Estava hoje, como sempre, usando freneticamente o controle remoto da televisão à procura de um canal que mostrasse alguma coisa interessante e fui premiado com a apresentação, no canal VH1, de um show de uma banda ainda desconhecida para mim, a Death Cab for Cutie. A empatia foi instantânea. Assim funciona a música comigo, é um caso de amor à primeira vista. Fui fisgado imediatamente pela música simples, melodiosa e serena da banda e pelo carisma, talento e humildade do seu líder e vocalista, Benjamin Gibbard. Assisti o show (e a entrevista com o líder da banda) até o fim e logo estava na Internet à procura de maiores informações sobre o trabalho do grupo. Não poderia deixar de compartilhar com vocês esta minha agradável descoberta. Vamos conhecer um pouco da obra e da história do Death Cab for Cutie. Espero que vocês gostem tanto quanto eu.
Death Cab for Cutie é uma banda estado-unidense de indie-rock que começou como um projeto-solo de Ben Gibbard. Como Death Cab For Cutie, ele lançou um cassete, chamado "You Can Play These Songs with Chords", produzido pelo próprio, com algumas canções, que resultaria no primeiro disco da banda, que seria relançado oficialmente no mercado em 2002.
Gibbard, hoje frontman, compositor e guitarrista do grupo, ficou surpreso com o sucesso repentino de "You Can Play..." e decidiu montar uma banda de verdade. Ele chamou Chris Walla, que também havia ajudado na produção do cassete, para tocar guitarra; Nick Harmer para o baixo e Nathan Good para a bateria.
O Death Cab For Cutie (nome de uma faixa do álbum Gorilla, 1967, da banda Bonzo Dog Doo-Dah Band) foi formado em 1997, em Bellingham, Washington, Estados Unidos.
Assim, o DCFC foi formado na Western Washington University, onde seus membros estudavam – o próprio Gibbard, estudante de engenharia na época, usava o porão da casa em que morava com diversos colegas para gravar as demos da banda. Essa ligação com Bellingham explica o porquê de várias letras do início da carreira apresentarem referências a diferentes locais da cidade.
Com essa formação lançaram o LP "Something About Airplanes" no verão de 1998. O álbum ganhou críticas positivas no cenário indie, e em 2000 foi lançado o álbum posterior: "We Have the Facts and We're Voting Yes". Natham Good deixou a banda durante a gravação deste, mas as suas participações nas faixas "The Employment Pages" e "Company Calls Epilogue" foram mantidas. Gibbard tocou todas as outras canções. O novo baterista, Michael Schorr, só apareceria no "The Forbidden Love EP", lançado no outono de 2000. Em 2001, a banda lançou "The Photo Album" e, algum tempo depois, o DCFC, mais uma vez, trocou de baterista: Schorr saiu de cena para dar lugar a Jason Jason McGerr, professor de uma escola de música de Seattle e membro do Eureka Farm. McGerr foi o responsável pelas baquetas da obra-prima do grupo, "Transatlanticism" (2003), álbum que lançou o DCFC aos braços do mainstream. Faixas do disco fizeram parte da trilha sonora de seriados como The O.C., CSI: Miami, Six Feet Under e Californication, além de filmes de grande alcance popular – como Penetras Bons de Bico (2005).
O segundo passo para a saída do mundo indie se deu com a assinatura de um contrato com a Atlantic Records, depois de uma carreira inteira lançando discos pela Barsuk. A nova situação deixou a banda tensa – afinal, agora havia pressão corporativa sobre os ombros dos membros do DCFC – e, assustados, Gibbard e companhia incentivaram seus fãs a baixarem suas músicas da internet.
O ano de 2005 chegou e o primeiro trabalho da banda por uma grande gravadora foi lançado. O sucesso dos dois primeiros singles de "Plans", “Soul Meets Body” e “Crooked Teeth” garantiram ao DCFC uma participação no Saturday Night Live, uma indicação ao Grammy Award de “Melhor Disco Alternativo” de 2005 e 47 semanas consecutivas na lista da Billboard.
Com os terrenos do mainstream dominados, a banda caiu de vez no gosto do mercado e começou a aparecer cada vez mais na mídia. Lançou dois DVDs, "Drive Well, Sleep Carefully" (2005) e "Directions" (2006), este um conjunto de onze curtas-metragens inspirados nas faixas de "Plans" e dirigidos por diferentes profissionais do cinema; assinou contrato com a Apple para vender seus vídeos em formato para iPod; aderiu à causa dos direitos dos animais ao associar-se com o PETA e começou a participar de grandes festivais – como o Bridge School Benefit, organizado por Neil Young. Gibbard ainda lançou um projeto eletrônico com Jimmy Tamborello, o ótimo The Postal Service, que lançou o disco "Give Up" (com o hit “Such Great Heights”) em 2003.
Em 2008 eles lançaram o disco "Narrow Stairs". Certamente um dos discos mais esperados do ano, “Narrow Stairs” apresenta mais uma vez um Death Cab for Cutie repaginado aos seus admiradores. No anterior "Plans" (2005), a banda liderada pelo cantor e guitarrista Benjamin Gibbard deixava as guitarras de lado e embalava uma sequência de músicas doces como “Soul Meets Body”, “Summer Skin” e “Your Heart Is An Empty Room”. Não sobram dúvidas de que “Narrow Stairs” é mais difícil de digerir que “Plans”. A começar pelo carro-chefe do álbum, o quilométrico single “I Will Possess Your Heart”. O “ba da ba ba” de “Soul Meets Body”, de 2005, antagoniza com a introdução de mais de 4 minutos de “I Will Possess…” e mostra o primeiro ponto positivo do sétimo álbum da banda de Seattle: o Death Cab for Cutie não escolheu o caminho mais fácil neste trabalho. A potente introdução do baixo, seguida de uma guitarra que parece perseguir uma sonoridade nunca buscada antes acompanham a já clássica linha de piano, marca registrada do Death Cab for Cutie. A letra tem um desespero aparente já na introdução da música. É uma nova banda em um novo álbum. Ao contrário de "Plans" que destacava pianos e órgãos, as guitarras ganham mais espaço em “Narrow Stairs”. Prova disso são “No Sunlight” (uma anomalia desse disco, candidata a “hit”), “Long Division” e “Talking Bird” (depressivamente bela). Uma experimentação ou outra são buscadas em “You Can Do Better Than Me” (uma homenagem ao ”Pet Sounds”, dos Beach Boys) e “Pity and Fear” (uma sítara indiana dá o tom da música). Quem busca o gosto doce deixado por “Plans” fique com a dobradinha “Grapevine Fires” e “Your New Twin Sized Bed”. Entretanto, o título de melhor faixa do álbum sobra para “Cath…”, a que mais remete os fãs da banda aos tempos “indie” do Death Cab, como mostrava o disco "Photo Álbum" (2000). A garota do título leva Gibbard a escrever onde parece se sentir melhor e mais confiante: no campo dos relacionamentos. O próprio vocalista já admitiu que perdeu garotas para a música, esta, objeto de sua paixão na vida.
E para fechar “Narrow Stairs” confirmando a mudança de sonoridade citada anteriormente, “The Ice is Getting Thinner” é anti-balada que não lembra nem um pouco a suavidade de “A Lack of Color” do álbum “Transatlanticism” e o refrão “cantem comigo” de “I Will Follow You Into The Dark”. Diz a letra: “We’re not the same, dear, as we used to be. The seasons have changed and so have we” (Nós não somos os mesmos, querida, como éramos antes. As estações mudaram e nós também). O trecho que inicia o ato final deste ótimo “Narrow Stairs” pode ser utilizado como um resumo para quem ainda não o escutou.
A banda que conquistou os corações indie mundo afora com canções lindas e a voz doce de Ben Gibbard, já tem mais de treze anos de carreira. O legal do Death Cab for Cutie é que eles têm o dom de soar sempre a mesma banda e se manter fiéis à sua própria identidade sem ser repetitivos.
Em 2011, lançaram "Codes and Keys". Neste recém-lançado "Codes And Keys", há um frescor muito gratificante em todas as canções, embora você comece a ouvir cada uma e, 5 segundos depois, chegue àquela conclusão de que “isso só podia ser Death Cab For Cutie” ou “nossa, isso é mesmo a cara deles”. E isso sem que essa reação seja ruim ou reflita alguma previsibilidade. Não dá pra ser previsível. Mas dá pra ser autêntico. E isso o Death Cab é, e muito. É engraçado você ouvir as novas (e excelentes!!!) "Some Boys", "Stay Young Go Dancing", "You Are a Tourist" e perceber que elas teriam tudo pra ser do "Transatlanticism" ou do "Narrow Stairs", mas que ao mesmo tempo elas só poderiam ser do disco novo, só porque (e que bom!) elas trazem um tempero novo para um prato que já foi servido antes. E é essa diferença que faz de cada álbum deles uma experiência nova, e não a repetição da mesma receita. E é por isso que eles são uma grande banda.
"Portable Television", por exemplo, à primeira audição, não soa em nada como uma música que teria a cara deles, mas à medida que você vai cavando as camadas da faixa, você percebe que todos os maneirismos deles estão lá presentes. Como acontece em "I Will Possess Your Heart", do fantástico "Narrow Stairs", os instrumentos trabalham em função da melodia, e de uma forma diferente do que geralmente acontece em música pop. Aqui, o piano é uma extensão da melodia, e não um tapete harmônico para que ela desfile em cima. O mesmo acontece com quase todo o trabalho de guitarras do disco. Ao invés de riffs marcantes, elas vêm para traduzir a melodia em outras linguagens, e então faz-se um diálogo voz/guitarra delicioso de se escutar. E de entender.
Ben Gibbard e Nick Harmer, os principais autores da banda, poderiam muito bem deitar-se nos louros das glórias passadas e aproveitar o respaldo que têm de seus fãs para embarcar em mais um disco de releituras de si próprios. Mas se eles tivessem esse tipo de atitude, provavelmente não teriam chegado a este sétimo disco. E – para uma banda tão criteriosamente elegante como essa – isto não é pouca coisa.
Discografia:
EPs:
The Forbidden Love EP (2000)
The Stability EP (2002)
Studio X Sessions EP (2004)
The John Byrd EP (2005)
The Opendoor EP (2009)
Álbuns de estúdio:
You Can Play These Songs with Chords (1997)
Something About Airplanes (1998)
We Have the Facts and We're Voting Yes (2000)
The Photo Album (2001)
You Can Play These Songs with Chords (1997 - relançado em 2002)
Transatlanticism (2003)
Plans (2005)
Narrow Stairs (2008)
Codes And Keys (2011)
Fontes: Wikipedia, adayinthelife.com.br e ouvinte.wordpress.com