"Imagina na Copa!" "Não vai ter Copa!" "Os estádios só ficarão prontos em 2038." "Será um caos nos aeroportos." "O acesso aos estádios será terrível." "Os turistas não virão ao país com medo das manifestações." "A segurança não vai funcionar." "Haverá apagões no país." "Não terá sinal digital para a imprensa trabalhar nos estádios." "As manifestações vão parar o país".
Essas previsões mais estapafúrdias e pessimistas pipocavam nas manchetes da grande mídia do país. Anunciava-se o Apocalipse na Copa do Mundo no Brasil.
Após uma campanha irresponsável, de dimensões extraordinárias, da maioria da imprensa brasileira contra a realização da Copa do Mundo de Futebol no Brasil, eis que a realidade dos fatos jogou tranquilamente tudo por terra, inapelavelmente. Sucesso estrondoso aclamado no mundo inteiro, o evento-mor do futebol mundial, realizado em terras brasileiras, só recebeu elogios. Um festival de confraternização entre as torcidas, alegria contagiante em cada sede dos jogos, recepção calorosa do verdadeiro povo brasileiro, excelente organização, segurança de alto nível, estádios em plenas condições de receber torcedores e atletas, gramados impecáveis, acesso rápido, ótimo futebol, excelentes e emocionantes partidas, recordes, muitos gols, grandes craques e a vitória do grande time da Alemanha na final, merecidamente. Não poderia ter sido melhor!
Ah, dirão os defensores do paraíso perfeito, mas tivemos o lado negativo. Claro, não há como negar que tivemos problemas como roubos de ingressos, brigas nas madrugadas, agressões de torcedores, invasões de campo, hino não tocado e algumas manifestações de meia dúzia de gatos pingados em alguns locais. Mas juntando tudo isso, não dá 10% de problemas, ou seja, não há como negar o estrondoso sucesso do evento em todas as suas particularidades.
É até engraçada a mentalidade de grande parte dos nossos jornalistas, que sempre tem críticas para tudo e soluções para nada. Exigem que tudo o que se faça no mundo (no Brasil então!) seja com 100% de acertos, sem a mínima concessão aos erros. Coloca-se na conta de quem faz as coisas acontecerem, até os malefícios do tempo, como a seca e as chuvas torrenciais. Em nada deve haver o mínimo erro. Quer dizer, eles podem errar, os outros não. E como erram! É cada previsão absurda e sem noção dos comentaristas esportivos e econômicos! É cada mancada dos narradores que erram constantemente os nomes dos jogadores! É cada erro nas chamadas de repórteres nos programas ao vivo!
Lembram-se daquele desastrado comentarista do programa Jogo Aberto da Band que bradou em alto e bom som que o Atlético era cavalo paraguaio na Libertadores? Lembram-se do "renomado" ex-editor da revista Veja que entrevistou o sósia do Felipão como se fosse o próprio? Lembram-se do vetusto apresentador do Jornal da Band que humilhou um gari em rede nacional? Viram a incrível falha técnica na abertura do Jornal Nacional da Globo de 18 de março do ano passado? E outras gafes dos seus apresentadores? Ninguém é perfeito, nem as pessoas, muito menos a imprensa e os governos.
Algumas verdades merecem vir à tona agora que a Copa se encerrou. Notou-se claramente que a sórdida campanha negativa empreendida por grande parte da imprensa teve motivação meramente política. Isso ficou bem claro. É normal que tamanha ferocidade venha dos políticos de oposição ao governo. Faz parte do jogo político criticar pesado o adversário, tentando diminuir os seus acertos e aumentando absurdamente a importância das falhas, comuns a todos os governos (e a todos nós, humanos). É só observar atentamente a infeliz e cômica declaração do Senador José Agripino Maia, do DEM-RN: "Porque o sucesso da Copa é devido ao país, aos brasileiros, a hospitaleiros, à beleza do país, que fez a Copa agradável e com a mensagem positiva pros que vieram de fora. O sucesso da Copa deveu-se aos estádios feitos pela iniciativa privada, deveu-se aos aeroportos feitos em parceiras público-privadas". É para rir de tamanha baboseira. Quer dizer que enquanto as obras estavam atrasadas era culpa do governo, agora que foi um sucesso o mérito é da iniciativa privada, né? Fala sério!
A imprensa, como um todo, é de uma importância vital na defesa da população, na divulgação de informações e na moldagem do censo crítico de um povo. Ela jamais deve ser censurada e perder a sua liberdade de expressão. Uma imprensa livre e combativa é um esteio para a manutenção da paz e da democracia. Isso não significa que ela está sempre correta e do lado certo.
A base de um jornalismo sério são aquelas perguntas básicas sobre um fato: o quê, quem, quando, onde, como, por quê. A partir daí inicia-se o trabalho do profissional da informação de informar com credibilidade os fatos, seguindo uma sequência de ações: pauta, apuração, redação e edição. Acontece que nesse processo aparentemente simples, tudo pode ser distorcido em prol de interesses camuflados. Sonegam-se informações, desvirtuam-se dados, publicam-se mentiras, mudam-se números, criam-se cenários fantasmas, tudo para defender interesses escusos.
O que nos deixou boquiabertos e incrédulos foi a virulência dos ataques da imprensa, a mesma imprensa que apoiou a candidatura brasileira para sediar a Copa em 2007 e que faturou absurdamente com a realização dos jogos aqui em nossa terra. Definitivamente, uma das mais vergonhosas atuações da imprensa brasileira na história, imprensa esta quase toda confinada em mãos de poucos e poderosos senhores da elite conservadora e apegada aos seus privilégios. O que vão dizer agora? Parece que enfiaram o rabinho entre as pernas e procuram mil e uma desculpas para tentar explicar a inexplicável onda de previsões catastróficas e críticas infundadas. Tentam de todas as maneiras justificar as razões que os levaram a tamanha demonstração de futurologia canalha. Pena que muitos desinformados, ou informados apenas pelas suspeitas detentoras do poder da mídia, não se deem conta da realidade escamoteada. Quem sabe um dia eles não descubram a podridão escondida nas mentes dos poderosos e nos porões do quarto poder. Quem sabe?
Quanto à razão de ser da Copa do Mundo, o futebol, o mágico futebol, só temos o que comemorar. Teve de tudo nesta Copa: alegria, integração entre as torcidas, belíssimos gols, gols contra, viradas no placar, prorrogações, emoções à flor da pele, expulsões, erros de arbitragem, goleadas históricas, tecnologia aplicada na linha do gol, contusões graves, entradas maldosas, garra, vontade, revelações de jogadores, recordes batidos, atuações memoráveis dos goleiros, craques em profusão, cadeirante invadindo campo, cadeirante se levantando para ir ao banheiro, prisão de quadrilha de cambistas, expulsão de estrangeiros baderneiros, pane no sistema de som, torcida cantando o hino a plenos pulmões, torcida mal educada xingando a presidente do país, enfim, teve de tudo. Muitas coisas a elogiar, algumas poucas a lamentar.
Como havia previsto, meus amigos, teve Copa sim e foi ótima! Aos que lutaram contra e fizeram de tudo para dificultar a sua realização, o pedido para que revejam os seus conceitos, reflitam profundamente, ampliem os seus horizontes e passem a lutar a favor das boas coisas, sem o deletério sentimento do derrotismo. Vamos em frente, Brasil!
Um grande abraço espinosense.