Uma artista brasileira nascida naquela região, na cidade sul-mato-grossense de Campo Grande, sente bem mais que todo mundo esta tragédia. Angustiada ao ver tudo se acabando sob o fogo, ela resolveu convidar alguns amigos para denunciar o descaso das autoridades e fazer um apelo pela preservação do Pantanal. A artista em questão é a senhora Terezinha Maria Miranda Espíndola, integrante de uma numerosa e musical família apaixonada pela sua terra. Ela é cantora, compositora e multiinstrumentista e tem anos e anos de carreira e álbuns elogiados pela crítica, mas ficou conhecida nacionalmente ao vencer, em 1985, o "Festival dos Festivais" da Rede Globo, interpretando com sua voz privilegiada a canção "Escrito Nas Estrelas", composição do marido Arnaldo Black em parceria com Carlos Rennó. Se falarmos o seu nome artístico, muita gente vai se lembrar: Tetê Espíndola.
Tetê reuniu amigos e grande nomes da música brasileira para lançar um grito de socorro na defesa do Pantanal, interpretando a profética canção "Adeus Pantanal", composição do saudoso Itamar Assumpção, cantor e compositor falecido em 2003. Participaram do projeto Alzira E, Arnaldo Antunes, Arnaldo Black, Arrigo Barnabé, Bianca Bacha, Bené Fonteles, Caito Marcondes, Carlos Navas, Carlos Rennó, Celito Espíndola, Chico César, Clarisse Abujamra, Dani Black, Duda Brack, Geraldo Espíndola, Gilson Espíndola, Iara Rennó, Jane Duboc, Jerry Espíndola, Lucina, Luz Marina, Manu Saggioro, Marina Peralta, Marta Catunda, Ney Matogrosso, Rolando Boldrin, Sandro Moreno, Sérgio Espíndola, Suzana Salles,Vânia Bastos, Virgínia Rosa e Zeca Baleiro.
A letra é triste e verdadeiramente atual, imagem de um país outrora tão colorido e magnífico agora banhado em cinzas e morte. Que o Pantanal sobreviva!
Um grande e desalentado abraço espinosense.
Fotografia: Gustavo Basso |
"Adeus Pantanal"
Itamar Assumpção
Eu nasci e vivo no Brasil, então
Eu fui à Cuiabá pra no Pantanal olhar
E fui pra ver, não vi, que decepção senti
Vi quase nada
Eu não vi bem-te-vi, beija-flor nem juriti
Eu não vi jaboti, não vi coral, sucuri
Vi quase nada
Eu não vi o quati, não vi anta nem sagui
Eu não vi o saci, não vi o grilo cri-cri-cri-cri-cri-cri-cri-cri
Vi quase nada
Eu fui à Cuiabá pra no Pantanal olhar
Eu fui pra ver, não vi, que decepção senti
Vi quase nada
Eu não vi lambari, nem pintado nem mandi
Paca também não vi, pacu, índia guarani
Vi quase nada
Eu não vi jacaré, não vi cobra cascavel
Não vi pé de sapé, nem arruda nem guiné
Vi quase nada
Eu fui à Cuiabá
Vi quase nada
Eu não vi sabiá, nem macaco nem preá
Eu não vi gurundi, nem arara nem guaxi
Vi quase nada
Eu não vi o tiê, chué uirueté, não vi pescada
Eu não vi axuri, não vi o uiriri