Véi, cê besta, já posso morrer em paz e com muitos sonhos realizados, com toda a gratidão ao Todo Poderoso! Trem bão dimais, sô!
Você deve estar se perguntando, cadiquê estou tão garrado na alegria assim? É que tive o privilégio de estar presente no Gigante da Pampulha, o Mineirão onde meu Galo construiu uma história gloriosa, na noite da última quarta-feira, dia 8 de novembro de 2023, para assistir ao show do cantor, compositor e músico inglês George Roger Waters. O evento fez parte da longa turnê de despedida dos palcos do ex-líder da mítica e idolatrada banda Pink Floyd, denominada "This Is Not a Drill" ("Isto Não É Um Treinamento"). A turnê mundial que passou por 75 cidades dos Estados Unidos, Europa e América do Sul, iniciou-se em 6 de julho de 2022 na cidade de Pittsburgh (EUA), no PPG Paints Arena, e se encerrará no Estádio Olímpico Atahualpa, em Quito, no Equador, no dia 9 de dezembro de 2023.
O artista britânico completou seus 80 anos de vida em 6 de setembro e mesmo abandonando os palcos e as gigantescas turnês, promete ainda continuar fazendo música e defendendo com energia e convicção os seus elogiáveis ideais políticos e humanitários. Por não temer e nem se omitir em externar sua repulsa contra as guerras, a violência gratuita, o ódio inadmissível e os governantes totalitários, seja nas letras das suas canções ou nas suas atitudes perante o mundo, o cantor sofre críticas raivosas e até tentativas de boicote, infrutíferas felizmente, como aconteceu nas suas apresentações no Brasil anos atrás. Por ter perdido o pai em combate na II Guerra Mundial quando era ainda uma criança, o artista sempre lutou contra a opressão, a insanidade dos beligerantes, a violência insensata, a intolerância dos extremistas e a hipocrisia e truculência dos ditadores. No Brasil, alguns fãs do Pink Floyd se voltaram contra ele, descobrindo com milhões de anos-luz de atraso, coitados, o conteúdo político explícito das suas canções fortes, poderosas, agudas e contestadoras.
Músicos da turnê:
Roger Waters – vocals, acoustic guitar, electric guitar, piano, bass guitar
Jon Carin – keyboards, guitar, pedal steel guitar, backing vocals, marxophone
Dave Kilminster – guitar, backing vocals
Jonathan Wilson – guitar, backing vocals, lead vocals on "Money" and "Us and Them"
Gus Seyffert – bass guitar, guitar, backing vocals, accordion
Joey Waronker – drums, percussion
Amanda Belair – vocals, percussion
Shanay Johnson – vocals, percussion
Robert Walter – Hammond B3 organ, keyboards, piano, melodica
Seamus Blake - saxophone, clarinet
O show foi realmente algo extraordinário para os nossos sentidos, uma obra-prima de sons, cores, imagens e discursos afiados que nos levou a um estado de êxtase deleitoso. Um espetáculo de altíssima qualidade, com tudo perfeitamente sincronizado e um som impecável, límpido, potente, perfeito, além de atuações de excelência dos músicos, especialmente do saxofonista Seamus Blake e das backing vocals Amanda Belair e Shanay Johnson.
Em plena noite de quarta-feira, mais de 60 mil apaixonados por Roger Waters e pelo Pink Floyd saíram de casa, pagaram caro e foram viver a sensação única de assistir a uma apresentação memorável. Logo de cara, um pequeno atraso de cerca de 15 minutos do horário marcado de início da apresentação às 21h. Ninguém reclamou. Aí apareceu a direta e hilária mensagem dita em Inglês com transcrição em Português na gigantesca tela do palco, avisando aos radicais antidemocráticos, das firmes e permanentes posições políticas do artista na defesa da Natureza e contra quaisquer desrespeitos aos direitos humanos, perseguições políticas, ataques à Liberdade, guerras, violências, ódios e injustiças. Quem não concordasse, que se mandasse pro bar. O recado não poderia ser mais explícito aos manés: "Se você é um daqueles que diz: eu amo o Pink Floyd, mas não suporto a política do Roger, você pode muito bem se retirar para o bar agora". E pronto, começou uma explosão de luzes, cores e sons impecáveis com clássicos do Pink Floyd, começando com a música "Comfortably Numb", numa versão menos linda que a original gravada pela banda, mas ainda assim especial. E adiante vieram outras canções dos álbuns "The Wall", "The Dark Side of The Moon" e "Animals", além de algumas composições da carreira solo. Não faltaram os bonecos gigantes da ovelha e do porco passeando nos ares acima da plateia na pista nem a bela homenagem ao amigo e fundador do Pink Floyd, Roger Keith "Syd" Barrett. Foram duas horas e meia de um espetáculo maravilhoso que quase fez enlouquecer de alegria um jovem rapaz postado à nossa frente, que se mostrava encantado, agitado e extasiado com o que via diante dos seus olhos. E encantamento parecido se deu com outros milhares de fãs já na terceira idade e também muitos jovens com suas camisetas do Roger, do Pink Floyd e de outras bandas de Rock. Coisa linda de se ver!
As músicas do show:
Set 1:
1) Comfortably Numb
2) The Happiest Days of Our Lives
3) Another Brick in the Wall, Part 2
4) Another Brick in the Wall, Part 3
5) The Powers That Be
6) The Bravery of Being Out of Range
7) The Bar
8) Have a Cigar
9) Wish You Were Here
10) Shine On You Crazy Diamond (Parts VI-IX)
11) Sheep
Set 2:
12) In the Flesh
13) Run Like Hell
14) Déjà vu
15) Déjà vu (Reprise)
16) Is This the Life We Really Want?
17) Money
18) Us and Them
19) Any Colour You Like
20) Brain Damage
21) Eclipse
22) Two Suns in the Sunset
23) The Bar (Reprise)
24) Outside the Wall
A prova de que o mundo é pequeno mais um vez se tornou palpável diante de mim. Depois de me posicionar em uma fileira de cadeiras bem distante, mas com visão ampla e completa do palco onde os astros iriam se apresentar, eis que descobrimos, eu e minha esposa Cléa, uma representante do Norte de Minas em BH. Sentados na fileira à nossa frente, estavam um casal e sua jovem filha linda, simpática e gentil, a Laura. Em um bate-papo descontraído com a mãe, descobrimos se tratar de uma filha de Monte Azul, professora que há algum bom tempo reside na capital mineira, a cruzeirense Carine, ou Karine, sei lá. O esposo, Fernando, atleticano apaixonado, trabalha prestando serviços rodoviários ao Clube Atlético Mineiro. A filha, a Laura, faz universidade de Medicina. Conversa vai, conversa vem, descobrimos com imensa alegria que a Carine (ou Karine) é sobrinha da esposa do meu amigo e ex-companheiro de BB, Hermann Teixeira, o grande Maionese, com quem tive o prazer e o privilégio de trabalhar em Monte Azul nos incríveis e agitados anos 80. Um encontro inesperado e altamente gratificante. Até tiramos uma foto juntos, mas ela não nos passou a imagem, o que me impede de mostrá-la aqui, infelizmente.
Como tudo na vida, em que há o lado bom mas também o lado ruim das coisas, eis que a ganância capitalista esteve presente na noite belo-horizontina. Dentro do estádio, apenas uma marca de cerveja, a Amstel. E não pude evitar de ser assaltado vergonhosamente, voluntariamente, sem violência e com segurança, mas escandalosamente assaltado. Uma latinha de cerveja Amstel, que custa menos de R$ 4,00 no supermercado, era vendida pelo absurdo valor de R$ 18,00! Como não sou rico nem trouxa, tomei apenas uma latinha, para molhar a garganta e animar o espírito. Mas não escapei de ser assaltado novamente na saída do show. Desta vez por um taxista, que nos cobrou a bagatela de R$ 120,00, por uma corrida que normalmente custa cerca de R$ 50,00, para nos levar de volta ao hotel no Centro. Era pegar ou largar, já que estávamos ansiosos para conseguir uma condução que nos tirasse daquela maluca confusão do trânsito já tarde da noite após o encerramento do evento. É a tal da Lei da Oferta e da Procura que rege a Economia. Resolvi aceitar a proposta do desonesto, ganancioso e rabugento taxista já que o cenário poderia ficar pior, com a gente tendo que esperar ali na avenida horas e horas por um outro táxi ou carro de aplicativo, sob o risco de ser assaltado da maneira mais comum por um ladrão profissional e com prejuízo bem maior. No final das contas, chegamos bem, aliviados e felizes no hotel, somente com o bolso um tanto desfalcado de uma boa grana. Faz parte!
Como Deus foi generoso comigo! Permitiu a um modesto espinosense da Rua da Resina usufruir do privilégio de assistir ao vivo, a cores e sem censura, a apresentações memoráveis de um Beatle, Paul McCartney, e de um Pink Floyd, Roger Waters. E se Ele ainda me permitir, ainda quero ver e sentir a música do U2, do Pearl Jam e do Chico Buarque de Hollanda, entre tantos outros que ainda não pude curtir presencialmente. Mas já me sinto realizado por ter experimentado a saborosa sensação de visualizar e ouvir bem pertinho alguns dos meus grandes ídolos da música, casos de Waters, McCartney, Belchior, Gal Costa, Zé Ramalho, Zeca Baleiro, Chico César, Raimundo Fagner, Alceu Valença, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Beto Guedes, Erasmo Carlos, Capital Inicial, Skank, Guilherme Arantes, Nando Reis, Djavan, Vander Lee.
Que o benevolente Deus dos Céus possa ainda me presentear com mais momentos marcantes, prazerosos e inesquecíveis com os meus artistas favoritos! Que assim seja! E se não der, nenhum problema. Já valeu demais a minha felicidade pelos sonhos materializados e tornados reais.
Um grande abraço espinosense.