Acontecem certos fatos neste nosso lindo, vasto e injusto mundo que parecem inacreditáveis. Mas não, são acontecimentos verdadeiros, revigorantes e que renovam a nossa esperança de que Deus existe. Um desses acontecimentos incríveis ocorreu na Colômbia, no dia 1º de maio de 2023, quando uma pequena aeronave, um Cessna 206 com o piloto e mais seis passageiros, partiu de Araracuara com destino a San José del Guaviare. Ao sobrevoar a densa Floresta Amazônica, o avião teve uma pane e caiu entre as árvores e desencadeou uma comoção nacional e uma imensa operação de resgate denominada "Operación Esperanza" ("Operação Esperança") que envolveu o Exército Colombiano e vários líderes indígenas na tentativa de resgatar os sobreviventes. No trágico acidente, morreram o piloto Hernando Murcia Morales, o líder indígena Hermán Mendoza Hernández e a mãe das quatro crianças a bordo, Magdalena Mucutuy Valencia. Milagrosamente as crianças Lesly Jacobombaire Mucutuy (13 anos), Soleiny Jacobombaire Mucutuy (9 anos), Tien Noriel Ranoque Mucutuy (4 anos) e Cristin Neriman Mucutuy (11 meses) sobreviveram ao desastre, saindo juntos à procura de comida, água e ajuda pela imensidão perigosa da floresta.
"As Crianças Perdidas" ("Los Niños Perdidos") é um documentário de 2024 dirigido por Orlando Von Einsiedel e co-dirigido por Jorge Durán e Lali Houghton que está disponível no catálogo da Netflix. O filme mostra com bastante clareza e emoção a longa busca de militares e voluntários indígenas na floresta para resgatar as quatro crianças que, milagrosamente, passaram 40 dias perdidas na selva sozinhas e conseguiram água e alimento para sobreviverem precariamente. Mas durante a busca, muitas dificuldades tiveram que ser vencidas. A floresta, a chuva, a imensidão a ser vasculhada, a corrida contra o tempo e a inicial desconfiança e afastamento dos indígenas dos militares. Só mais adiante é que os dois grupos se reconciliaram para trabalharem juntos na procura das crianças, que só foram encontradas quando os militares já haviam deixado a região e os indígenas estavam no limite da desistência. Os conhecimentos dos índios foram fundamentais para o sucesso da operação de busca e resgate que trouxe de volta à civilização com vida os pequenos desaparecidos. O ponto negativo da história de bravura e alegria é que mais tarde se ficou sabendo que o pai de duas das crianças e padrasto das duas mais velhas, Manuel Ranoque, era suspeito de agressões à esposa Magdalena e abuso contra as crianças.
O documentário nos mostra, além da corajosa e heroica caçada na selva, alguns depoimentos da professora das crianças, Madadme Mendoza Ortiz, da tia Yeritza Mucutuy, da avó Fátima Mucutuy, de autoridades, militares e indígenas voluntários que integraram os grupos de busca na selva por 40 dias. É importante ressaltar a importância de todos os envolvidos na Operação Esperança, especialmente dos indígenas cuja sabedoria ancestral foi fundamental na locomoção na floresta, sobretudo dos quatro voluntários que conseguiram achar as crianças no meio das árvores: Henry Guerrero, Nicolás Ordóñez, Edwin Manchola e Eliécer Muñoz. Que Deus abençoe a todos!
Os quatro jovens indígenas, Lesly, Soleiny, Tien Noriel e Cristin Neriman, foram entregues aos cuidados do Instituto Colombiano de Bem-Estar Familiar (ICBF), instituição pública que cuida de crianças na Colômbia, estando muito bem de saúde e convivendo em harmonia e com boa saúde até a atualidade, graças a Deus. Que sejam felizes!
Fôssemos mais sábios, nós, humanos, deveríamos aprender sempre com os acontecimentos. Neste evento trágico, mas com um final feliz, em parte, tínhamos que observar a lição de que tudo fica muito mais fácil e rápido para resolver quando as pessoas se reúnem em paz e harmonia em busca de soluções para problemas complexos. Certamente a humildade e a cooperação trazem muito mais bons resultados que a arrogância e o egoísmo. O bem-sucedido resgate das crianças perdidas na selva é uma grande prova disso.
Um grande abraço espinosense.



