Espinosa, meu éden

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quinta-feira, 19 de junho de 2014

993 - Em tempo de Copa, o craque Chico Buarque de Hollanda chega aos 70 anos

Ele dispensa comentários. Seja empunhando um violão ou uma caneta, a qualidade ímpar está estampada brilhantemente em seus trabalhos. Ele criou clássicos da música brasileira falando de tudo um pouco, ou muito. Lá estão a tão elogiada alma feminina, o suíngue do samba genuinamente brasileiro, o descrever do caminhar do cotidiano, as vicissitudes e os prazeres do amor, assim como as suas inquietações e as contestações políticas. Além disso, as criações de livros, musicais, peças teatrais e filmes. Tudo isso em um caldeirão de palavras certas e harmonias perfeitas. Chico é gênio, da música e da palavra.


É hoje, dia 19 de junho, o seu aniversário de 70 anos. O quarto dos sete filhos do historiador Sérgio Buarque de Hollanda e da pianista Maria Amélia Cesário Alvim, lançou o primeiro disco em 1966 e nele já apareciam duas obras-primas, "Pedro Pedreiro" e "A Banda". Daí em diante, em mais de 40 álbuns lançados, viriam outras maravilhas da canção brasileira: "Construção", "Samba de Orly", "Cotidiano", "O Que Será", "Olhos nos Olhos", "Meu Caro Amigo", "Apesar de Você", "Cálice", "Gente Humilde", "Atrás da Porta" etc etc etc. Paro por aqui, pois se for enumerar todas as suas grandes canções vai faltar espaço.
Francisco Buarque de Hollanda, ou simplesmente Chico, como é carinhosamente conhecido, desde os 9 anos já iniciava a sua trajetória de criação musical, com algumas marchinhas de carnaval. Aos 12, criava operetas que eram cantadas pelas suas irmãs. Aos 13 anos, apaixona-se pelo futebol. Aos 14 anos, desperta o amor pela literatura. Aos 15, é encantado pelo som de João Gilberto, no disco "Chega de Saudade", que mudou radicamente a sua relação com a música. Seu sonho, a partir dali, seria "cantar como João Gilberto, fazer música como Tom Jobim e letra como Vinícius de Moraes". 
Chico Buarque destaca-se em tudo o que faz, até no futebol. Criou um time para si, o "Politheama", onde bate uma peladinha com os amigos. Dizem que joga direitinho. 
Na literatura, uma de suas paixões, escreveu vários livros:  "Fazenda Modelo" (1974), "Chapeuzinho Amarelo" (1979), "A Bordo do Rui Barbosa" (1981), "Estorvo" (1991), "Benjamim" (1995), "Budapeste" (2003) e "Leite Derramado" (2009). Destes,  Estorvo, Benjamim e Budapeste viraram filmes.
Criou ainda cinco peças de teatro, todas com inegável sucesso: "Roda Viva" (1967), "Calabar" (1973), "Gota D’Água" (1975), "Ópera do Malandro" (1978) e "O Grande Circo Místico" (1983).
Na televisão, apresentou o programa "Chico e Caetano", com Caetano Veloso, na TV Globo, durante sete meses.


Suas canções estão imortalizadas nas mais diversas vozes da música brasileira, desde Maria Bethânia, Gal Costa, Elis Regina até Pena Branca e Xavantinho, Rolandro Boldrim e Engenheiros do Hawaii.
Chico é um incansável criador, hoje um pouco mais afastado da música e mais próximo da literatura. Atualmente está trabalhando na finalização do seu mais novo livro, ainda sem data para lançamento.
Não é preciso falar muita coisa de Chico Buarque. As suas obras falam por si. É só conferir:
  • Apesar de você, amanhã há de ser, outro dia, você vai ter que ver, a manhã renascer, e esbanjar poesia, como vai se explicar, vendo o céu clarear, de repente, impunemente, como vai abafar, nosso coro a cantar, na sua frente ("Apesar de Você");
  • Sentou pra descansar como se fosse sábado, comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe, bebeu e soluçou como se fosse um náufrago, dançou e gargalhou como se ouvisse música, e tropeçou no céu como se fosse um bêbado, e flutuou no ar como se fosse um pássaro, e se acabou no chão feito um pacote flácido, agonizou no meio do passeio público, morreu na contra-mão atrapalhando o tráfego ("Construção");
  • O meu amor, tem um jeito manso que é só seu, de me fazer rodeios, de me beijar os seios, me beijar o ventre, e me deixar em brasa, desfruta do meu corpo, como se o meu corpo fosse a sua casa, ai ("O Meu Amor");
  • Se nós, nas travessuras das noites eternas, já confundimos tanto as nossas pernas, diz com que pernas eu devo seguir, se entornaste a nossa sorte pelo chão, se na bagunça do teu coração, meu sangue errou de veia e se perdeu, como, se na desordem do armário embutido, meu paletó enlaça o teu vestido, e o meu sapato inda pisa no teu ("Eu te Amo");
  • Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar, com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar, depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar, e cheios de ternura e graça foram para a praça, e começaram a se abraçar, e ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou, e foi tanta felicidade que toda a cidade se iluminou, e foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais, que o mundo compreendeu, e o dia amanheceu em paz ("Valsinha");
  • Num tempo, página infeliz da nossa história, passagem desbotada na memória das nossas novas gerações, dormia a nossa pátria mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações, seus filhos erravam cegos pelo continente, levavam pedras feito penitentes, erguendo estranhas catedrais, e um dia, afinal, tinham direito a uma alegria fugaz, uma ofegante epidemia que se chamava carnaval, o carnaval, o carnaval ("Vai Passar").
Um grande abraço espinosense. E viva Chico Buarque de Hollanda!

Já que estamos em época de Copa do Mundo, lá vai uma bela canção do Chico sobre o nosso mais amado esporte.

O Futebol

Para estufar esse filó, como eu sonhei
Só se eu fosse o Rei
Para tirar efeito igual ao jogador
Qual compositor
Para aplicar uma firula exata
Que pintor
Para emplacar em que pinacoteca, nega
Pintura mais fundamental
Que um chute a gol, com precisão
De flecha e folha seca

Parafusar algum joão, na lateral
Não, quando é fatal
Para avisar a finta enfim
Quando não é sim
No contrapé
Para avançar na vaga geometria
O corredor
Na paralela do impossível, minha nega
No sentimento diagonal do homem-gol
Rasgando o chão e costurando a linha

Parábola do homem comum
Roçando o céu, um senhor chapéu
Para delírio das gerais
No coliseu
Mas que rei sou eu
Para anular a natural catimba
Do cantor
Paralisando esta canção capenga, nega
Para captar o visual
De um chute a gol
E a emoção da idéia quando ginga

(Para Mané para Didi para Mané Mané para Didi para Mané para Didi para
Pagão para Pelé e Canhoteiro)







992 - A Copa do Mundo na Vila do Guiné, na Chapada Diamantina

Mucugê é uma cidade baiana com pouco mais de 18 mil habitantes, localizada na Chapada Diamantina, colonizada pelos indígenas e com característicos casarões coloniais de estilo português na paisagem. No século XIX, ápice do seu poderio econômico, a cidade era importante centro de mineração de ouro e diamantes. Atualmente, Mucugê tem a sua economia baseada no agronegócio e no turismo, em virtude das suas belezas naturais, graças às suas montanhas, cânions e cachoeiras.
A 42 km da cidade de Mucugê está a Vila do Guiné, uma pequena vila em meio à Chapada Diamantina. Foi lá (e em outros 700 lugares do país) que a Brahma fez um evento que merece aplausos: levar as imagens da Copa do Mundo aos habitantes do lugar. O registro do evento é de emocionar e a empresa está de parabéns pela iniciativa. 
Dê só uma olhada e veja como são lindos este nosso imenso país e sua gente. E a versão da música da Legião Urbana, "Por Enquanto", ficou de arrepiar. Viva a Copa e o povo brasileiro!
Um grande abraço espinosense.