Espinosa, meu éden

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quarta-feira, 17 de setembro de 2025

3856 - Ouro Preto, Patrimônio Cultural da Humanidade

A descoberta de um imenso tesouro aurífero nas montanhas do centro do Brasil atraiu a atenção de bastante gente que almejava enriquecer ou se tornar ainda mais argentária. Era o final da década de 1690 quando bandeirantes paulistas liderados por Antônio Dias de Oliveira, pelo Padre João de Faria Fialho e pelo Coronel Tomás Lopes de Camargo, descobriram jazidas de ouro em abundância na região, logo transformando o lugar em um polo de riqueza e pompa no período colonial. O dia 24 de junho de 1698 foi a data definida para a fundação do arraial na região. Chamado inicialmente de Arraial do Padre Faria, o local foi elevado à categoria de vila em 8 de julho de 1711 com o nome de Vila Rica. 
No final do século XVIII, por volta de 1788, a elite socioeconômica mineira, revoltada com a política fiscal da Coroa portuguesa, resolveu tramar uma conjuração no intuito de decretar a independência de Minas Gerais e fazer cessar a pesada cobrança de impostos. Com a denúncia do traidor Joaquim Silvério dos Reis, os principais líderes do movimento foram condenados e apenas um, o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, exatamente o menos poderoso economicamente da turma, foi enforcado e esquartejado no Rio de Janeiro no dia 21 de abril de 1792, tendo partes do seu corpo deixados em locais da estrada chamada "Caminho Novo", que ligava o Rio de Janeiro a Minas Gerais. A cabeça decepada de Tiradentes ficou por algum tempo, até desaparecer misteriosamente, em exposição na praça central da antiga Vila Rica, atualmente a Praça Tiradentes em Ouro Preto, para desestimular a população de novas conspirações.




Em 20 de março de 1823, a antiga Vila Rica recebeu o título de Cidade Imperial dado por Dom Pedro I e foi elevada à condição de cidade, agora com o nome de Ouro Preto, em razão da enorme riqueza que corria pela vila, que tornou o lugar um dos maiores, mais populosos e mais importantes centros econômicos da época no país, nome escolhido devido ao aspecto escuro provocado pelo óxido de ferro que cobria o brilho do ouro abundante retirado das muitas minas existentes na área.
Com o passar do tempo, Ouro Preto perdeu muito do seu poderio econômico e da sua população, com a diminuição da extração do ouro das minas. Por conta do seu terreno acidentado, entre montanhas, sem condições adequadas de crescimento físico urbano, veio a decisão governamental de transferir a capital das Minas Gerais para um local mais adequado e planejado. No ano de 1897, dia 12 de dezembro, Ouro Preto perdia o status de capital para o antigo Curral del-Rei, que viria se tornar Belo Horizonte em 11 de agosto de 1901. No ano de 1933, através de decreto do presidente Getúlio Vargas, Ouro Preto se tornou Monumento Nacional. A partir de 1938, o seu Centro Histórico passou a ser tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Em 5 de setembro de 1980, uma vitória consagradora para a população ouro-pretana. Em sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO, realizada em Paris, França, a cidade de Ouro Preto foi declarada Patrimônio Cultural da Humanidade.



 
Dois símbolos de Ouro Preto são pouco conhecidos nacionalmente, acredito. A bandeira da cidade apresenta duas partes, um lado na cor preta representando o óxido de ferro que cobria as pepitas, e outro na cor amarelo-ouro, representando as riquezas e o ouro em abundância encontrado na região. No centro, um triângulo na cor verde representa a esperança, as matas e as florestas. Ao redor do triângulo, semelhante à bandeira de Minas, aparece uma inscrição em latim. Inicialmente havia a inscrição "Proetiosum Tamen Nigrum" ("Precioso, Embora Negro"), que, por seu significado racista, foi substituída em 2005 pela "Proetiosum Aurum Nigrum" (Precioso Ouro Negro).  




HINO A OURO PRETO
Letra: Carlos Veloso
Música: Augusto Correa Magalhães

Em cada aresta de pedra
Uma epopeia ressoa
Na terra formosa e boa
Onde a guilheta não medra

A terra, que um cento de anos
Três vezes viu passar
Possui, dos ouro-pretanos
Em cada peito um altar (bis)

A névoa que cobre a rocha
Do mais brando e puro véu
Quando a manhã desabrocha
É um beijo que vem do céu

Os fatos de Vila Rica
Lembram raças titãs
Cuja memória nos fica
Para os mais nobres afãs

Guarda o seio das montanhas
Os áureos filões mais ricos
Contempla os altos picos
Das laceradas entranhas

Protege, Deus, estes lares
Dos filhos dos bandeirantes
Por estas serras gigantes
São outros tantos altares




Localizada a 95 quilômetros de Belo Horizonte, Ouro Preto tem um clima bastante inconstante, com tempos chuvosos e ensolarados ocorrendo quase sempre em sequência, com temperaturas bem baixas durante o ano, muito por conta da sua altitude de 1.150 metros e sua localização em meio às montanhas, com seu ponto mais alto sendo o Pico do Itacolomi, com seus 1.772 metros. Sua população em 2022, conforme o IBGE, era de 74.821 habitantes. 
Saiu na imprensa há pouco a boa notícia de que "Minas Gerais foi contemplada com mais de 40 ações do Novo PAC, com aproximadamente R$ 236 milhões voltados à preservação do patrimônio cultural no estado. Desse total, Ouro Preto receberá mais de R$ 32 milhões, destinados a 12 iniciativas de restauração e requalificação. Esse valor será destinado a requalificação urbanística do entorno da Capela do Padre Faria, a restauração de capelas como Santana, São João, São Sebastião e Nossa Senhora da Piedade, além da recuperação de igrejas de grande valor histórico e artístico, como a de São Francisco de Assis, a de São Francisco de Paula, a de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e a Basílica de Bom Jesus de Matosinhos, incluindo seus elementos artísticos. Também estão programados trabalhos de restauro dos sinos históricos da cidade".




A linda e exuberante cidade dos ouro-pretanos atrai milhões de turistas do mundo inteiro que se encantam não só com suas igrejas belíssimas, seus chafarizes, seus museus, seus prédios históricos, suas construções de beleza singular, suas ruas de pedra, seus tesouros barrocos dos mestres Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e Manoel da Costa Ataíde, o Mestre Ataíde, sua gastronomia, mas também com as maravilhas naturais do seu território que conta com 12 distritos, cada um com suas atrações: Amarantina (a 25 km), Antônio Pereira (a 16 km), Cachoeira do Campo (a 18 km), Engenheiro Corrêa (a 35 km), Glaura (a 26 km), Lavras Novas (a 13 km), Miguel Burnier (a 40 km), Rodrigo Silva (a 18 km), Santa Rita de Ouro Preto (a 30 km), Santo Antônio do Leite (a 25 km), Santo Antônio do Salto (a 35 km) e São Bartolomeu (a 16 km).




Ouro Preto é linda! Um lugar impressionante, com um nível elevado de preservação dos seus casarões e igrejas, da sua memória social e econômica, uma verdadeira e prazerosa viagem a um tempo bem distante da outrora situação de colônia portuguesa, uma era de absurda riqueza transformada pelo ouro abundante no solo. É uma imersão aprazível num tempo de séculos atrás em que nossa história foi escrita, inclusive com a tragédia violenta do assassinato de um dos atuais heróis da Pátria, Tiradentes. Pena que toda esta riqueza, toda esta exuberância exposta no luxo dos casarões e igrejas seculares, tenha sido construída sob a tortura, o suor e a dor dos nossos irmãos africanos escravizados e tão ultrajados, humilhados e açoitados pelos poderosos de então, uma mancha impagável na nossa história.
Um passeio atento, tranquilo e descompromissado pela ruas e vielas de Ouro Preto, observando meticulosamente todos os detalhes do cativante cenário, é uma experiência transcendental que nos transporta, aos que amam Cultura e História, a um estado de contemplação e imersão em um mundo totalmente distinto e formidável, ao nos deparar com tantos tesouros nas fachadas dos casarões, nos itens dos museus e, especialmente, nos interiores das belíssimas igrejas. Imperdível! E inesquecível!  
Um grande abraço espinosense.