Logo na segunda-feira, saí de casa à noite sozinho para curtir algo que gosto muito: cinema. Fui ao Ibicinema do Shopping Ibituruna para assistir a um filme bastante elogiado, "Conclave", indicado a muitas categorias nos mais variados e cobiçados prêmios do mundo, entre eles o Oscar, o Bafta, o SAG Awards, o Critics' Choice Awards e o Satellite Awards. Na premiação do Globo de Ouro, quando concorreu em seis categorias incluindo Melhor Filme Dramático e Melhor Diretor, o filme levou a estatueta de Melhor Roteiro, com Peter Straughan. No Oscar, que acontecerá em 2 de março de 2025, ele foi indicado em oito categorias.
Para os que gostam de filmes de ação, tiros e perseguições de carro, com aquela overdose de batidas e explosões, sugiro ficar em casa assistindo mais uma peça da interminável franquia de Velozes e Furiosos. "Conclave" trata de coisa séria de forma serena. Ou nem tão tranquila assim, pois os bastidores da escolha de um novo Papa pela Igreja Católica podem ser bastante tumultuados e efervescentes. É o que apresenta o filme dirigido por Edward Berger e escrito por Peter Straughan, baseado no romance de 2016 de Robert Harris. Com atuações impecáveis de Ralph Fiennes e Isabella Rossellini, entre outros, Conclave nos dá uma mostra das normas, negociações e decisões tomadas pelos Cardeais da Igreja Católica quando um Papa morre e um novo precisa ser imediatamente escolhido para substituí-lo.
Para quem, como eu, pouco sabe sobre o processo de escolha de um novo pontífice, é uma oportunidade única e prazerosa de compreender o emaranhado de regras e rituais a que os integrantes da Cúria precisam seguir. É tudo muito bonito, mas o filme explora essencialmente a fragilidade humana dos representantes de Deus, esses religiosos católicos que escolheram seguir e propagar os ensinamentos de Jesus Cristo, expondo suas fraquezas e seus erros de meros seres mortais. Durante o conclave, são mostradas ao público espectador as divergências claras entre os radicais conservadores e os sensatos progressistas. Certamente haverá, assim como no filme, uma cisão entre os que querem manter as tradições seculares da Igreja Católica mesmo que o mundo evolua constantemente, e aqueles que defendem uma adequação mínima aos novos tempos, sob pena de uma debandada geral dos fieis atraídos e seduzidos por outras instituições religiosas que proclamam a teologia da prosperidade, esta doutrina ardilosa que prega que a fé em Deus e a prática de doações financeiras à igreja resultam em bênçãos materiais e financeiras. Certamente estas bênçãos caem em demasia nos bolsos de espertos e gananciosos pastores, quase todos esses tornados milionários às custas da fé dos incautos.
Como em toda obra artística, temos que captar e refletir sobre a mensagem intrínseca na trama que reúne homens abençoados, porém simples mortais com seus pecados, para selecionar aquele que comandará a secular instituição religiosa pelos caminhos do futuro, depois que a escolha conjunta faça subir aos céus a fumaça branca que sai do telhado da Capela Sistina, no Vaticano, em Roma. A lição é clara: mais sábio e humilde é exercitar a dúvida que se afundar na prepotência da certeza absoluta.
Elenco:
Ralph Fiennes - Cardeal Thomas Lawrence
Stanley Tucci - Cardeal Aldo Bellini
John Lithgow - Cardeal Joseph Tremblay
Sergio Castellitto - Cardeal Goffredo Tedesco
Isabella Rossellini - Irmã Agnes
Lucian Msamati - Cardeal Joshua Adeyemi
Carlos Diehz - Cardeal Vincent Benitez
Brían F. O'Byrne - Monsenhor Raymond O'Malley
Merab Ninidze - Cardeal Sabbadin
Thomas Loibl - Arcebispo Mandorff
Jacek Koman - Arcebispo Janusz Woźniak
Loris Loddi - Cardeal Villanueva
Balkissa Maiga - Irmã Shanumi
Gostei do filme. Muito bem roteirizado, com uma boa carga de suspense e atuações maravilhosas, sobretudo do Ralph Fiennes. Não há exageros nas cenas em que os segredos comprometedores são revelados e a trama segue equilibrada até o final bastante surpreendente. Espero que, no Oscar, ele consiga ganhar alguma estatueta, não as que estamos concorrendo com o nosso maravilhoso "Ainda Estou Aqui", obviamente.
Um grande abraço espinosense.