Espinosa, meu éden

Espinosa, meu éden

domingo, 20 de janeiro de 2013

624 - 30 anos sem o "Anjo das Pernas Tortas"

O dia 20 de janeiro é conhecido pelos católicos como o dia de São Sebastião, padroeiro da nossa tão querida Espinosa. Ou como a data de posse dos presidentes americanos, neste ano com a posse de Barack Hussein Obama no seu segundo mandato. Ou ainda a data da morte da belíssima atriz Audrey Hepburn, ocorrida no ano de 1993, aos 63 anos. E também o dia da libertação dos 52 reféns americanos no Irã, em 1981, tema do filme "Argo", que está em cartaz nos cinemas do país e que concorre ao prêmio de melhor filme no Oscar deste ano.
Mas essa data, ainda, marca tristemente o desaparecimento prematuro de um dos maiores gênios da história do futebol mundial, o ponta-direita Garrincha, que brilhou intensamente no Botafogo e na Seleção Brasileira e encantou o mundo com as suas jogadas sensacionais que saíam inexplicavelmente daquelas suas pernas tortas.
As eternas e mágicas pernas tortas

O legendário número sete na camisa
Nascido em Magé (RJ), no distrito de Pau Grande, em 28 de outubro de 1933, Manuel Francisco dos Santos se notabilizou como um dos mais competentes e habilidosos dribladores da história, com sua irreverência e seus dribles desconcertantes nos marcadores, apelidados por ele de "João", simplesmente. Garrincha, nome de um passarinho, apelido que ganhou ainda menino de uma de suas irmãs, começou a jogar futebol em um time de futebol amador do distrito onde nasceu e mais tarde construiu uma carreira de sucesso no time do Botafogo e na Seleção Brasileira. Integrou o time do Botafogo no período de 1953 a 1965 e jogou ao lado de eternos craques como Manga, Nílton Santos e Didi.

A carreira no Botafogo ao lado de Manga, Nílton Santos, Didi e Zagalo
Disputou e venceu as Copas de 1958, na Suécia, e de 1962, no Chile, esta de maneira espetacular, com atuações impecáveis, liderando a equipe que estava desfalcada do Rei Pelé, machucado. Nesta copa ele fez gols de todas as maneiras, algumas delas fora de suas características, como gol de cabeça, de perna esquerda, de chute de fora da área e em cobrança de falta. Foi o grande comandante daquela equipe campeã do mundo.


A brilhante carreira na Seleção Brasileira, bicampeão mundial
Garrincha casou-se primeiramente com a sua namorada de infância, Nair, com quem teve nove filhas. Com Iraci, sua segunda esposa, teve um filho, que morreu em um acidente de carro, aos 28 anos. Depois se uniu à cantora Elza Soares, em um relacionamento longo e tumultuado. O único filho dessa união faleceu precocemente em um acidente automobilístico, aos 9 anos. Garrincha ainda é pai de um cidadão da Suécia, fruto de um relacionamento seu com uma moradora do país, quando ele esteve por lá em uma excursão do time do Botafogo. Ele ainda é pai de Lívia, filha sua e de Vanderléia, sua última esposa.
Mané Garrincha maravilhou a todos que o viram jogar. Entrou para a história como "A Alegria do Povo" ou o "Anjo das Pernas Tortas". Depois de sair do Botafogo, já em final de carreira, Garrincha perambulou por alguns times, sem brilho e por pouco tempo. Em toda a carreira profissional em clubes ele disputou 658 jogos e marcou 252 gols. Na Seleção Brasileira foram 60 jogos, 16 gols e apenas uma derrota. Esses números não são exatos e há divergências em várias fontes consultadas.
Infelizmente, ele foi vencido pelo vício do álcool, que destruiu a sua carreira e a sua vida. Ele morreu de cirrose hepática em 20 de janeiro de 1983, aos 49 anos de idade, deixando o país do futebol órfão de um dos seus maiores ídolos.
A "Alegria do Povo", de adultos e crianças

Cena comum: vários adversários a tentar pará-lo

Encontro de gênios do futebol: Garrincha e Pelé
A sua vida e os seus incríveis malabarismos com a bola estão eternizados no documentário "Garrincha - Alegria do Povo" de 1962, dirigido por Joaquim Pedro de Andrade; no documentário curta-metragem "Mané Garrincha", de 1978, dirigido por Fábio Barreto e no filme "Garrincha - Estrela Solitária", de 2003, baseado no livro "Estrela Solitária - Um Brasileiro Chamado Garrincha" de Ruy Castro. Também está imortalizado na poesia de Vinícius de Moraes, logo abaixo.

O Anjo das Pernas Tortas
Vinícius de Moraes

A um passe de Didi, Garrincha avança
Colado o couro aos pés, o olhar atento
Dribla um, dribla dois, depois descansa
Como a medir o lance do momento. 

Vem-lhe o pressentimento; ele se lança
Mais rápido que o próprio pensamento,
Dribla mais um, mais dois; a bola trança
Feliz, entre seus pés – um pé de vento!

Num só  transporte, a multidão contrita
Em ato de morte se levanta e grita
Seu uníssono canto de esperança. 

Garrincha, o anjo, escuta e atende: Gooooool!
É pura imagem: um G que chuta um O
Dentro da meta, um L. É pura dança!

Na pesquisa feita para a publicação desta postagem, descobri uma história que me parece desconhecida por grande parte da torcida do Cruzeiro. Em um amistoso festivo realizado no Estádio Mamudão, em Governador Valadares, no dia 30 de janeiro de 1973, em comemoração aos 35 anos de emancipação política da cidade, o Democrata enfrentou um time misto do Cruzeiro, já que o time titular estava disputando a Taça Minas Gerais. O centroavante Evaldo, voltando de contusão, e o então iniciante Joãozinho, craque ponta-esquerda que se tornaria um dos grandes ídolos do time, participaram do jogo vencido pelo Cruzeiro por 3 x 0.
Mas o curioso desta história é que Mané Garrincha havia sido contratado para jogar pelo Democrata. Acontece que o treinador e os dirigentes da "Pantera" (como é conhecido o clube na cidade) não aprovaram a presença de Mané no time, alegando que ele não havia treinado um dia sequer com os companheiros. Os promotores do evento, preocupados com a reação negativa da torcida que lotou o estádio na esperança de ver Garrincha jogar, não tiveram dúvidas e então se dirigiram aos dirigentes do Cruzeiro para que aceitassem a presença dele no time azul, proposta aceita de prontidão. Garrincha então entrou em campo com uma camisa amarela da Seleção Brasileira com o número sete às costas, sendo aplaudido enlouquecidamente, e antes do início da partida a retirou e a presenteou ao capitão Luizinho, do Democrata. Só aí o público percebeu que Garrincha vestia por baixo a camisa azul do Cruzeiro, o que gerou uma enorme e estrondosa vaia no estádio. A "Alegria do Povo" jogou apenas o primeiro tempo, mas entrou para sempre na história do Cruzeiro. Garrincha ainda jogaria muitos outros jogos de exibição por muitas cidades do Brasil.


Dados da partida amistosa: Democrata 0 x 3 Cruzeiro
Data: 30/01/1973
Local: Estádio Mamudão, em Governador Valadares-MG.
Gols: Evaldo (2) e Aender.
Democrata: Juvenal, Zelito (Hélio), Bentinho, França e Jairo (Cotinha); Luizinho (Maurício), Roberto Felipe (Paulo Mariante) e Wellington; Zeca (Carlinhos), Dé e Piolho.
Cruzeiro: Vítor; Pedro Paulo, Camilo (William), Misael e Geraldo Galvão; Toninho Almeida, Pirulito e Aender; Garrincha (Alexandre), Evaldo e Joãozinho.

Pode-se dizer muito de Garrincha, que era mulherengo, que era ingênuo, que não tinha o mínimo controle sobre o dinheiro que ganhava e doava aos amigos sem a menor preocupação, que era alcoólatra, que era alienado. Mas também é verdade que ele era uma pessoa de ótimo coração, de lealdade extrema aos amigos, de uma alegria radiante, de ótimo relacionamento com todos, de uma simplicidade e de uma humildade contagiante, de um amor imenso ao lugar onde nasceu e de uma genialidade absurda para praticar futebol, desconcertando marcadores por onde quer que desfilasse o seu talento exuberante. Garrincha é um mito inextinguível!
Um grande abraço espinosense.