Imagine que há apenas 134 anos tínhamos no Brasil seres humanos escravizados, comprados e vendidos como uma mercadoria qualquer, tratados como animais selvagens, às vezes espancados amarrados em troncos instalados em praças públicas. Como aceitar insensível, calado e omisso tal situação, sendo humano e cristão?
Essa aberração tão desumana teve fim, mas não completamente, no dia 13 de maio de 1888, quando a Câmara e o Senado do Império do Brasil aprovaram o projeto de lei que extinguiu a escravatura no Brasil: a Lei Áurea da Princesa Isabel de Orleans e Bragança. Importante ressaltar a decisão da então província do Ceará, que aboliu a escravidão bem antes, em 25 de março de 1884, através do seu presidente, Sátiro de Oliveira Dias. Mas esta sábia decisão não foi uma unanimidade, muito pelo contrário. Os poderosos fazendeiros escravistas não aceitavam a perda dos seus escravos, posses que valiam dinheiro. Diziam os seus representantes no parlamento que a abolição mergulharia o país em uma crise econômica, com sérias consequências políticas. E elas vieram um ano e meio depois do fim da escravidão, com fazendeiros e militares descontentes se unindo para decretar o fim do Império e o início da República. Não fosse a inteligente jogada do recém-nomeado ministro da Fazenda, Ruy Barbosa, que mandou queimar todos os registros contábeis de compra e venda de escravos no Brasil, e os fazendeiros iriam inviabilizar o novo governo com suas exigências de reparação financeira pela perda dos seus escravos.
Neste nosso Brasil, que foi o último país das Américas a abolir a maldita escravidão, o tempo passou, mas ainda percebemos o terrível racismo vivo e forte, triste e macabra realidade visível no nosso cotidiano em que irmãos brasileiros são tratados com indiferença, arrogância e preconceito.
Em mais um 20 de novembro, data da morte do líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi, no ano de 1695, mais do que nunca precisamos lutar juntos para modificar a nossa sociedade, ainda presa a retrógradas ideias e comportamentos. Que possamos refletir, derrotar a ignorância e evoluir o quanto antes para extirpar para sempre essa mancha horrível da nossa História. E se ainda há alguém que não entendeu que racismo é crime, melhor se informar. Racismo, NÃO!
Um grande abraço espinosense.
"Luxuosos Transatlânticos"
Nei Lopes e Cláudio Jorge
Em luxuosos transatlânticos
Os negros vinham da África para o Brasil
Gozando de mordomias faraônicas
Chegavam aqui com ar fagueiro e juvenil
E mal desembarcavam lá no porto
Com todo conforto
Em luxuosas senzalas iam se hospedar
Tratados a pão de ló, comendo do bom e do melhor
Levavam a vida a cantar
Lalaiá laia, lalaiá laiá, laia laia laia
Nos campos e nas cidades
Nos tempos que não voltam mais
Reinava a mais perfeita harmonia
Tudo era alegria, amor, carinho e paz
Até que exóticas ideologias fizeram o cativeiro acabar
Mas a índole mansa e pacífica
Dessa gente magnífica fez o negro se recuperar
Hoje no Brasil da liberdade
Onde tudo é igualdade
Sem distinção de raça e nem de cor
O negro agradecido ergue aos céus o seu louvor
Ô ô ô ô! Ai que saudades dos carinhos do feitor
(Obrigado Isabel)"
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