Amanhã, dia 13 de outubro de 2019, domingo, no Vaticano, em Roma, na Itália, o Brasil passará a ter sua primeira santa católica declarada oficialmente pelo Papa Francisco. Irmã Dulce, chamada carinhosamente de "Anjo Bom da Bahia", passará a ser a "Santa Dulce dos Pobres", com sua data litúrgica sendo comemorada no dia 13 de agosto de cada ano. Nada mais justo!
Se a consagração será em Roma, haverá festa também em Salvador, com uma homenagem a se realizar na Arena Fonte Nova, no dia 20 de outubro, com gratuidade no ingresso a todos os fiéis.
Irmã Dulce, batizada como Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, nasceu no dia 26 de maio de 1914 em Salvador, na Bahia, filha do dentista e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Augusto Lopes Pontes, e de Dona Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes. Ficou órfã da mãe aos 7 anos. Aos 13 anos começou a colocar em prática o seu destino de santa, ao acolher mendigos e doentes na casa onde morava com o pai e os irmãos, no bairro de Nazaré, na Rua da Independência, nº 61. O local passou a ser chamado de "Portaria de São Francisco". Ainda como Maria Rita, entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, na cidade de São Cristóvão, em Sergipe, no ano de 1933, então com 19 anos. Em agosto do mesmo ano, recebeu o hábito de freira das Irmãs Missionárias e adotou o nome de Irmã Dulce em homenagem à sua falecida mãe. Ali se consolidava a tarefa hercúlea e desprendida de um ser humano impecável, que dedicou todo seu esforço e dedicação em prol dos mais pobres e necessitados, fazendo de tudo para assisti-los nas suas carências, com todo amor e carinho.
Nesta batalha diária, Irmã Dulce não teve medo, vergonha ou dúvida de pedir ajuda a quem quer que fosse, aceitando contribuições as mais diversas para colocar seu projeto de vida em funcionamento. Criou em 1936 a União Operária São Francisco. Apostando na Educação, fundou, em maio de 1939, o Colégio Santo Antônio, uma escola pública destinada para operários e seus filhos, no bairro de Massaranduba, em Salvador. Na busca de um local mais apropriado para cuidar dos muitos pobres e doentes que acolhia nas ruas, ela ocupou um velho galinheiro próximo do Convento Santo Antônio, isso no ano de 1949. Dez anos depois, criou a OSID-Associação Obras Sociais Irmã Dulce, que estruturou melhor a sua luta, resultando na criação logo no ano seguinte do Albergue Santo Antônio. Amante do futebol e da arte, ela torcia pelo Ypiranga e fundou o Cine Roma em 1948, em Salvador.
Irmã Dulce ficou conhecida no mundo inteiro pela sua dedicação integral aos pobres do Brasil, encontrando-se com o Papa João Paulo II em 7 de julho de 1980, em visita do Pontífice ao nosso país. Encontrou-se com o Papa João Paulo II pela segunda vez no Brasil em 20 de outubro de 1991, já bastante debilitada. Foi indicada para receber o Prêmio Nobel da Paz em 1988.
Para ser canonizada, Irmã Dulce teve que ter um primeiro milagre reconhecido, com a sua beatificação ocorrendo em 22 de maio de 2011. O milagre se deu com a recuperação de uma mulher desenganada pelos médicos, Claudia Cristina dos Santos, após complicações em processo pós-parto de seu filho Gabriel, com cirurgias seguidas sem estancamento da hemorragia. Com o apelo de familiares da senhora à Irmã Dulce, milagrosamente a hemorragia se dissipou rapidamente. O caso aconteceu em 11 de janeiro de 2001 na cidade de Itabaiana, em Sergipe. O segundo milagre aconteceu com José Maurício Moreira que não enxergava há 14 anos por conta de um glaucoma e que, após oração à Irmã Dulce, voltou imediatamente a enxergar exatamente no dia 10 de dezembro de 2014 em Recife, Pernambuco.
Uma graça só é considerada milagre pelo Vaticano após atender a quatro pontos básicos: a instantaneidade, que assegura que a graça foi alcançada logo após o apelo; a perfeição, que garante o atendimento completo do pedido; a durabilidade e permanência do benefício e seu caráter preternatural (não explicado pela ciência).
Dois outros santos tem relação com o Brasil. Frei Galvão, nascido em 1739, em Guaratinguetá, São Paulo, foi o primeiro santo nascido no Brasil a ser canonizado, em 11 de maio de 2007, pelo Papa Bento XVI. Depois foi Madre Paulina, moradora de Santa Catarina desde seus 10 anos, mas nascida na Itália, que também foi canonizada.
A instituição criada pela Irmã Dulce, a OSID-Obras Sociais Irmã Dulce, continua funcionando a pleno vapor, com atendimento pelo SUS-Sistema Único de Saúde, totalmente gratuito, com cerca de 3,5 milhões de atendimentos ambulatoriais por ano, 60 milhões nos últimos 25 anos, com mais de 280 mil cirurgias realizadas.
A agora Santa Dulce dos Pobres faleceu no dia 13 de março de 1992 no Convento Santo Antônio, em Salvador, aos 77 anos, deixando ao mundo inteiro o exemplo de desprendimento, amor imensurável e dedicação plena à solidariedade e ao cuidado com os irmãos mais necessitados. Que saibamos refletir e colocar em prática um mínimo dessa sua história grandiosa.
Um grande abraço espinosense.