistaram a façanha de ser Campeão Mundial de Seleções como jogador e treinador (1958, 1962 e 1970), ao lado do alemão Franz Beckenbauer (1974 e 1990) e do francês Didier Deschamps (1998 e 2018).



Foram 91 taças levantadas como jogador, treinador e coordenador. Como jogador da Seleção, foram, entre 1958 e 1964, 34 jogos, 28 vitórias, 4 empates e apenas 2 derrotas, com 5 gols marcados. Neste período de atuação dentro do campo, foram nove títulos conquistados: 2 Copas do Mundo (1958 e 1962), 1 Copa Roca (1963), 1 Taça do Atlântico (1960), 2 Taças Bernardo O´Higgins (1959 e 1961) e 3 Taças Oswaldo Cruz (1958, 1961 e 1962).
Como treinador da Seleção Brasileira, foram quatro passagens: 1967, 1968, 1970 a 1974 e 1994 a 1998. Foram 135 jogos, 99 vitórias, 26 empates e apenas 10 derrotas, com seis títulos conquistados: 1 Copa do Mundo (1970), 1 Copa América (1997), 1 Copa das Confederações (1997), 1 Copa Roca (1971), 1 Copa Stanley Rous/Umbro (1995) e 1 Taça Independência (1972).
Como treinador da Seleção Olímpica, foram 19 partidas, com 14 vitórias, 3 empates e 2 derrotas, com um título conquistado, o Pré-Olímpico de 1996. Conquistou ainda a Medalha de Bronze nos Jogos Olímpicos de Atlanta (EUA) em 1996.
Como coordenador técnico da Seleção por duas vezes, 1991 a 1994 e 2003 a 2006, foram 103 jogos, com 59 vitórias, 29 empates e 15 derrotas, com três títulos ganhos: 1 Copa do Mundo (1994), 1 Copa América (2004) e 1 Copa das Confederações (2005). 


 
O amor e a identificação com a Seleção Brasileira era tão grande que Zagallo tornou-se um símbolo da "Amarelinha", como ele se referia a ela. Mesmo sendo um tanto ranzinza e arrogante, ele era querido e respeitado por quase todos, perto da unanimidade. Sob críticas ferozes de grande parte da imprensa, ficou famoso o seu desabafo diante das câmeras de TV logo após conquistar, como treinador da Seleção Brasileira, o título da Copa América na Bolívia em 1997: "Vocês vão ter que me engolir!". 
A sujeira da corrupção sistemática na CBF-Confederação Brasileira de Futebol parece não ter respingado em Zagallo, que sempre esteve em sintonia com os diversos presidentes da instituição, todos eles afastados e acusados do cometimento de crimes na administração da instituição. E a coisa não muda nunca, pois o atual presidente Ednaldo esteve afastado há pouco por suspeita de ilegalidades.
Não há como não exaltar a importância, a dedicação, a qualidade do trabalho e as muitas conquistas de Zagallo, o obstinado amante do futebol, aficionado pelo número 13, que deixa registrada na história do esporte mundial uma marca indelével e difícil de superar. Só nos resta agradecer e respeitar o legado de uma das figuras mais extraordinárias do futebol. 
Descanse em paz, Campeão Mário Jorge Lobo Zagallo!  
Um grande abraço espinosense.