Foram três temporadas, 1.017 dias e 107 jogos, amargando uma angústia de estar disputando não a elite do futebol brasileiro, seu lugar de direito, mas a temida segunda divisão, situação esta que a torcida cruzeirense nunca imaginava vivenciar com sua equipe vencedora de tantas competições ao longo dos seus 101 anos de existência. Mas o pesadelo real, traumático e desanimador foi-se embora na noite da última quarta-feira, quando pela 32ª rodada do Campeonato Brasileiro da Série B, o Cruzeiro goleou o carioca Vasco da Gama no Mineirão por 3 x 0, com gols marcados por Filipe Machado, Edu e Luvannor. Com a vitória presenciada por uma torcida empolgada com o feito no Gigante da Pampulha, o Cruzeiro conseguiu alcançar a pontuação de 68 pontos, o que matematicamente lhe garante a ascensão sem depender de nenhum outro resultado. A conquista do título da Série B também é praticamente certa, dada a distância para o segundo colocado na tabela de classificação, atualmente o Grêmio, um abismo de 15 pontos.
A história do rebaixamento do Cruzeiro para a segunda divisão começou com a incrível bagunça na administração do clube durante alguns anos, culminando no efetivo descenso no dia 8 de dezembro de 2019, na derrota por 2 x 0 para o Palmeiras na 38ª e última rodada do Brasileirão, em pleno Mineirão de tantas glórias conquistadas. Com dívidas impagáveis, perda de pontos e uma folha salarial milionária que teve que ser revista, a debandada dos grandes nomes do elenco se tornou inevitável. Com enormes dificuldades financeiras, a montagem de uma equipe competitiva foi se tornando complicado, até que apareceu o milionário ex-jogador Ronaldo Nazário para comprar o clube e dar uma ponta de esperança à apaixonada torcida celeste. Causava desconforto na torcida o fato de o Cruzeiro ser o primeiro time considerado grande que não retornava à elite logo no primeiro ano após a queda. Nem os famosos treinadores Vanderlei Luxemburgo e Felipão tiveram êxito com a equipe. Sob pesados cortes de despesas, salários atrasados, dificuldade de pagar contas básicas como água, luz e telefone, dispensa de ídolos como Fábio e aposta em atletas jovens e desconhecidos, a SAF-Sociedade Anônima do Futebol recém criada, apostou no simples e na reformulação total do clube, com uma política de pés no chão sem loucuras, e o resultado se fez vitorioso nesta temporada de 2022, após três longos e desgastantes anos de espera.
O pesadelo terminou agora, no dia 21 de setembro de 2022, com o retorno tão esperado pela torcida. Um dos principais responsáveis por tão importante triunfo é o jovem treinador uruguaio Paulo Pezzolano. Até a 31ª rodada, o clube da Toca da Raposa venceu 20 partidas, empatou oito e perdeu apenas três (Bahia, 2 x 0, Vasco, 1 x 0 e Guarani, 1 x 0) marcando 44 gols, sofrendo 16, com saldo de 28 e um aproveitamento incrível de 73%. Foram 68 pontos conquistados, o que lhe garantiu a ascensão antecipada O time conquistou a façanha de ter o acesso mais rápido da história da segunda divisão, ainda com sete rodadas a serem realizadas, um jogo a mais que Corinthians (em 2008), Palmeiras (em 2013) e Portuguesa (em 2011). Uma outra conquista, desta vez fora de campo, é a excelente média de público, com 40.002 torcedores por jogo. Nacionalmente, só perde para as duas maiores torcidas do país, Flamengo e Corinthians. O time está invicto em casa em 16 jogos disputados, com 14 vitórias e 2 empates, um aproveitamento de 91,6%.
CRUZEIRO 3 X 0 VASCO
MOTIVO: 31ª rodada do Brasileirão da Série B
LOCAL: Estádio Mineirão, Belo Horizonte (MG)
ARBITRAGEM: Flávio Rodrigues de Souza (SP), assistentes Alex Ang Ribeiro e Gustavo Rodrigues de Oliveira, quarto árbitro Wanderson Alves de Sousa, e VAR Rodrigo Guarizo Ferreira do Amaral
PÚBLICO: 59.204 torcedores
RENDA: R$ 2.974.486,00
CARTÕES AMARELOS: Kaiki e Stênio (Cruzeiro); Paulo Victor e Yuri Lara (Vasco)
GOLS: Filipe Machado (24 min. 1º tempo), Edu (14 min. 2º tempo) e Luvannor (40 min. 2º tempo)
CRUZEIRO: Rafael Cabral; Zé Ivaldo, Oliveira e Eduardo Brock; Kaiki (Marquinhos Cipriano), Felipe Machado, Neto Moura (Willian Oliveira) e Bruno Rodrigues; Stênio (Wesley Gasolina), Edu (Luvannor) e Lincoln (Daniel Júnior)
Técnico: Paulo Pezzolano
VASCO: Thiago Rodrigues; Léo Matos (Gabriel Pec), Danilo Boza, Anderson Conceição e Paulo Victor (Edimar); Yuri Lara, Andrey Santos, Marlon Gomes (Fábio Gomes) e Nenê (Alex Teixeira); Eguinaldo e Raniel (Figueiredo)
Técnico: Jorginho
É óbvio que o Cruzeiro será obrigado a reformular boa parte do seu elenco atual, já que o nível de exigência da Série A é completamente diferente. Mas a esperança do proprietário do clube, Ronaldo, é o garantido incremento de valores, calculado em cerca de 400%, nas cotas das competições e patrocínios que deverão ser conquistados. Então a torcida cruzeirense deve comemorar muito mesmo o retorno à elite do futebol brasileiro, com possibilidades de voltar a brigar por títulos, se não nos primeiros anos de volta, certamente em um cenário de médio prazo.
Parabéns aos cruzeirenses e boa sorte na sua recuperação econômica e esportiva! Ter os três grandes clubes mineiros na elite do futebol brasileiro é gratificante e saudável para todo mundo.
Um grande abraço espinosense e atleticano.
