9 de março é dia de festa em Espinosa, nossa amada terrinha natal. É o dia em que se comemora a data da emancipação política da cidade, ocorrida em 9 de março de 1924. Mas sua história não começou aí, mas bem antes, com a chegada por lá do bandeirante Francisco Bruza Espinosa, que acabou lhe dando nome, após ser chamada tão poeticamente de Lençóis do Rio Verde.
Nestes mais de 94 anos de vida e história, muitos foram os personagens que lhe foram importantes, oriundos das mais variadas classes sociais e dos mais diversos perfis profissionais. Ainda hoje, são muitos os que a constroem dia após dia, filhos naturais ou agregados, unidos pelo amor comum a esta terra.
Entre tantos que merecem louvores, resolvi homenagear alguns que muito nos proporcionaram de prazer com suas prendas culinárias, seus pratos saborosos, suas guloseimas e outras gostosuras mais.
Começo meus tributos e minhas lembranças de inesquecíveis sabores pelos biscoitos de Dona Preta, vendidos ali na sua vendinha no fundo do mercado antigo, na Travessa Horácio Neves.
E o revigorador caldo de mocotó de Varisco, que tinha seu bar e restaurante na esquina da rua principal do Bairro Araponga, que nos mantinha eretos e firmes após as baladas nas madrugadas?
E a maravilha que é o sarapatel preparado por Ninha, também lá no finalzinho da Rua Araponga? Afirmo sem medo de errar: é o melhor do mundo!
Guloseima sem igual também é o doce de leite e coco (a cocada cortada em formato de estrela) preparado por Isaura de Filuca, uma maravilha. Se ainda não provou, não sabe o que está perdendo.
Como não se lembrar com saudade e água na boca dos picolés produzidos na sorveteria de Seu Carlito e Dona Sissi? Era uma coisa extraordinária de tão saborosos aqueles picolés, sobretudo os de abacate, de coco e de leite, os meus favoritos.
E como esquecer, ali bem pertinho, dos doces de leite produzidos por Almerindo e sua esposa, que atraíam gente da cidade inteira? Nestor, negociador de carros, era um dos maiores apaixonados por aquela delícia de doce de leite.
Quando ainda jovens, a nossa Turma da Resina sempre se reunia no Bar e Restaurante de Helena e Chico, ali bem próximo da rodoviária, para bater papo, tomar cerveja e degustar a maravilha que era o bife de fígado que Helena fazia. Que coisa gostosa! Era até vergonhosa a investida voraz da turma no ataque ao prato de fígado colocado à mesa, que desaparecia em segundos.
Nos bons tempos de juventude meio enlouquecida, dormir tarde era uma constante. Acontece que dormir com fome nunca foi uma boa ideia e assim, depois das baladas na madrugada, a salvação da lavoura era se deslocar até a Vila de Santana e matar a fome com um belo pirão de galinha caipira cuidadosamente preparado pelo Chico, figura das mais porretas da cidade.
Cozinhar é uma arte e uma das mais competentes artistas espinosenses nesta área é Joaninha, que faz uma comida caseira de especial sabor.
Já minha Tia Lia é fera em tudo que coloca a mão. Já me deliciei muito com seus biscoitos de polvilho e ovos, as gostosas petas; ou com seus deliciosos frangos desossados recheados; ou com suas paçocas de carne; e por aí vai.
E a pizza do Kamindikasa, de Zé Brasinha e sua esposa? E o pastelão de carne, de queijo e de pizza, quantos de nós já não se deliciou com eles?
Além dessas delícias criadas por essa turma boa, não posso esquecer das gostosas mangas que roubávamos da chácara de Seu Cairo Cruz, na beira do Rio São Domingos. Aproveitando a oportunidade: "perdoe-nos, Seu Cairo!"
E dos tamarindos, bacuparis, pitombas, goiabas, bananas, jatobás, ingás e tudo o mais que a Natureza nos presenteava na vegetação ribeirinha?
Não posso deixar de falar também sobre os doces, mesmo industrializados, que foram consumidos em profusão durante minha infância e juventude no bar de Seu Cirqueira lá na Praça Antonino Neves. Lá comprei muito Zorro e Chicletes Ploc e Ping Pong. E ainda colecionava as figurinhas!
Outro fornecedor dessas guloseimas era o saudoso Seu Agenor, onde íamos jogar sinuca (hoje ali na Praça da Emater) e nos empanturrar de geleias, suspiros, pirulitos, canudinhos de leite, paçoquinhas e marias-moles, sem nem se importar com a quantidade de açúcar consumida. Bons e gostosos tempos.
Ah, sei que existem muitos outros sabores sublimes pelos quatro cantos de Espinosa, e falar deles todos estenderia por demais esta postagem, então é hora de colocar um ponto final. Mas ficam as lembranças, os prazeres, os sabores, os cheiros, tudo na nossa memória afetiva. Feliz quem mantém essas sensações vividas sempre em evidência, e com o devido carinho e respeito por quem os disponibilizou a nós.
Então, neste dia de parabenizar a nossa Espinosa, vamos também homenagear a todos os seus filhos, em especial a estas figuras amáveis, íntegras, batalhadoras e com incrível talento para criar essas preciosidades culinárias que tanto apreciamos.
Um grande e feliz nonagésimo quarto abraço espinosense.