Pode parecer inacreditável, mas só agora, neste ano de 2018, depois de 16 anos residindo na minha querida cidade de Montes Claros, é que me animei a sair de casa na manhã do feriado nacional da Independência do Brasil para acompanhar o desfile de 7 de setembro realizado na Avenida José Esteves Rodrigues, a Avenida Sanitária. Talvez seja trauma por longos anos de escola participando à força desses longos, demorados e cansativos desfiles debaixo de um sol escaldante. Como não sou hipócrita, afirmo que em tempo algum, se me fosse dada a possibilidade de escolher participar ou não dessas epopeias patriotas, eu aceitaria estar presente. A mesma decisão seria tomada por mim quanto ao serviço militar obrigatório. Por mim e pelo saudoso Raul Seixas, como ele mesmo afirma na sua canção "Mamãe Eu Não Queria". Ainda bem que na minha época, os rapazes do interior eram dispensados por excesso de contingente. Será que assim continua em Espinosa?
Atenção, pelo amor de Deus! Antes que cause polêmica, me taxem de impatriota e eu seja apedrejado em praça pública nestes tempos de intolerância exacerbada, ressalto que isso não significa que não eu ame o meu país, que não respeite o excelente trabalho das Forças Armadas ou que seja contra quem gosta de mostrar todo seu fervor patriótico dessa forma. É apenas o exercício da liberdade de ideias em um país democrático, por favor. E eu não consigo mentir.
Definitivamente, nunca apreciei participar desses eventos. Confesso que até gosto de assistir a eles, acho muito bonito e também engraçado. Bonito por ver a marcha forte, firme e sincronizada dos soldados, a criatividade das escolas, a batida perfeita das fanfarras e a elegância, gingado e elasticidade das meninas "balizas". Engraçado por ver os mais desengonçados na marcha, sempre perdendo o passo, e perceber a indisfarçável preguiça e má vontade de alguns dos alunos no desfile.
Na comemoração da data da independência do país em Montes Claros percebi muitas coisas na avenida. Vi uma boa quantidade de famílias com suas crianças assistindo e participando do desfile. Vi o triste reflexo da crise econômica com dezenas de cidadãos vendendo suas mercadorias em isopores pelas calçadas. Vi o respeito da população pelas instituições civis e militares. E vi muitos candidatos, com apoio dos seus carregadores de bandeira, tentando conseguir o voto do povo para suas candidaturas. Como estava posicionado distante do palanque oficial, não pude acompanhar os discursos das autoridades presentes, portanto não tenho o que falar a respeito. O melhor de tudo, para mim, foi perceber a luta dos professores em organizar o desfile das suas escolas e dos seus alunos com uma preocupação mais do que justa, urgente e necessária nesses tempos sombrios de intolerância e ódio: espalhar o brado retumbante da busca pela paz no futuro sob um sol de liberdade brilhando no céu da Pátria em raios fúlgidos. É o que precisamos: paz, harmonia, liberdade, empatia, respeito, amor não só à Pátria, mas a todos os brasileiros que a constroem diariamente.
Um grande abraço espinosense.
