Dizem que ele está ultrapassado, que nunca teve boa qualidade de som e que é coisa do passado, material já extinto do mundo moderno. Neste mundo em que imperam as malditas fake news, manipulando pessoas, promovendo canalhas e estraçalhando com a verdade, pouco me importam essas opiniões sobre os velhos e maravilhosos discos de vinil. Os meus poucos espécimes estão bem guardados e fizeram e ainda fazem diferença na minha vida, motivos das mais gostosas lembranças.
Antes de tudo, é preciso comentar um pouco sobre a história dessa mídia que encantou milhões de aficionados por música no mundo inteiro, influenciando sobremaneira artistas e admiradores. O disco de vinil surgiu no final dos anos 40 nos Estados Unidos. Tratava-se de uma mídia musical mais moderna à época, que apareceu para aposentar os velhos discos de 78 RPM, que só conseguiam suportar uma música apenas em cada lado. Com o vinil, os LP (Long Play) puderam trazer mais músicas gravadas, com uma qualidade infinitamente superior. Sendo mais leves, maleáveis e resistentes a choques, quedas e manuseio, os discos de vinil são fabricados com um tipo de plástico muito delicado, contendo microssulcos ou ranhuras em forma espiralada que levam a agulha do toca-discos da borda externa até o centro, no sentido horário. Esse processo mecânico de gravação analógica faz com que a vibração causada pela agulha nos sulcos microscópicos torne-se música após a amplificação, trazendo aquela sensação prazerosa de quem ama um aprazível som.
Feitos esses esclarecimentos, passo a falar dos meus velhos companheiros de momentos e emoções. A memória falha já não me permite lembrar o primeiro LP a ser adquirido, o que me deixa meio incomodado. Devido à importância na minha vida, era para lembrar, mas já não consigo. O certo é que, a cada disco comprado, com muita dificuldade por conta da grana curta, um turbilhão de alegria invadia minha alma. Chegava em casa impaciente para ouvir todas as músicas, a maioria ainda desconhecidas, pois apenas algumas tocavam no rádio. Colocava o disco com o maior cuidado no som "3 em 1", retirava o encarte com as letras e deitava no sofá para acompanhar passo a passo e atentamente as canções. Era um ritual de extrema satisfação que, infelizmente, se perdeu no tempo.
Uns dias atrás, resolvi reorganizar todos os meus velhos discos de vinil. Sem pressa, separei, contei e cataloguei todos eles. Descartei os muitos plásticos deteriorados pelo tempo e colei algumas capas descoladas. Redescobri tesouros, alguns em duplicidade, tamanho o meu apreço por alguns álbuns. Percebi neles adesivos das lojas que não existem mais, desde a Sem Nome e a poderosa Mesbla de Belo Horizonte até as muitas lojas de discos de Montes Claros como a Discobrasa, Curtsom, Sombel e Discão. Sem esquecer da extinta loja de discos da Rua 9 de Março em Espinosa, comandada por Júlio Figueiredo em certa época, denominada Discobel, se não me engano.
Nas capas dos álbuns, fotos dos artistas ainda jovens, de Beto Guedes a Gilberto Gil, de Zé Ramalho a Guilherme Arantes, de Chico Buarque a Lobão, de Caetano a Djavan. Em outros discos, projetos gráficos que mais parecem obras de arte e capas magnificamente bonitas como as do Pink Floyd. Entre os icônicos discos, estão "Thriller" de Michael Jackson, o "USA for Africa", o "The Concert in Central Park" de Paul Simon e Art Garfunkel, o álbum branco dos Beatles, o "...Famous Last Words..." do Supertramp, o "Luz" de Djavan, o "Burguesia" de Cazuza, o "Selvagem?" dos Paralamas do Sucesso, entre outros.
Ao final da minha lenta tarefa de organização, contabilizei exatamente 100 discos de música brasileira, com Raimundo Fagner Cândido Lopes na dianteira, com 15 álbuns na discoteca. Alceu Valença e Caetano Veloso vem em segundo lugar com 8 discos. Gilberto Gil e Guilherme Arantes aparecem em seguida com 7 discos. Depois vem Djavan, com 6, e Zé Ramalho, com 5. Na coleção de música internacional composta de 141 volumes, o Pink Floyd lidera com 15 álbuns, alguns duplos. A banda britânica Supertramp aparece na segunda posição, com 11 álbuns (dois repetidos). John Lennon, com 10, o Queen, com 9, e o Genesis, com 5 discos, vêm em seguida. Com 4 discos estão presentes Beatles, Rolling Stones, Paul McCartney, Phil Collins e Elton John.
Todos esses velhos discos têm valor, não tanto econômico, mas um expressivo valor sentimental por ter me acompanhado em momentos maravilhosos e inesquecíveis da minha já longa caminhada. Através deles eu descobri o valor da arte, a beleza do talento musical de grandes nomes da canção mundial e um tanto de conscientização política e social com as mensagens transmitidas, o que me ajudou profundamente a crescer como ser humano. São um verdadeiro tesouro pessoal e eu os adoro. Vida longa ao vinil!
Um grande abraço espinosense.