Espinosa, meu éden

Espinosa, meu éden

segunda-feira, 3 de abril de 2023

3176 - Basta de insanidade!

Em um episódio terrível e inadmissível de violência gratuita e inexplicável da nossa história, lá pelos anos 60 ou 70, um aluno do colégio Dom Lúcio, hoje denominado Escola Estadual Joaquim de Freitas, de posse de um revólver dentro da sala de aula, assassinou a tiros o jovem professor José Osvaldo Tolentino, deixando atônita e consternada a comunidade espinosense. Foi um choque para a sociedade tal crime tão inesperado e violento, ainda mais perpetrado por um jovem estudante contra seu mestre. Foi um caso isolado que, graças a Deus, nunca mais se repetiu em Espinosa, mas o que assistimos assustados, indignados e perplexos é um recrudescimento gigantesco de episódios de violência e intolerância nas nossas escolas Brasil afora. Não que antigamente não houvessem casos de brigas, agressões, trotes e do maldito bullying. Até dos professores, naqueles tempos retrógados, os alunos eram vítimas de violência, com castigos de palmatória, ajoelhações no milho, puxões de orelhas, tapas ou golpes de régua de madeira na cabeça. Felizmente não tive essa experiência. Antigamente existiam sim situações de violência nas escolas, mas imagino que em intensidade menor e menos truculenta e mortal como a que vimos hoje.  

Fotografia: Fatos e Fotos Antigas de Espinosa - Rogério Souza - Facebook  


Atualmente o panorama da Educação brasileira é caótico na questão da violência. Muita coisa melhorou nas condições das escolas, na oferta de tecnologia, na liberdade maior de opinião e participação dos estudantes, mas continuam os inexplicáveis trotes homofóbicos, machistas, humilhantes e violentos contra calouros, o maldito bullying e a violência pura e simples, agora piorada ao extremo com gente com problemas psicológicos tentando copiar os terríveis massacres ocorridos nas escolas norte-americanas. Há poucos dias, um jovem estudante de apenas 13 anos assassinou covardemente com uma faca uma professora de 71 anos de idade, Elisabeth Tenreiro. E feriu um aluno e outras três professoras. O saldo trágico não foi pior pela ação corajosa e heroica das professoras Cíntia da Silva Barbosa e Sandra Pereira que conseguiram desarmar o assassino. Este é mais um dos muitos casos de violência nas escolas brasileiras, que tiveram aumento considerável nos últimos anos, conforme pesquisas realizadas. Professores sofrendo agressões verbais e intimidações, alunos sendo agredidos e discriminados por homofobia ou racismo, brigas envolvendo alunos e até alunas, enfim, um retrocesso civilizatório inaceitável.



Nos Estados Unidos o número de ocorrências violentas e massacres com dezenas de vítimas, é uma constante. Os ataques se sucedem, com dezenas de crianças, jovens e adultos mortos: Escola Sandy Hook, em Newtown, Connecticut; Escola Marjory Stoneman Douglas, em Parkland, na Flórida; Escola Columbine, em Littleton, no Colorado; Escola Tanglewood, em Greenville, na Carolina do Sul; Escola Oxford, em Oxford, no Michigan; Santa Fé, em Santa Fé, no Texas; Escola Robb, Uvalde, Texas. Aqui no Brasil, parece que estamos tentando copiar essa característica odiosa dos ianques. Alguns casos recentes são assombrosos e aterrorizantes, como o ocorrido em 7 de abril de 2011, o massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na Zona Oeste do Rio, em que um ex-aluno do colégio matou 12 crianças, feriu mais de dez estudantes e cometeu suicídio logo após os crimes. O atirador de 32 anos e sem antecedentes criminais, utilizou dois revólveres, um de calibre 38 e outro de calibre 32 para cometer o massacre. Outro caso horrível aconteceu no dia 25 de novembro de 2022 em Aracruz, no Espírito Santo, em duas escolas, na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Primo Bitti e no Centro Educacional Praia de Coqueiral, quando um jovem de 16 anos assassinou três pessoas e feriu outras 13 com uma pistola do pai policial. Em 4 de maio de 2021, na cidade de Saudades, no Oeste de Santa Catarina, um jovem de 18 anos invadiu uma escola infantil de nome Aquarela e, com uma faca, matou três crianças e duas funcionárias. Em Suzano, São Paulo, em 13 de março de 2019, um adolescente e um homem encapuzados atacaram a Escola Estadual Raul Brasil e assassinaram friamente sete pessoas, cinco alunos e duas funcionárias do colégio. Após o violento e cruel ataque, um dos assassinos atirou no comparsa e, então, se matou. Um pouco antes da realização deste massacre, os dois, de 17 e 25 anos e ex-alunos do colégio, haviam matado o proprietário de uma loja próxima.



Os Estados Unidos da América são sim um bom lugar para viver, trabalhar e conquistar riqueza, com liberdade de enriquecimento e pouca proteção do Estado. É bom saber que lá não tem SUS nem CLT. Enganam-se os sonhadores que imaginam ser o paraíso os States, sem se tocar que por lá também existem muita pobreza, miséria, fome, desemprego, criminalidade, tráfico de drogas, gente abandonada nas ruas e violência, muita violência. Deveríamos então cobiçar e copiar as boas coisas criadas e oferecidas na Terra do Tio Sam e não suas terríveis mazelas, como o culto às armas, a apologia da violência na resolução das divergências e os tristes massacres em série, especialmente nas escolas. Devemos pegar os exemplos de coisas boas e positivas e não o contrário. Que tenhamos a sabedoria e a competência de fazer evoluir e melhorar a nossa Educação, não só nas salas de aula, mas primeira e principalmente, nos nossos lares, ensinando aos nossos filhos a importância do respeito, da humildade, da empatia, da paz, do apreço, da ética, da cordialidade, da gentileza, da solidariedade, da honestidade e da tolerância com os demais, por mais diferentes que sejam. A Educação deve vir de casa, sempre, sobretudo nos preceitos básicos de convivência sadia e respeitosa na sociedade, com o ensinamento a todos que o direito de um acaba quando começa o direito do outro e que a violência não resolve absolutamente nada, somente incendeia mais e mais conflitos, resultando em dor, truculência e morte. A Escola deve complementar a formação das crianças e jovens, em todas as áreas do conhecimento, obviamente em um ambiente limpo, confortável, justo, amoroso e seguro.  
Um grande abraço espinosense. 

Adendo.
José Osvaldo Tolentino, filho de Durvalino Silveira Tolentino e Noemi Caldeira Tolentino, nasceu aos 14 de dezembro de 1941. Inteligente e estudioso, tornou-se vereador da cidade de Espinosa ainda bastante jovem, formando-se posteriormente em Contabilidade na Escola Técnica de Comércio Minas Gerais em Belo Horizonte em 1966 e, de volta à terra natal, dedicou-se à tarefa de ser professor de Português e Inglês no Colégio Dom Lúcio Antunes de Souza. Foi covardemente assassinado em plena sala de aula por um aluno no dia 23 de setembro de 1969, aos 27 anos de idade, tornando-se um dos mais trágicos e vergonhosos acontecimentos da nossa História.