Espinosa, meu éden

Espinosa, meu éden

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

3660 - Conclave

Logo na segunda-feira, saí de casa à noite sozinho para curtir algo que gosto muito: cinema. Fui ao Ibicinema do Shopping Ibituruna para assistir a um filme bastante elogiado, "Conclave", indicado a muitas categorias nos mais variados e cobiçados prêmios do mundo, entre eles o Oscar, o Bafta, o SAG Awards, o Critics' Choice Awards e o Satellite Awards. Na premiação do Globo de Ouro, quando concorreu em seis categorias incluindo Melhor Filme Dramático e Melhor Diretor, o filme levou a estatueta de Melhor Roteiro, com Peter Straughan. No Oscar, que acontecerá em 2 de março de 2025, ele foi indicado em oito categorias.
Para os que gostam de filmes de ação, tiros e perseguições de carro, com aquela overdose de batidas e explosões, sugiro ficar em casa assistindo mais uma peça da interminável franquia de Velozes e Furiosos. "Conclave" trata de coisa séria de forma serena. Ou nem tão tranquila assim, pois os bastidores da escolha de um novo Papa pela Igreja Católica podem ser bastante tumultuados e efervescentes. É o que apresenta o filme dirigido por Edward Berger e escrito por Peter Straughan, baseado no romance de 2016 de Robert Harris. Com atuações impecáveis de Ralph Fiennes e Isabella Rossellini, entre outros, Conclave nos dá uma mostra das normas, negociações e decisões tomadas pelos Cardeais da Igreja Católica quando um Papa morre e um novo precisa ser imediatamente escolhido para substituí-lo. 
Para quem, como eu, pouco sabe sobre o processo de escolha de um novo pontífice, é uma oportunidade única e prazerosa de compreender o emaranhado de regras e rituais a que os integrantes da Cúria precisam seguir. É tudo muito bonito, mas o filme explora essencialmente a fragilidade humana dos representantes de Deus, esses religiosos católicos que escolheram seguir e propagar os ensinamentos de Jesus Cristo, expondo suas fraquezas e seus erros de meros seres mortais. Durante o conclave, são mostradas ao público espectador as divergências claras entre os radicais conservadores e os sensatos progressistas. Certamente haverá, assim como no filme, uma cisão entre os que querem manter as tradições seculares da Igreja Católica mesmo que o mundo evolua constantemente, e aqueles que defendem uma adequação mínima aos novos tempos, sob pena de uma debandada geral dos fieis atraídos e seduzidos por outras instituições religiosas que proclamam a teologia da prosperidade, esta doutrina ardilosa que prega que a fé em Deus e a prática de doações financeiras à igreja resultam em bênçãos materiais e financeiras. Certamente estas bênçãos caem em demasia nos bolsos de espertos e gananciosos pastores, quase todos esses tornados milionários às custas da fé dos incautos.
Como em toda obra artística, temos que captar e refletir sobre a mensagem intrínseca na trama que reúne homens abençoados, porém simples mortais com seus pecados, para selecionar aquele que comandará a secular instituição religiosa pelos caminhos do futuro, depois que a escolha conjunta faça subir aos céus a fumaça branca que sai do telhado da Capela Sistina, no Vaticano, em Roma. A lição é clara: mais sábio e humilde é exercitar a dúvida que se afundar na prepotência da certeza absoluta.



Elenco:
Ralph Fiennes - Cardeal Thomas Lawrence
Stanley Tucci - Cardeal Aldo Bellini
John Lithgow - Cardeal Joseph Tremblay
Sergio Castellitto - Cardeal Goffredo Tedesco
Isabella Rossellini - Irmã Agnes
Lucian Msamati - Cardeal Joshua Adeyemi
Carlos Diehz - Cardeal Vincent Benitez
Brían F. O'Byrne - Monsenhor Raymond O'Malley
Merab Ninidze - Cardeal Sabbadin
Thomas Loibl - Arcebispo Mandorff
Jacek Koman - Arcebispo Janusz Woźniak
Loris Loddi - Cardeal Villanueva
Balkissa Maiga - Irmã Shanumi

Gostei do filme. Muito bem roteirizado, com uma boa carga de suspense e atuações maravilhosas, sobretudo do Ralph Fiennes. Não há exageros nas cenas em que os segredos comprometedores são revelados e a trama segue equilibrada até o final bastante surpreendente. Espero que, no Oscar, ele consiga ganhar alguma estatueta, não as que estamos concorrendo com o nosso maravilhoso "Ainda Estou Aqui", obviamente.  
Um grande abraço espinosense.

 

3659 - Inteligência Artificial, para o mal ou para o bem?

Não há como estancar o avanço da tecnologia e da metamorfose universal. O grande poeta e pensador Belchior já afirmava na letra da sua formidável canção "Como Nossos Pais", com discernimento e propriedade, que "É você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem". E se não há como evitar a chegada do novo, posto que irreversível, que lutemos então contra os usos maléficos da incrível tecnologia que invade de maneira célere e sem precedentes as nossas vidas.
Aqueles que se dedicam a estudar e acompanhar com atenção e profundidade as vertiginosas mudanças no planeta, já devem conhecer as incríveis e admiráveis criações humanas com a utilização da IA-Inteligência Artificial. Alguns, gananciosos, desonestos e canalhas, a utilizam para conseguir poder e grana, engambelando incautos pelo mundo com milhões de fake News e deturpações da verdade dos fatos. Outros, talentosos, dignos e sensatos, empregam ferramenta de tão amplo alcance para produzir arte, sem tentar enganar e prejudicar ninguém. É o caso do canal "@FakemusicBr" no YouTube. De maneira divertida e extremamente criativa, os responsáveis pelo canal, @nic.heavytrack e @augustohcoldschool, criam, com a utilização da IA, versões de clássicos da música mundial com performances completamente distintas das originais, protagonizadas por artistas de outros estilos. Por lá temos Michael Jackson cantando "Highway to Hell" do AC/DC. Temos James Brown cantando "Freedom" do Rage Against The Machine. Temos Gilberto Gil cantando "Boys Don't Cry" do The Cure. Mas o mais presente artista no canal é o saudoso Tim Maia, que "retornou do paraíso" para interpretar, ao seu modo intenso, suingado e dançante, clássicos do Rock and Roll como "Come as You Are" (Nirvana), "Light My Fire" (The Doors), "Even Flow" (Pearl Jam), "Enter Sandman" (Metallica), "Smoke On the Water" (Deep Purple), "Paranoid" (Black Sabbath) e "Whole Lotta Love" (Led Zeppelin).
O resultado dessas recriações tecnológicas é no mínimo, interessantíssimo. O estilo das canções é totalmente transformado, seguindo as características dos cantores que estrelam a nova roupagem, deixando as músicas irreconhecíveis. O resultado é tão incrível e impactante que nos alerta para a necessidade urgente da regulamentação dessas ferramentas que, mal utilizadas, podem causar incontáveis estragos no mercado musical e na vida e carreira de milhões de artistas de todo o planeta. Que continue a revolução tecnológica, irrefreável e imprescindível, mas com controle límpido e virtuoso, sem causar quaisquer prejuízos às pessoas, sobretudo aos artistas, estes criativos inventores da arte e da música.
Um grande abraço espinosense.