Foi em um dia 28 de julho, ao nascer do dia de uma quinta-feira, lá no longínquo ano de 1938, que os famosos e controversos Lampião e Maria Bonita foram localizados, cercados, mortos e brutalmente decapitados em Poço Redondo, no Sertão de Sergipe, exatamente dentro das terras da Fazenda Angicos.
Lampião, ou Virgulino Ferreira da Silva, nasceu em 4 de junho de 1898 na cidade pernambucana de Serra Talhada, na época chamada de Vila Bela. Maria Bonita, ou Maria Gomes de Oliveira, ou ainda Maria Déa, nasceu no dia 8 de março de 1911, na atual cidade de Paulo Afonso, na Bahia. Lampião era alfabetizado e ganhava a vida como artesão, até que seu pai foi morto pela polícia e, revoltado e com anseio de vingança, entrou para o cangaço ao lado de dois de seus irmãos, inicialmente como integrante do bando de Sinhô Pereira. A partir do ano de 1922, Lampião assumiu o comando e protagonizou uma das mais controvertidas sagas do povo brasileiro, transformando-se em um personagem amado e odiado, respeitado e temido, visto antagonicamente como herói e bandido, angariando reverência e repugnância por suas ações de ataque a fazendas, matando reses para aplacar a fome sua e de seus comandados, e extorsão a comerciantes, recolhendo mantimentos com a mesma finalidade. Em suas andanças pela Caatinga, conheceu e agregou ao seu bando em 1930 aquela que passou a ser sua amada, Maria Bonita, com quem teve uma filha, de nome Expedita Ferreira Nunes, entregue a amigos vaqueiros para ser criada. Maria Bonita ainda engravidou outras vezes, mas perdeu todos os bebês.
Pressionado por poderosos coronéis fazendeiros, políticos e comerciantes do Sertão, Getúlio Vargas autorizou a criação de grupos militares, chamados de volantes, para perseguir e acabar com a vida do sanguinário e violento fora da lei Lampião. Assim é, que depois de fracassadas operações para encontrar e matar o "Capitão", a força volante comandada pelo coronel João Bezerra da Silva, seguindo informações retiradas sob tortura do coiteiro Pedro de Cândida, atacou o bando acampado na grota de Angicos e fuzilou boa parte dos 34 cangaceiros lá cercados. Conforme estudos, Lampião recebeu três tiros, morrendo instantaneamente, ao contrário de Maria Bonita, que ferida seriamente mas ainda viva, teve o pescoço degolado, assim como Quinta-Feira e Mergulhão. O autor dos tiros que mataram Lampião são creditados ao Galeguinho, apelido do cabo Sebastião Vieira Sandes.
Após a morte e a degolação dos fugitivos cangaceiros tão procurados, os corpos foram deixados aos urubus e as cabeças cortadas viraram troféus de guerra, sendo apresentados ao povo de várias cidades do país, entre elas Piranhas (AL), Maceió e Salvador. Nesta última cidade, as cabeças ficaram expostas no Museu do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues entre os anos de 1938 e 1969, quando foram finalmente entregues aos seus respectivos familiares para um sepultamento digno. O corpo de Maria Bonita foi deixado na grota de Angicos com pernas abertas e um pedaço de madeira introduzido na vagina, enquanto a cabeça de Lampião foi deformada por um violento golpe de coronha de fuzil desferido por um dos milicos. Na famosa fotografia em que aparecem grotescamente as cabeças decepadas dos onze cangaceiros, cuidadosamente dispostos para uma macabra exibição pública nos degraus da escadaria do Palácio Dom Pedro II, atual sede da prefeitura de Piranhas, estão Lampião, Maria Bonita, Quinta-Feira, Mergulhão, Luís Pedro, Elétrico, Enedina, Moeda, Alecrim, Colchete e Macela.
Já se vão 83 anos do dia em que o famoso cangaceiro Lampião e sua amada Maria Bonita, ele com 41 anos e ela com apenas 27, foram mortos e degolados em Angicos, entrando eternamente na história, sempre envoltos em polêmicas e discussões sobre suas biografias recheadas de mistérios.
Um grande abraço espinosense.