Espinosa, meu éden

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sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

3356 - Mais uma perda na Rua da Resina: Bolivar

Após duas plangentes e recentes perdas humanas de personalidades importantes da nossa Rua da Resina, as de Alvino e Madalena, eis que mais uma triste notícia de falecimento me chega através do Whatsapp da minha irmã D´Arc: o passamento de José Bolivar Tolentino Silva.
Integrante e primogênito de numerosa e querida família residente na Rua da Resina em Espinosa, fruto do relacionamento de Dona Cida e de Alício Comodoro, Bolivar nos deixou no início da manhã desta sexta-feira, 15 de dezembro.



Há muitos anos não me encontrava com Bolivar e dele tenho boas histórias para contar dos nossos tempos passados, quando éramos ainda adolescentes e jovens estudantes aventureiros. Lembro-me de ter presenciado algumas de suas peripécias cômicas na época em que nos divertíamos à beça nas brincadeiras juvenis na rua e no outrora preservado Rio São Domingos. Certa vez, Bolivar pegou "emprestado" um cavalo de um cidadão qualquer que foi à feira do sábado no antigo Mercado Municipal, "estacionado" em uma cerca de arame farpado nas margens do Rio São Domingos. Depois de cavalgar pelas redondezas, quando estava devolvendo ao local de origem o animal, eis que aparece o dono completamente histérico e furioso. Bolivar conseguiu se safar, desaparecendo rápido dali. Em outra situação, não deu tanta sorte. Naqueles tempos de juventude, influenciados pelos filmes de faroeste, brincávamos de bandoleiros e índios, criando bandos e fazendo cabanas na vegetação ribeirinha. Em determinado dia, estávamos eu, meus primos Júlio e Magrão e mais Bolivar, zanzando pelas margens do rio, nos fundos da casa de Tião Ramos, quando fomos surpreendidos e cercados pelos integrantes do bando do pessoal da praça, do qual fazia parte o filho de Sêo Dirceu Ribeiro, o esperto Jânio "Branco". Com muito medo e reagindo rapidamente, eu e Júlio nos enfiamos no pequeno espaço existente na cerca da retaguarda da casa da Felicidade, a Dona Dade, fugindo e alcançando velozmente a porta da rua, sob protestos da velha e assustada senhora que teve a residência invadida por aqueles moleques traquinas. Bolivar e Magrão, rendidos, foram levados pelos "bandoleiros" até uma cabana na região das chácaras de Cairo Cruz e Abelar Souza, bem acima no rio. Foram amarrados com cipós e colocados em cima de um formigueiro, até que conseguiram fugir, ainda amarrados, depois que todos fugiram com medo da enchente que chegava naquele exato momento ao Rio São Domingos. A imagem cinematográfica, tsunâmica e hilária nunca me sai da memória. Ao lado de uma pequena multidão postada em cima da ponte da Rua Genésio Tolentino, eu vi ambos, Bolivar e Magrão, em desabalada carreira na areia branca do rio completamente seco, ao passo que vinha logo atrás deles uma considerável maré arrastando tudo pelo caminho, entre folhas, galhos e até troncos de pequenas árvores, deixando extasiados nós que tanto apreciávamos a chegada da cheia no rio castigado pela seca implacável. Salvaram-se, sem maiores sequelas que não alguns arranhões e picadas. 
Bolivar também se destacava pela participação ativa nas reuniões quase diárias na famosa esquina das ruas Coronel Domingos Tolentino com Arthur Bernardes, onde se encontravam figuras ilustres, sagazes e espirituosas como Vavá, João Meira, Luizão, Nenzão e outros mais, para debaterem os mais variados assuntos e se distraírem com a criação e resolução de charadas. Além disso, Bolivar mostrava seu talento musical tocando violão com destreza, tornando famosa em nosso meio a música "Planeta Bola", composição de autoria dos artistas da cidade de Gurupi, hoje Tocantins, Milton Ferré e Adão Ferreira, o que influenciou na consolidação do seu apelido de Bolinha, ou Bola.
Outra façanha incrível de Bolivar foi a sua inacreditável sobrevivência a uma descarga elétrica monumental. Milagrosamente, ele saiu ileso e sem qualquer sequela de um choque elétrico gigante quando trabalhava em uma empresa que realizava a obra de construção do túnel que liga as barragens do Estreito e da Cova da Mandioca. Um trem de doido, sem explicação, ainda bem com final feliz. 
Aos familiares de Bolivar, os meus francos sentimentos de pesar e a minha solidariedade neste momento de tamanha tristeza e dor, com minhas preces ao Criador para que lhes conceda a bastante e necessária resignação, força e fé para superar tamanha adversidade.
Que o bom Deus o acolha com a devida remissão e que ele possa descansar em paz findado o seu percurso terreno.
Um grande abraço espinosense.