Quanto mais reflito, estudo, leio, debato e me questiono sobre esta vida insólita que Deus nos presenteou com toda sua benevolência, menos consigo entendê-la. Tivéssemos a dádiva de viver mil anos ou mais, lendo todos os livros disponíveis, assistindo a todos os filmes à nossa disposição, escutando todos os ensinamentos dos velhos sábios, nem assim conseguiríamos compreender com absoluta precisão o porquê desta nossa existência. Uns conseguem construir suas teorias de conquista da felicidade, jamais autenticadas; alguns conseguem se satisfazer com o necessário, encontrando a paz e a jovialidade, vivendo harmoniosamente com a Natureza; outros, perambulam pelo mundo na busca desenfreada pelo ouro e pelo poder sem nunca perceber o brilho do nascer e morrer do Sol e o canto agradável do passarinho que pousa no seu quintal. Ser feliz, alcançar o topo, tornar-se celebridade, conquistar o conforto, desfrutar do poder da grana que ergue e destrói coisas belas (by Caetano) não é, nunca foi e jamais será pecado ou crime, se fruto do trabalho honesto. Triste é querer ser feliz sozinho, passando por cima dos outros com a ganância e a soberba exacerbadas. Quanto seria mais belo o mundo se todos os seus passageiros tivessem o mínimo para viver com dignidade, respeito e ventura?
O tempo parece nunca passar tão rápido como nesses tempos de tecnologia avançada. Para nos fazer pensar profundamente sobre o que estamos fazendo das nossas vidas, é bom relembrar a emocionante história do jovem Christopher Johnson McCandless (El Segundo, Los Angeles, 12-02-1968 — Stampede Trail, Alasca, 18-08-1992) que, assim como São Francisco de Assis, deixou casa, família, aconchego e bens materiais para encontrar a razão de viver, viajando sozinho e livre pelos Estados Unidos. Sua história foi contada pelo jornalista Jon Krakauer no livro "Into the Wild", publicado em 1996. No ano de 2007, Sean Penn adaptou a história para o cinema, roteirizando, produzindo e dirigindo "Into the Wild" ou "Na Natureza Selvagem".
Chris, ou "Alexander Supertramp", em determinado momento da vida, resolveu jogar tudo para o alto e sair pelo país para tentar descobrir a razão de estar aqui neste planeta, atraindo elogios e amor, ao mesmo tempo em que recebia críticas e ódio, em um tempo em que ainda não havia redes sociais. Sua morte trágica dentro de um ônibus abandonado no Parque Nacional Denali no Alasca, após dois anos de sobrevivência na selva, talvez deveria nos levar a uma profunda reflexão sobre o que estamos fazendo com nossas vidas a cada segundo.
Quem sabe a magnífica voz de Eddie Vedder cantando "Society", linda canção de Jerry Hannan, não nos ajuda a pensar?
Um grande abraço espinosense.