A história não é inédita, o que não diminui em nada o tamanho da sua beleza. Todos aqueles que tem a sensibilidade de demonstrar amor por um animal sabe do sentimento de felicidade e da alegria que é receber de volta uma resposta amigável, leal e carinhosa.
Uma dessas muitas histórias que acontecem por todo o mundo, foi retratada no filme de 2009, "Sempre ao Seu Lado" ("Hachiko: A Dog's Story"), com roteiro baseado em uma história real de um cão japonês chamado Hachiko. O filme é um refilmagem do original japonês, de 1987, "Hachiko Monogatari". Dirigido por Lasse Hallström, escrito por Stephen P. Lindsey e estrelado por Richard Gere, Joan Allen e Sarah Roemer, o drama conta a história de um cãozinho da raça Akita, encontrado perdido na estação de trem de uma cidade americana, que é adotado pelo professor universitário Parker Wilson. Em sua ida e volta diária ao trabalho, o cãozinho sempre está presente na estação à sua espera. Até que a morte repentina de Wilson os separa, causando uma tristeza visceral no animal, que passa a esperá-lo todos os dias na estação de trem, em uma demonstração de amor incondicional.
Coisa parecida aconteceu há poucos dias em Espinosa, registrada com extrema sensibilidade e felicidade pela professora Júnia Tanúsia Antunes Meira (Nusa), em texto e fotos que publico para o conhecimento de vocês.
Luizão, personagem famoso na Rua da Resina, foi covardemente agredido recentemente em sua residência por um viciado à procura de dinheiro para comprar drogas. Tamanha foi a violência da agressão que ele teve que ser internado no hospital. Durante o seu afastamento, uma cadelinha ficou por dias parada na rua, em frente à sua janela, à sua espera, fato percebido e documentado por Nusa, conforme o seu relato a seguir.
Táquio, quero lhe contar uma história curta, porém cheia de sensibilidade. Como sei do seu amor às suas origens, acredito que vai lhe emocionar.
Lu, nosso irmão de rua, de amizade e de coração (seu tio Luizão), tem muitos amigos. E não é de admirar, quando passo à frente da sua janela todos os dias, deparo-me com estes assíduos prosadores. Mas faz ponto também debaixo da sua conhecida janela, inquietos pardais, cães solitários e gatos manhosos acostumados à farra matinal.
Certo é que, não é de hoje, todos os dias de manhãzinha, uma cadela solitária vem receber um afago do amigo Luizão. E se inicia o ritual: abre-se a janela; um amigo aparece para fazer a alegria de um outro amigo. Com certeza o carinho oferecido é mais saboroso do pão que lhe vem à boca.
Mas, por tristeza do destino e da solitária amiga, a janela não mais se abre. O amigo-homem não aparece. Dia após dia ele não vem. E na espera incansável, com um semblante turvo e triste, a melancólica companheira das manhãs ensolaradas fica debaixo da janela. Ao raiar do dia, lá está ela... sozinha e ansiosa, à espera de que a janela se abra. É incrível a profundeza do olhar cravado na janela fechada. É humano, é bonito.
E após longa espera de silêncio, imóvel, cabisbaixa, a amiga se vai. Todos os dias é a mesma coisa. Talvez seja mais um cão de rua, encolhido no chão... insignificante para quem passa... sarnento... sujo... vadio. Mas, ali, naquele lugar, é amiga, é esperança, é carinho, é lembrança... é saudade.
Lembro-me do poema de Cecília Meireles dizendo: "Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim".
Ontem, não contive a emoção de vê-la ali, dia após dia: eternizei o momento e envio a você. A imagem fala por si.
Júnia Meira
O meu agradecimento especial à minha amiga Nusa, vizinha da minha eterna Rua da Resina, pela mensagem e fotografias. Que saibamos aprender com o exemplo destes animais leais e companheiros.
Um grande abraço espinosense.