Espinosa, meu éden

Espinosa, meu éden

sábado, 28 de abril de 2018

1963 - Um dia de tempestade

Vou lhes contar uma historinha hoje. Trata-se de um fato verídico que aconteceu comigo e com toda a turma de colegas da AABB Montes Claros durante uma jornada esportiva da Fenabb realizada anos atrás em Pará de Minas. Só não consegui precisar o ano em que ocorreu.
Como sempre acontece, anualmente, os atletas representantes das AABBs participam dos jogos da Fenabb - Federação Nacional das AABBs, em torneios eliminatórios realizados em cidades-polo até uma edição nacional em que são premiadas as melhores equipes em várias modalidades esportivas, tais como vôlei, futebol society e futsal, entre outras. Após a passagem pela fases iniciais, a AABB Montes Claros foi disputar a fase estadual na cidade de Pará de Minas. Com toda a estrutura montada para receber várias delegações do estado, a competição ia evoluindo muito bem, dentro do esperado. Até que na tarde do sábado, durante a partida em que a equipe master da AABB MOC enfrentava um adversário na briga pela classificação às finais, eis que uma tremenda tempestade caiu sobre a cidade. As dependências da AABB de Pará de Minas se transformaram em um cenário de filme de terror, com os céus escurecendo rapidamente por conta de uma chuva torrencial que desabou sobre a cidade, acompanhada de ventos fortes e muitos raios e trovões que iluminavam o firmamento. A partida continuou acontecendo debaixo do temporal até certo ponto, quando ficou impossível a prática do futebol no campo completamente alagado. Então, torcedores e atletas saíram correndo para a área coberta da sede do clube, enquanto os raios e trovões explodiam no ar trazendo muito medo e algum pânico. Com a intensa ventania, grandes árvores caíram, uma delas desabou sobre a quadra de futsal. Parte do alambrado do campo society tombou. As tendas armadas para servir de restaurante aos visitantes foram derrubadas. Cadeiras foram arremessadas longe, assim como um pato de acrílico que integrava a área da piscina. Telhas de cerâmica foram arrancadas no espaço do bar, deixando o teto esburacado, por onde caía incessantemente a chuva forte.
Fazia parte da nossa delegação na ocasião, o querido amigo Aristides, um senhor sexagenário amante do esporte que integrava o nosso time master de futebol society. Como tinha problemas cardíacos, ele usava uma espécie de marca-passo. Durante a confusão, na correria para se abrigar dos raios e da ventania, todo mundo correu para os locais fechados do clube para se proteger. Uns ficaram ainda mais desesperados ao se descobrirem ao lado de Aristides, fugindo como louco da sua proximidade, com receio de os raios serem atraídos pelo seu marca-passo. Para quem não sabe, o marco-passo é um pequeno dispositivo de aplicação médica implantando no paciente com o objetivo de regular os batimentos cardíacos. Quis Deus que a tempestade não durasse muito tempo e logo a confusão se desfez. Somente aí é que se pôde visualizar os estragos causados pelo assustador vendaval.
Lembro-me bem que na hora do vendaval estava eu fora das dependências da AABB Pará de Minas, dentro do ônibus estacionado na avenida em frente, guardando minhas coisas na mochila. De repente, o ônibus começou a balançar violentamente como se tivesse uma multidão o empurrando pra lá e pra cá. Com os vidros fumê e as cortinas fechadas, era impossível saber o que estava acontecendo lá fora. Surpreso, segurando nas poltronas, corri então para a porta, onde se encontrava o motorista, e só aí me dei conta do que estava acontecendo. Uma ventania louca varria a avenida derrubando árvores e arrancando telhados, enquanto a chuva forte alagava tudo, uma verdadeira loucura. Não havia o que fazer senão permanecer ali parado e quieto e rezar para que tudo terminasse logo. 
Terminado aquele momento que parece ter demorado horas, eu e outros colegas que estávamos dentro do ônibus, saímos e nos dirigimos à AABB e lá tomamos ciência dos enormes estragos causados pela tempestade. Como não havia mais condições no clube para a continuidade dos jogos, com a interdição dos campos, a competição foi declarada suspensa e, após uma reunião com os organizadores, os times foram considerados classificados para a fase seguinte que seria disputada em Niterói, no Rio de Janeiro, já na fase nacional, para alegria de todos. 
Mas quem passou por aqueles momentos de medo e terror, jamais se esquecerá, nem Aristides nem muito menos quem estava próximo dele. O caro amigo Aristides anda sumido, talvez morando em sua Mato Verde. Espero que esteja feliz, forte e firme. E distante das tempestades. A ele, um fraterno e saudoso abraço.
Um grande abraço espinosense.  



      









O time Master da AABB MOC em Pará de Minas:
Zé Américo, Damata, Marcão e Ede;
Hernan, Maurício, Valcir e o grande Aristides.