Se meu coração já perigava transbordar de tristeza nesta semana dura e difícil, agora é que tal situação tornou-se completa. Morreu Vander Lee!
O talentoso cantor e compositor mineiro de Belo Horizonte, torcedor do Atlético, era um dos meus artistas preferidos, com suas canções cheias de balanço, suingue, bom humor, leveza e de admirável poesia.
Vander Lee morreu aos 50 anos de idade, após sofrer um aneurisma no coração, por volta das 8 horas da manhã desta sexta-feira, 5 de agosto.
Vai-se embora deste mundo, de maneira tão lamentavelmente abreviada, um artista deveras especial, criador de músicas maravilhosas que tocam a alma e o coração dos mais sensíveis, como "Onde Deus Possa me Ouvir", "Esperando Aviões", "Pra Ser Levada em Conta", "Siga em Paz", "Iluminado", "Meu Jardim", "Alma Nua" e "Românticos", entre tantas outras.
Vander Lee traduzia o cotidiano da nossa suada vida em canções com muita perspicácia, seja falando de futebol ("Galo e Cruzeiro"), seja falando das dificuldades da vida de forma muitíssimo bem humorada ("Sambado"), seja tirando sarro das situações de amor e convivência ("Subindo a Ladeira" e "Chazinho com Biscoito").
Vander Lee lançou 9 álbuns, entre estúdio e ao vivo. O seu último trabalho em disco foi a gravação de um DVD no Teatro Tom Jobim, no Rio de Janeiro, no dia 2 de julho, para comemorar os 20 anos do seu primeiro álbum e que deverá ser lançado no ano que vem.
Meu coração está triste. Vander Lee, a quem tanto admiro o talento musical, se foi, repentina e irremissivelmente. Que Deus saiba compreender suas palavras tão cheias de poesia, beleza e significado inseridas na canção "Alma Nua":
"Ó meu Pai, dá-me o direito
De dizer coisas sem sentido
De não ter que ser perfeito
Pretérito, sujeito, artigo definido
De me apaixonar todo dia
De ser mais jovem que meu filho
E ir aprendendo com ele
A magia de nunca perder o brilho
Virar os dados do destino
De me contradizer, de não ter meta
Me reinventar, ser meu próprio Deus
Viver menino, morrer poeta."
Os poetas podem até morrer, mas seus versos e suas canções estarão para sempre dentro dos nossos corações. Obrigado por todas as alegrias que suas canções me proporcionaram, por todos os bons momentos vividos ouvindo seu som contagiante, enfim, obrigado por tudo, Vander Lee!
Descanse em paz, poeta!
Um grande abraço espinosense.
Alma Nua
Vander Lee
Ó Pai
Não deixes que façam de mim
O que da pedra tu fizestes
E que a fria luz da razão
Não cale o azul da aura que me vestes
Dá-me leveza nas mãos
Faze de mim um nobre domador
Laçando acordes e versos
Dispersos no tempo
Pro templo do amor
Que se eu tiver que ficar nu
Hei de envolver-me em pura poesia
E dela farei minha casa, minha asa
Loucura de cada dia
Dá-me o silêncio da noite
Pra ouvir o sapo namorar a lua
Dá-me direito ao açoite
Ao ócio, ao cio
À vadiagem pela rua
Deixa-me perder a hora
Pra ter tempo de encontrar a rima
Ver o mundo de dentro pra fora
E a beleza que aflora de baixo pra cima
Ó meu Pai, dá-me o direito
De dizer coisas sem sentido
De não ter que ser perfeito
Pretérito, sujeito, artigo definido
De me apaixonar todo dia
De ser mais jovem que meu filho
E ir aprendendo com ele
A magia de nunca perder o brilho
Virar os dados do destino
De me contradizer, de não ter meta
Me reinventar, ser meu próprio Deus
Viver menino, morrer poeta
Pensei que Fosse o Céu
Vander Lee
"Eu vinha sem retrovisor
Um rosto estranho me chamou
E a minha pele não me coube mais
A sorte veio e me encontrou
Na corda bamba do amor
Meus dias nunca mais serão iguais
Estava ali, me confundi
Pensei que fosse o céu
O azul do mar me chamou
E eu pulei de roupa e de chapéu
A onda veio e me levou
Desse lugar e agora sou
Uma ilusão, a solidão é meu troféu"
Aquela Esstrela
Vander Lee
"Por isso não se espante
Se numa noite bela
Aquela estrela brilhante
Em sua janela bater"
1997 - Vander Lee (Produção independente)
1999 - No Balanço do Balaio (Selo Kuarup)
2003 - Vander Lee ao vivo (Indie Records)
2005 - Naquele Verbo Agora (Indie Records)
2006 - Pensei que Fosse o Céu ao vivo (Indie Records)
2009 - Faro (Deckdisc)
2012 - Sambarroco (Microservice)
2014 - Loa
2015 - Vander Lee 9
Meu Jardim
Vander Lee
Tô relendo minha lida, minha alma, meus amores
Tô revendo minha vida, minha luta, meus valores
Refazendo minhas forças, minhas fontes, meus favores
Tô regando minhas folhas, minhas faces, minhas flores
Tô limpando minha casa, minha cama, meu quartinho
Tô soprando minha brasa, minha brisa, meu anjinho
Tô bebendo minhas culpas, meu veneno, meu vinho
Escrevendo minhas cartas, meu começo, meu caminho
Estou podando meu jardim
Estou cuidando bem de mim
Siga em Paz
Vander Lee
E vem você dizer
Que o meu calor já não te aquece mais
O que devo fazer
Se nesse travesseiro já não dorme a paz
E quando amanhecer
E o dia me encontrar tão só com meus botões
Eu não vou entender
Meu corpo só conhece a língua das paixões
Saiba meu amor, meu coração só sabe se entregar
Basta um chamado seu que eu não demoro a chegar
Tudo que separa nos prepara para um novo encontrar
Quando você partir não quebre as pontes que atravessar
E vem você dizer
Que o meu amor não te apetece mais
O que posso fazer
Além de desejar que você siga em paz
Mesmo que algo melhor te espere do lado de lá
Quando você partir não quebre as pontes que atravessar
Mesmo que a vida se transforme numa dança sem par
Fique na pista, não desista, deixe essa canção te levar