Espinosa, meu éden

Espinosa, meu éden

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

3679 - Morreu Roberta Flack

Uma boa parte dos meus ídolos na música já se foi para a eternidade ou está bem próxima de se despedir deste mundo tão lindo e maravilhoso, porém injusto, violento e surreal, onde uma minoria velhaca, asquerosa, egoísta e barulhenta consegue espaço, infelizmente. O consolo é saber que todas as suas belas e magníficas criações artísticas continuam disponíveis e prontas para serem apreciadas a qualquer instante. 
É um prazer e um privilégio ter admiração eterna pela música dos que já se foram, como Elis Regina, Belchior, Tom Jobim, Cássia Eller, Rita Lee, Gal Costa, Dominguinhos, Gonzaguinha, Freddie Mercury, Michael Jackson, Bob Marley, Jeff Beck, John Lennon, George Harrison etc. E, com o envelhecimento natural dos artistas que embalaram minha já extensa trajetória terrena, as perdas serão cada vez mais presentes. Agora mesmo, no dia 24 de fevereiro de 2025, uma das mais doces e saborosas vozes da música estadunidense deu adeus a este mundo, Roberta Flack.



Nascida em um lar intensamente musical de Black Mountain, Condado de Buncombe na Carolina do Norte, no dia 10 de fevereiro de 1937, a cantora, compositora e pianista norte-americana Roberta Cleopatra Flack cantou e encantou milhões, eu inclusive. Aprofundou-se no estudo de piano com uma bolsa de estudos de música aos 15 anos na Howard University. Antes, aos 9 anos, já dedilhava um velho piano comprado pelo pai em um ferro-velho. Cantando na igreja ou em boates, a menina mostrou seu talento até ser descoberta pela lenda do Jazz Les McCann, que a levou para fazer um disco na gravadora Atlantic Records. Seu talento extraordinário pôde ser apreciado já no álbum de estreia, "First Take", de 1969, com uma saborosa mistura de Folk, Jazz, Soul. Mais adiante, conseguiu a façanha de ganhar o Grammy de Gravação do Ano por dois anos consecutivos, com as músicas "The First Time Ever I Saw Your Face" (1973) e "Killing Me Softly with His Song" (1974). Foi agraciada em 2020 pelo Grammy com o prêmio "The Lifetime Achievement Award", dado a artistas que, durante suas vidas, fizeram contribuições criativas de notável significado artístico para o campo da música.



Consciente social e politicamente, nunca deixou de lutar por Justiça, fundando a Roberta Flack School of Music na Hyde Leadership Charter School no Bronx, oferecendo gratuitamente um programa de educação musical inovador e inspirador para alunos carentes. Em 2010, Roberta Flack fundou a Fundação Roberta Flack, cuja missão é apoiar o bem-estar animal e a educação musical. Também batalhou para arrecadar fundos para a instituição beneficente Feed The Children.org.



Na minha juventude desfrutei bastante do prazer de me encantar com as melodias gostosas da Roberta Flack, sobretudo de um dos seus maiores sucessos, a canção "Killing Me Softly with His Song". A música é de 1973, mas continua atual e extremamente linda e deliciosa, afagando sensíveis corações.
Que descanse em paz, Roberta Flack! E obrigado por tudo, por fazer enorme diferença positiva na vida de tanta gente no mundo inteiro!
Um grande abraço espinosense.


3678 - O Brutalista

Só mesmo eu, um velho vagabundo apaixonado por cinema, para ter o entusiasmo de sair de casa sozinho numa segunda-feira à noite para ir se acomodar em uma poltrona por quase quatro horas para assistir a um filme concorrente ao Oscar 2025 em dez categorias: "Melhor Filme", "Melhor Direção" (Brady Corbet), "Melhor Ator" (Adrien Brody), Melhor Atriz Coadjuvante" (Felicity Jones), "Melhor Ator Coadjuvante" (Guy Pierce), "Melhor Fotografia" (Lol Crowley), "Melhor Roteiro Original", "Melhor Trilha Sonora" (Daniel Blumberg), "Melhor Direção de Arte" e "Melhor Montagem".
Com 3h35 de duração e 15 minutos de intervalo para um merecido esticar de pernas, o filme produzido pela Universal Pictures no sistema VistaVision, nos traz a história de vida do arquiteto László Tóth, interpretado brilhantemente pelo excelente ator Adrien Brody. Fugindo dos horrores e dos escombros da Segunda Guerra Mundial, László deixa para trás sua bela esposa Erzsébet (Felicity Jones) e sua sobrinha Zsófia (Raffey Cassidy) e parte para a América para encontrar seu primo "Attila" (Alessandro Nivola) e tentar recomeçar a vida com um mínimo de dignidade e esperança de uma vida melhor, o que permitiria buscá-las mais adiante. Entre sucessos e fracassos, o judeu sente na pele a dureza do preconceito e da aversão da sociedade americana aos imigrantes. 
Eu, na minha imensa ignorância, imaginava ser brutalista um sinônimo de rudeza, grosseria, selvageria. Recorrendo ao sábio dicionário, descobri que o vocábulo nomeia um estilo arquitetônico surgido na década de 50, quando eram escassos os materiais de construção no pós-guerra, cuja características principais são o design prático e funcional e o uso amplo de concreto, com um visual sem ornamentações ou revestimentos e com formas geométricas simples. O nome veio da expressão francesa "beton brut", ou concreto aparente. Alguns dos arquitetos expoentes do Brutalismo foram Le Corbusier, Louis Kahn, Ernö Goldfinger, Alvar Aalto e Alison e Peter Smithson. No Brasil se destacaram João Vilanova Artigas, Lina Bo Bardi e Paulo Paulo Mendes da Rocha.


ELENCO DE O BRUTALISTA:
Adrien Brody - László Tóth
Felicity Jones - Erzsébet Tóth
Raffey Cassidy - Zsófia
Guy Pearce - Harrison Lee Van Buren
Joe Alwyn - Harry Lee Van Buren
Stacy Martin - Maggie Van Buren
Alessandro Nivola - Attila
Emma Laird - Audrey
Isaach de Bankolé - Gordon
Michael Epp - Jim Simpson
Jonathan Hyde - Leslie Woodrow
Peter Polycarpou - Michael Hoffman

Mesmo com um orçamento modesto, cerca de US$ 10 milhões, o diretor consegue contar de forma bonita, intensa e interessante a história do imigrante húngaro que vê sua vida oscilar entre a beleza e grandiosidade das construções no estilo brutalista e sua fragilidade emocional que o leva a se entregar por vezes às drogas, tornando-se presa fácil para o patrão endinheirado e inescrupuloso. Na busca pela sobrevivência em terra alheia, o protagonista se vê inicialmente distante de exercer sua verdadeira profissão, mesmo com toda sua competência e saber, trabalhando em serviços braçais como a grande maioria dos imigrantes que tentam alcançar o tal do sonho americano. Nesta jornada, László tem pouco o que comemorar, pois na maioria do tempo ele está sendo humilhado, vivendo na solidão e na miséria, decepcionado com o tratamento que recebe da sua nova pátria, indiferente e preconceituosa. A verdade, nua e crua como as construções brutalistas, é a de um estrangeiro invasor do território americano, que não é bem vindo. O sonho americano, definitivamente, não é um conto de fadas para todos.
O filme está em cartaz no cinema do Ibituruna Shopping no horário das 19h45, todos os dias. A meia-entrada custa R$ 17,00 na segunda-feira. "O Brutalista" tem boas chances de conquistar vários prêmios na cerimônia do Oscar 2025 que acontece no dia 2 de março em Los Angeles, com apresentação de Conan O'Brien. Merece.
Um grande abraço espinosense.