Espinosa, meu éden

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quinta-feira, 29 de abril de 2021

2673 - Quanta falta fazem o Gonzaguinha e a Beth

Há exatos 30 anos, aos 45 anos de idade, vítima de um grave acidente automobilístico depois de pegar a estrada após uma apresentação na cidade de Pato Branco, no Paraná, deixava para sempre os palcos e a vida o grande cantor, músico e compositor carioca Gonzaguinha. 
Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, nascido aos 22 de setembro de 1945 no Morro de São Carlos, no Estácio, Rio de Janeiro, era filho do "Rei do Baião" Luiz Gonzaga e da cantora e dançarina do Dancing Brasil, Odaleia Guedes dos Santos. Ao perder a mãe aos 2 anos de idade, vítima da tuberculose, passou a ser criado pelos padrinhos de batismo Henrique Xavier Pinheiro (o Baiano do Violão) e Leopoldina de Castro Xavier (a Dina). O padrinho foi quem lhe ensinou a tocar violão. Começou a compor depois de participar ativamente das rodas de violão na casa do psiquiatra Aluísio Porto Carreiro, pai da sua futura esposa Ângela, com quem teve dois filhos, Daniel e Fernanda. Gonzaguinha é também pai de Amora, fruto da sua relação com a cantora Sandra Pera, do grupo As Frenéticas, e de Mariana, filha do seu relacionamento final com sua terceira esposa, Louise Margarete. Gonzaguinha formou-se pela Faculdade de Ciências Econômicas Cândido Mendes enquanto participava dos festivais, vencendo o Festival Universitário de Música Popular da TV Tupi de 1969 com a sua música "Trem".




Desde a infância teve uma convivência turbulenta com o pai, só se reconciliando verdadeiramente com ele no início dos anos 80, quando fizeram uma turnê juntos pelos palcos do país, a "Vida de Viajante". O autor de maravilhosas canções como "Sangrando", "Comportamento Geral", "Eu Apenas Queria Que Você Soubesse", "Começaria Tudo Outra Vez" e "Não Dá Mais Para Segurar - Explode Coração", tinha no DNA o talento e a paixão pela música. Começou se aventurando nos festivais de música e ao lado de outras feras como Aldir Blanc, Ivan Lins, Márcio Proença, Paulo Emílio e César Costa Filho, fundou o Movimento Artístico Universitário (MAU) nos anos 70. Logo depois, em 1971, o grupo comandava o programa Som Livre Exportação, na TV Globo, com Elis Regina e Ivan Lins. Por conta do seu ativismo político contra a injustiça social e a falta de liberdade imposta pela ditadura militar, foi constantemente punido com a censura de suas músicas. Com os novos ares após o retorno da Democracia ao país em 1985, ele pôde finalmente abrir o leque das suas ideias artísticas, compondo lindas e eternas canções de amor e esperança, atingindo um público bastante numeroso e chegando às paradas de sucesso. Muitas de suas belas canções foram gravadas por grandes nomes da música brasileira como Elis Regina, Maria Bethânia, Simone, Fagner e Joanna. Foram 16 álbuns lançados, desde o primeiro de 1973.
Os versos de Gonzaguinha atingem em cheio a triste verdade e realidade do cotidiano, mostrando um país completamente injusto, onde o povo é sacaneado dia após dia, sem os seus sagrados direitos reconhecidos e garantidos como consta na nossa Constituição Cidadã. Quando fala de amor, Gonzaguinha vai fundo na alma, despertando os mais lindos sentimentos de entrega e paixão. Gente como Gonzaguinha não existe mais no país do Carnaval e do futebol. Uma pena! Só temos o que lamentar por tamanha escassez de talento, coragem e humanidade. Mas como ele mesmo diz aos conformados, ironicamente: "Você deve aprender a baixar a cabeça e dizer sempre: muito obrigado".  



Amanhã, dia 30 de abril, estará completando dois anos do falecimento da grande cantora e sambista carioca Beth Carvalho. Elizabeth Santos Leal de Carvalho nasceu no Rio de Janeiro, em 5 de maio de 1946, e desde pequenininha já mostrava seu amor pela música, bastante influenciada pelo avô, pela mãe e pelo pai que era amigo de vários astros da canção da época, como Elizeth Cardoso, Silvio Caldas e Aracy de Almeida. Depois de se infiltrar nos meios musicais do Rio de Janeiro, participando de festivais, de ensaios das escolas de samba e das rodas de pagode cariocas, Beth iniciou sua carreira artística gravando seu primeiro compacto simples com as canções "Por Quem Morreu de  Amor", de  Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, e "Namorinho", de Mário de Castro e Athayde, muito por influência de João Gilberto, o Pai da Bossa Nova. Após esse namoro com a Bossa Nova, Beth se descobriu a eterna apaixonada pelo Samba, dedicando-se a ele e a valorizar os grandes mestres do passado e a revelar novos cantores e compositores da nossa genuína vertente musical. Luiz Carlos da Vila, Jorge Aragão, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Fundo de Quintal, Arlindo Cruz e Bezerra da Silva foram alguns dos artistas que dela recebram todo o apoio na divulgação dos seus trabalhos musicais.




Beth Carvalho sempre se destacou pelo seu talento, carisma e humildade, mas também por sua cristalina consciência social, estando continuamente engajada nos movimentos sociais, políticos e culturais brasileiros, lutando pela Democracia, pela justiça e pela liberdade. Apesar de torcedora fanática do Botafogo, tornou-se atleticana de coração após a torcida do Atlético adotar como segundo hino do clube a canção de Jorge Aragão, Dida e Neoci Dias, "Vou Festejar", gravada por ela no álbum "De Pé No Chão" de 1978. Ganhou dois prêmios do Grammy Latino, o Prêmio Especial - Conquista de Toda uma Vida, em 2009, e o de Melhor Álbum de Samba/Pagode, em 2012, com o álbum "Nosso Samba Tá na Rua". Era apaixonada pela sua "Estação Primeira de Mangueira". Decidida e valente, mesmo com um problema grave na coluna que a fazia sentir fortes dores e não se aguentar em pé, apresentou-se cantando em uma cama no show "Beth Carvalho Encontra Fundo de Quintal – 40 Anos de Pé no Chão" em setembro de 2018, confirmando seu espírito de guerreira. 
Além de tanta música boa gravada em seus muitos álbuns lançados, quase 40 discos, Beth se imortalizou com gravações inesquecíveis de clássicos como "Andança", de Edmundo Souto, Danilo Caymmi e Paulinho Tapajós, "Folhas Secas", de Nelson Cavaquinho, e "As Rosas Não Falam", de Cartola. A "Madrinha", carinhoso apelido dado pelos seus muitos apadrinhados na música, deixou-nos aos 72 anos de idade no dia 30 de abril de 2019 no Rio de Janeiro. O Samba continua chorando sua partida, mas o batuque que desceu do morro jamais irá se calar. Viva Beth Carvalho, eternamente!
Um grande abraço espinosense.