Antes de tudo, uma afirmação resoluta. Sou um conservador progressista, casado e feliz, heterossexual, com dois filhos criados e encaminhados para o itinerário do bem e da justiça, e compromissado com a evolução e a aceitação das mudanças positivas na sociedade. Dito isso, para que não paire nenhuma dúvida quanto à minha opção sexual, é gratificante perceber a revolução que pode estar se aproximando no mundo do esporte, sobretudo no cenário extremamente machista do futebol. Explico.
Hoje, dia 17 de maio, é comemorado o Dia Internacional Contra a Homofobia, a Transfobia e a Bifobia, criado com o objetivo básico de coordenar eventos internacionais que aumentem a conscientização da população mundial sobre as violações dos direitos LGBT+. Tal data foi escolhida por ter sido o dia 17 de maio de 1990 um dia histórico, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) finalmente tomou a acertada decisão de retirar a homossexualidade da classificação internacional de doenças, aberração incluída em 1977.
Exatamente nesta data de hoje tão importante para a comunidade LGBT+ surgiu a notícia de que o jovem atacante do Blackpool Football Club, Jake Daniels, comunicou a toda a imprensa que é homossexual. O garoto de 17 anos, nascido aos 8 de janeiro de 2005 em Bispham, Reino Unido, tem se destacado no futebol inglês e agora estampa as manchetes de jornais, TV e Internet como o único jogador de futebol profissional masculino do Reino Unido a se assumir publicamente gay, de forma corajosa e louvável. Outro atleta, após encerrada a carreira, também se assumiu homossexual. Foi o londrino Justinus Soni Fashanu, atacante que jogou pelo Nottingham Forest, Brighton, Newcastle e West Ham, entre outros clubes. Fashanu suicidou-se em 1998 em Londres, aos 37 anos, após ser acusado de abuso sexual por um jovem de 17 anos nos Estados Unidos, onde jogava à época, fato que negou até o final. A coragem e clarividência do Jake pode enfim desencadear uma onda de admissão da condição de homossexual pelos atletas do futebol, inseridos sempre em um ambiente extremamente machista, preconceituso e hipócrita. É o que espero que aconteça, finalmente.
Por mais que alguns não queiram aceitar a realidade, o homossexualismo existe desde que o mundo é mundo. O maldito preconceito contra ele também. Cálculos extraoficiais dão conta de que cerca de 10% da população mundial é formada por homossexuais. Ninguém sabe ao certo, mas eles existem e são encontrados em todas as classes sociais, em todas as profissões, em todos os lugares do mundo, sem a menor dúvida, mesmo que ocultos. E sofrem discriminações ridículas, violência pesada e perseguições severas a todo momento, sendo tratados até como criminosos em países atrasados como Emirados Árabes Unidos, Bangladesh, Trinidad e Tobago, Rússia, China e Irã, entre outros. É até engraçado ver que existem gays em todas as profissões e lugares, de artistas a bancários, mas inexplicavelmente inexistem no âmbito do futebol mundial. É uma piada!
Estamos em pleno Século XXI, mas continuamos a tratar o homossexualismo como tabu da Idade da Pedra. Os velhos radicais conservadores, ainda presos àquela criação repressora que tiveram dos pais no passado, ainda não evoluíram a ponto de conviver pacífica e harmonicamente com os novos tempos. Ainda persistem a rejeição, a hostilidade e a intolerância com os nossos irmãos que escolheram ser diferentes. Pior ainda o repúdio que vem dos cristãos de Bíblia sempre nas mãos e versículos na boca, fracassados na tentativa de compreender os ensinamentos de Jesus Cristo que tão claramente nos ensinou a tarefa de "amar ao próximo como a nós mesmos", sem exceções. Estes, obsoletos e equivocados, parecem não ter captado a mensagem de que os "próximos" não são somente os nossos pais, irmãos, filhos, demais parentes e amigos queridos, mas e também nossos desconhecidos, nossos adversários e nossos inimigos. Entre esses humanos, também filhos de Deus, estão os homossexuais, obviamente. Eles, que são cidadãos comuns, semelhantes, trabalhadores, inteligentes, cultos e amorosos, integrantes de famílias, pagadores de impostos como todo mundo.
Ninguém é obrigado a gostar da questão ou das pessoas nela envolvidas, mas exije-se apenas respeito a elas. Espero que os radicais conservadores antiquados consigam refletir, aprender e se desvencilhar dessa ignorância e deste ódio desmedido com nossos irmãos e cidadãos brasileiros, merecedores de toda nossa consideração, apoio e carinho. Quem sabe um dia?
Meu imenso respeito e a minha completa solidariedade ao jovem Jake Daniels e a todos os homossexuais de todo o mundo. Que sua atitude destemida sirva de exemplo para muitos dos seus colegas de futebol se assumirem e serem felizes em sua real condição humana.
Um agradecimento especial aos gays Freddie Mercury, Elton John, Renato Russo, Cássia Eller, Cazuza, Adriana Calcanhotto, Zélia Duncan, Gal Costa, Lulu Santos, Leila Pinheiro, Maria Gadu, Simone, por terem tornado minha vida tão mais feliz e prazerosa! E viva a Liberdade e a Diversidade!
Um grande abraço espinosense.