Espinosa, meu éden

Espinosa, meu éden

domingo, 9 de fevereiro de 2025

3665 - O tal do sonho americano

Com o retorno democrático e legal ao poder nos Estados Unidos da América de Donald John Trump, o mundo entrou em uma atmosfera de tensão, medo, insegurança e expectativa com as medidas agressivas, radicais, maléficas, retrógradas e desvairadas do arrogante e autoritário político de extrema-direita. Com decisões duras e intransigentes, sobretudo contra países parceiros comerciais e imigrantes latinos, incluindo os nossos irmãos brasileiros, o político nova-iorquino do Partido Republicano atende a um anseio de grande parte dos americanos, aqueles que se sentem ameaçados com a chegada dos milhões de cidadãos estrangeiros que almejam conquistar ali uma melhoria na vida. Colocando em prática uma de suas mais firmes promessas de campanha, o presidente eleito determinou a prisão e deportação de todos os cidadãos considerados ilegais e indocumentados, sem dó nem piedade. Na convicção dele, não interessa se a pessoa é honesta, trabalhadora e com emprego fixo, já residente há anos nos EUA. Assim como os criminosos, assassinos ou ladrões, estas também serão sumariamente deportadas, perdendo todos os seus bens materiais que não puderem ser transportados de volta para casa. Ficam para trás carro, eletrodomésticos e tudo mais conquistado com anos e anos de esforço hercúleo. O transporte de volta para casa dos imigrantes ilegais e indocumentados, bancado pelo governo americano em aviões fretados, é realizado por policiais que os tratam como bandidos perigosos, com o uso de algemas, correntes, arbitrariedade, descaso e muita humilhação. Tal fato é rotina por lá. Enganam-se os que veem alguma novidade nisso, pois estes voos de deportação de brasileiros são normais e constantes, acontecem há muito tempo. E as algemas e correntes são usadas há bastante tempo, dentro das aeronaves, até que os passageiros iniciem o desembarque em terras brasileiras. O fato de que alguns prisioneiros tenham saído do avião em Manaus ainda acorrentados provocou grande alvoroço na mídia. É um direito dos EUA imobilizar os passageiros, mas jamais com violência, agressões e maus-tratos, como alegam algumas das vítimas.



Em meio a toda esta situação triste e desesperadora para quem penetrou no país norte-americano sonhando com a vida boa, o sucesso e a realização do sonho de enriquecer, faz-se necessário um esclarecimento sobre a verdade da realidade dos fatos na Terra do Tio Sam. É impressionante a ilusão que toma conta de tanta gente no mundo, especialmente no Brasil, com milhares de pessoas apostando e acreditando que irão ficar ricas rapidamente em terras ianques. Não há como refutar que alguns conseguem se dar bem, se não enriquecendo, pelo menos conquistando uma boa condição financeira. Mas estes são uma minoria, figuras que abdicam da qualidade de vida, do lazer e do descanso para se dedicarem em jornadas extensas e prolongadas de trabalho duro e pesado para economizarem e juntarem uma boa grana. Alguns, retornando ou não ao Brasil, enviam o dinheiro auferido e aplicam em investimentos no país, principalmente em imóveis e empreendimentos comerciais que lhes garantem uma estabilidade financeira satisfatória. Outros continuam morando por lá, uns com a conquista do Green Card, deixando a clandestinidade. Mas infelizmente a imensa maioria, depois de pagar uma boa quantia e sofrer horrores para entrar no território estadunidense, vive como ilegais, trabalhando em jornadas exaustivas como pedreiros, motoristas, jardineiros, vigilantes, babás e outras funções comuns que os locais abominam.


 
Este encanto fantasioso do atingimento rápido e fácil da riqueza em terras americanas é uma balela desde muito tempo. Esse tal "sonho americano" já contagiou milhões com a história da carochinha de que basta uma boa pitada de meritocracia para conquistar uma vida de luxo e prazeres na "terra das oportunidades". O próprio milionário Trump teve a "meritocracia" de iniciar a vida estudando em escola particular e trabalhando em empresa do pai rico. Em tempos bem distantes, desembarcaram nos EUA sonhadores europeus fugindo da fome e da guerra à procura de uma vida melhor, outros europeus em busca de liberdade religiosa e terras férteis para cultivar, bem como cidadãos africanos aprisionados e forçados a trabalhar como escravos. Muitos desses imigrantes foram incentivados pelo governo a se deslocarem para as terras indígenas para conquistarem e povoarem o Oeste, quando milhões de indígenas foram dizimados em suas próprias terras. Os Estados Unidos foram construídos com o suor dos imigrantes, mas atualmente eles são criminalizados de forma inflexível, lamentavelmente.



Tem bastante gente que adora os United States of America. Aqui no Brasil são muitos. E estes espalham a ideia de que lá é o paraíso, um lugar onde tudo é lindo e maravilhoso, onde só existe sucesso, liberdade, fartura e felicidade. Não, não é verdade. É uma grande e fantasiosa mentira! Por lá também existe fome, miséria, pobreza, moradores de rua, racismo, homofobia, violência, roubos, assassinatos, serial killers, ódio. Yes, os EUA são o mais rico e poderoso país do mundo, não há dúvida. Atualmente, pois estudos indicam que a China em alguns anos tomará este posto na Economia. Mas os EUA ainda são uma terra de oportunidades para todos, desde que se tenha qualificação, resiliência e vontade de trabalhar. Daí a se tornar milionário, pode ser, mas um tanto difícil. A imagem que a mídia e, principalmente, a fábrica de sonhos de Hollywood construiu na cabeça dos habitantes do mundo é a do lugar perfeito, onde se vive sempre com liberdade, abundância e felicidade. Não se deixem enganar. A festa constante nos cassinos de Las Vegas, o impacto dos arranha-céus de Manhattan, o frisson dos carrões e mansões no cotidiano de Miami e o brilho das lojas de Nova York fascinam a todos, mas quase ninguém se liga na pobreza e na violência dos bairros pobres como o Bronx e o Skid Row, onde o lixo, os drogados e os sem-tetos disputam espaço nas ruas. Existem por lá os trabalhadores que, devido ao alto custo das moradias, vivem em trailers, vans, contêineres e até em carros estacionados nas ruas. Por lá os carros usados são relativamente baratos, o que favorece tal uso como local de habitação, mesmo sem acesso à água corrente e à eletricidade.



O panorama da ilusão do sucesso econômico rápido pelos imigrantes pode ser visto como o de Serra Pelada, quando milhares de garimpeiros chegaram na Serra dos Carajás, no Pará, em busca de ouro e da fortuna. Alguns poucos ficaram ricos, uns gastaram todo o dinheiro conquistado, mas a grande maioria ficou na saudade. Outro ambiente que pode ser utilizado para exemplificar esta miragem da conquista imediata da riqueza pode ser o do futebol, esporte em que milhões de jovens almejam chegar ao topo, ficando famosos e milionários em pouco tempo. Dentre milhões, alguns poucos conseguem se profissionalizar. Destes, uma reduzida parcela consegue chegar e jogar em grandes equipes. E entre estes, um mínimo de atletas conseguem se tornar ídolos, alcançando participação em suas seleções nacionais, ganhando contratos astronômicos e tornando-se cidadãos milionários.
Nada contra quem sonha em melhorar de vida, tornando-se rico com a dedicação, competência e força do seu trabalho. Que realizem o sonho e sejam felizes! O que não se pode é viver alienado dentro de uma realidade paralela falsa e mentirosa. Mesmo com todas as dificuldades para conseguir estudo e trabalho, o nosso lindo e amado Brasil pode ser um lugar aconchegante, acolhedor e propício para se conseguir a sobrevivência e conquistar uma condição digna para viver em paz e harmonia, sem devaneios e fantasias vãs. Triste é perceber o quanto existe gente que, apesar de uma boa condição educacional, ainda se afunda na ilusão e no fanatismo político-religioso para acreditar em contos da carochinha.
Um grande abraço espinosense.