Não queiram sentir a pungente dor da perda de um filho. Muito menos de sofrer eternamente o desaparecimento de um ente querido, ainda mais quando a perda é fruto de uma ditadura violenta, covarde e sangrenta como a que se abateu sobre a Argentina entre os anos de 1976 a 1983. E foram muitos esses cidadãos desaparecidos na nossa irmã nação sul-americana, cerca de 30 mil, destroçando a vida de milhares de famílias, mães, especialmente. E algumas dessas mães desesperadas com o sumiço dos seus filhos que resolveram encarar o medo e protestar contra o regime ditatorial que assassinava e fazia desaparecer os adversários políticos. Assim, em 30 de abril de 1977, 14 corajosas e decididas mulheres se reuniram na principal praça do centro da cidade de Buenos Aires, a Praça de Maio, para exigir explicações e buscar notícias sobre seus filhos desaparecidos, iniciando assim uma incansável luta pela vida, liberdade, justiça, Democracia e direitos humanos. Com o tempo, outras mães e familiares de desaparecidos se juntaram a elas nesta luta diária que já completou 45 anos.
Uma dessas incríveis e incansáveis guerreiras da paz, a presidente da associação Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, faleceu neste domingo, 20 de novembro, em Buenos Aires, aos 93 anos. Mãe de dois filhos desaparecidos na ditadura militar que se intitulava "Processo de Reorganização Nacional", Dona Hebe tornou-se uma figura exponencial na luta contra a repressão da ditadura. Perdeu seu filho mais velho, Jorge Omar, sequestrado em 08 de fevereiro de 1977, em La Plata, seu outro filho Raúl Alfredo, desaparecido em 06 de dezembro de 1977, em Berazategui, e ainda a sua nora María Elena Bugnone Cepeda, esposa de Jorge, desaparecida em 25 de maio de 1978.
Que finalmente Dona Hebe, uma mulher firme, forte, corajosa, valente, destemida e amorosa, possa enfim reencontrar seus filhos e nora em um plano superior, condição que lhe foi negada aqui na vida terrena pelos covardes e canalhas ditadores argentinos. Que seu lindo exemplo de fé, dedicação e luta permaneça vivo nas mentes e corações das demais Mães da Praça de Maio e em todas as mães do mundo!
Que descanse em paz, Dona Hebe, e muito obrigado pela incansável luta em prol dos direitos humanos e da Democracia!
Um grande abraço espinosense.