O que têm em comum figuras como Ray Charles (cantor e compositor), Stevie Wonder (cantor e compositor), Andrea Bocelli (cantor), Jerusa Geber dos Santos (atleta velocista paralímpica), John Bramblitt (pintor), Allan Pineda (rapper), Hellen Keller (escritora e professora), Derek Rabelo (surfista), Antônio Tenório (judoca paralímpico), Ricardo "Ricardinho" Alves (atleta paralímpico de futebol de 5), Kátia Garcia Oliveira (cantora), Geraldo Magela (comediante), João Maia (fotógrafo) e Aderaldo Ferreira de Araújo (poeta)? Todos são cegos. Exercite sua empatia e imagine não poder ver o mundo à sua frente, sem imagens e cores. No mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem aproximadamente 36 milhões de pessoas que não enxergam, além de outras 217 milhões que têm baixa visão. No nosso Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem cerca de 580 mil pessoas cegas e outras 6,5 milhões que apresentam baixa visão, seja por questões congênitas (já no nascimento) ou que foram desenvolvidas ao longo da vida.
Hoje, dia 8 de abril, um brasileiro notável é o homenageado no doodle do Google. E quem é ele? José Álvares de Azevedo nasceu no dia 8 de abril de 1834 em uma família rica do Rio de Janeiro. Cego de nascença, o garoto logo se mostrou um ser de inteligência superior, interessado em aprender tudo em tempo recorde. Como não havia campo específico para sua educação no Brasil, a família o enviou para a França, para estudar na única escola especializada na educação de cegos que havia no mundo naquela época - o Instituto Real dos Jovens Cegos de Paris. O menino estudou lá dos 10 aos 16 anos de idade. Satisfeito e maravilhado com a relevância e sucesso da escola parisiense na educação dos deficientes visuais, com a utilização do ainda iniciante método Braille, o rapaz de bom coração e empatia admirável, depois de retornar ao Brasil, passou a ensinar os colegas cegos e a lutar incansavelmente para aqui fundar instituição educacional semelhante. Usando do prestígio e das boas relações sociais dos seus pais, conseguiu chegar até o Imperador Dom Pedro II, em uma audiência. Sensibilizado, o Imperador determinou a criação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos - hoje, Instituto Benjamin Constant. Infelizmente, por capricho do destino, o jovem, que participou ativamente dos trabalhos para a fundação da escola, não pôde estar presente na realização do seu sonho, falecendo de tuberculose prematuramente aos 20 anos de idade, no dia 17 de março de 1854. Faltavam apenas seis meses para a inauguração da escola que idealizou e lutou para tornar realidade. Nada mais justo então que o jovem empático, visionário e determinado José Álvares de Azevedo tenha sido titulado "Patrono da Educação dos Cegos no Brasil", com o dia do seu nascimento sendo declarado oficialmente o "Dia Nacional do Braille".
Se merece toda nossa admiração e homenagens o José, reconhecimento igual deve ser dado ao francês Louis Braille, o criador do sistema de leitura que revolucionou a vida dos cegos em todo o mundo. Ainda criança, com apenas três anos de idade, o menino Louis, nascido no dia 4 de janeiro de 1809, em Coupvray, cidade a 40 km de Paris, teve o seu olho perfurado por uma ferramenta de marcenaria em casa, o que causou uma infecção que atingiu também o outro olho, resultando na perda completa da visão. Estudante de elevada inteligência e desempenho notável, o menino foi estudar no Instituto Nacional para Jovens Cegos, localizado em Paris, especializado em educação de cegos. Ao se deparar com o método de alfabetização ali utilizado, com a impressão das letras em alto-relevo, um tanto complexo para a compreensão dos alunos, ele descobriu um método diferente através do oficial francês Charles Barbier de La Serre. O método havia sido criado para que os soldados do Exército francês pudessem ler códigos de guerra no escuro e se baseava em pontos e traços em relevo. Braille então dedicou-se a aprender o método chamado de "escrita noturna" e a aperfeiçoá-lo até que o apresentou à escola em 1824, quando tinha apenas 15 anos. O método Braille foi adotado experimentalmente no Instituto Nacional para Jovens Cegos, só sendo oficializado em 1854, dois anos após a morte precoce de Louis causada pela tuberculose, aos 43 anos de idade, em 6 de janeiro de 1852, em Paris. O jovem José Álvares de Azevedo foi quem teve a sabedoria de trazer para o Brasil o método Braille, proporcionando aos cegos daqui um futuro digno com educação, liberdade e independência.
Gente assim é que merece aplausos, respeito e reconhecimento. Gente que se preocupa com os demais e que luta pacífica e civilizadamente pelo bem da Humanidade. Agradecemos de coração a José e Louis. Que estejam na paz no Paraíso!
Um grande abraço espinosense.