Espinosa, meu éden

Espinosa, meu éden

sábado, 26 de junho de 2021

2715 - Lazer gratuito em Espinosa

As possibilidades de lazer em Espinosa para a maioria da população, sobretudo a parcela menos favorecida economicamente, sempre foram mínimas. Por um bom tempo tivemos um cinema maravilhoso na cidade, o Cine Coronel Tolentino dos saudosos Tidim e Nelito. Contudo o acesso a ele era bastante limitado, devido ao custo dos ingressos. De tempos em tempos apareciam os circos e parques de diversões itinerantes, que, montados em espaços vazios da cidade, como antigamente eram o Posto Amil, a "manga" de Seu Azemar Sepúlveda ali próximo da casa de Doutor Caio e a Praça da Emater, ficavam lotados de adultos e crianças ávidos por novidades e divertimento. Para acessá-los completamente havia também a necessidade do difícil dinheiro para comprar os ingressos, sonho inatingível de muitos, o que os forçava a tentar ludibriar os porteiros dos circos, entrando às vezes por debaixo da lona para assistir aos espetáculos. Os muitos campinhos de terra batida espalhados pela cidade eram uma ampla e aberta fonte de diversão e passatempo para os homens, especialmente, já que naqueles tempos de outrora, o futebol não era praticado pelas mulheres. Para as meninas, sobretudo as pobres, sobravam as brincadeiras de rua. Bicicletas eram artigo de luxo, completamente inatingíveis para a maioria. As opções de lazer mais democráticas e acessíveis, entretanto, sempre foram os rios do nosso município, principalmente os Rios São Domingos, Bom Sucesso (do Galheiro) e o Rio Verde Pequeno. Estes eram a nossa praia, efetivamente. Sob o sol escaldante do Sertão, era nas suas águas então límpidas, correntes e por vezes caudalosas, que nos divertíamos à beça. No Rio São Domingos, o leito do rio servia como local de banho, de lutas corporais muito antes dos combates atuais do MMA, de prática de esportes como voleibol, futebol, dupla, mergulhos, saltos ornamentais, em altura e em distância. Nas margens do rio, as brincadeiras de índio, as construções de cabanas, as subidas nas muitas e altas árvores para recolher frutas, inclusive das vizinhas chácaras de Seu Abelar e Seu Cairo, de maneira sorrateira, faziam parte do cotidiano. O "Poção" do Araponga era outro ponto de encontro e diversão assim como o Açude do Mingu, mas o melhor lugar para se aproveitar a beleza da Natureza no Rio São Domingos era no Açude de Clóves, para onde íamos à pé, mais tarde já adultos, de bicicleta ou de carro. Foram vários os momentos maravilhosos e inesquecíveis vividos ali, em farrinhas com os amigos e romances com as namoradas.  
No Rio do Galheiro aconteciam as brincadeiras de descer deslizando no famoso barranco "Escorrega-lá-vai-um", os pulos nos poços mais profundos, as pescarias de bagres, as farrinhas com os amigos ao som de John Lennon no toca-fitas movido à pilha Rayovac e animadas com um litro de vinho Cortezano que causava uma dor de cabeça daquelas. Isto aí, ressalte-se, já na idade adulta.
O Rio Verde Pequeno era como se fosse nosso paraíso de férias, algo como um Porto de Galinhas sem porto e sem galinhas, um resort gratuito sem diárias e taxas de serviço, ao ar livre e disponível o tempo inteiro, onde podíamos nos entreter sem a menor preocupação com as dívidas e os problemas pessoais. Era lá, entre as grandes rochas e as corredeiras de águas cristalinas próximas das areias alvas, que nos esbaldávamos em companhia dos amigos e das amigas. Lá também praticávamos esportes como atletismo, futevôlei, dupla e futebol, muitas vezes nos eventos promovidos pela Prefeitura durante os Carnavais da época de Betão prefeito. Ali também acontecia um pouco de tudo, pescarias, churrascos, reuniões familiares e até encontros amorosos escondidos. Tudo na maior alegria, entusiasmo, paz e harmonia. E sem a maldita poluição!
Infelizmente, com a ignorância e a estupidez humana prevalecendo, isso foi sendo tirado em parte da população. O Rio Verde ainda resiste, mesmo muito maltratado, mas o São Domingos e o Galheiro praticamente morreram, massacrados pela falta de cuidado e inteligência de parte da população que poderia estar usufruindo, com seus filhos, do seu encanto natural. É impossível compreender a natureza humana, com as pessoas destruindo aquilo que só lhes traz benefícios e prazer. E de graça! Ao invés de destruírem tudo, poluindo o leito, cortando árvores e jogando lixo nas margens, deveriam proteger os rios para usufruírem dele em pleno centro da cidade como o fazem as populações de algumas cidades, Barreiras e Correntina, por exemplo. 
Sorte dos que ainda têm a felicidade de curtir a beleza das águas dos nossos rios em locais ainda não completamente poluídos. Ficaram eternizados na mente já titubeante os momentos formidáveis que vivi nesses locais tão aprazíveis. Espero que as pessoas um dia cresçam em discernimento, cultura e inteligência para que passem a respeitar a Natureza, sem destruir o Meio Ambiente, sua própria casa neste planeta esférico, diverso e lindo. Não acredito muito nisso, mas vou continuar insistindo e rogando a Deus dia após dia para que isto aconteça. Quem sabe um dia o povo não acorda?
Um grande abraço espinosense.