Desde ontem, 26 de setembro, está disponível no catálogo da plataforma de streaming Netflix, o documentário "A Vítima Invisível: O Caso Eliza Samudio". A peça cinematográfica dirigida por Juliana Antunes e produzida por Gustavo Mello traz imagens e declarações, da época e de agora, de várias pessoas envolvidas neste que foi um dos mais bombásticos, insólitos e cruéis crimes cometidos contra mulheres no Brasil, ainda mais com a participação central de um dos melhores goleiros da história do futebol brasileiro, o Bruno, então titular absoluto e capitão no time do Flamengo e com grandes chances de ser convocado para a disputa da Copa do Mundo pela Seleção Brasileira.
A maioria das informações apresentadas no filme não são novidade, já que foram exaustivamente mostradas na TV durante as investigações e condenações do desumano crime cometido por Bruno e seus amigos em julho de 2010, há 14 anos. As novidades são as inéditas declarações da garota assassinada, encontradas em seu telefone celular, em conversas com amigos. Nelas, vê-se claramente a vontade de a jovem goleira, atriz e modelo de querer estudar, fazer faculdade e ter paz e sossego para continuar sua vida sem medo, focando apenas na criação do seu filho Bruninho, fruto da sua efêmera relação com o ex-atleta. Nota-se, infelizmente, que algumas falhas judiciais ocorreram, mesmo com suas denúncias de violência e ameaças perpetradas pelo goleiro, sem que ela conseguisse da Justiça a proteção devida.
Como sempre, percebemos que parte conservadora e retrógrada da sociedade brasileira ainda continua a condenar as vítimas de assassinatos e agressões sexuais por conta de suas atitudes consideradas erradas, escandalosas e pecaminosas. Neste caso específico de homicídio tão horrendo e covarde, ainda se vê gente tentando justificar a atitude violenta e bárbara de Bruno e seus comparsas, inclusive mulheres, o que é inacreditável. E triste e desalentador.
Com apenas um dia da liberação do documentário na Netflix, a repercussão já é enorme no país inteiro, com opiniões de nomes conhecidos da mídia sendo apresentadas. Depois de assistir com toda atenção ao filme, li uma reportagem do jornalista Bruno Braz, do UOL, que mostra a situação atual do assassino de Eliza. Depois de ser condenado a 22 anos e três meses de prisão, ter a pena diminuída em 18 meses, cumprir parte da sua pena e conseguir a liberdade condicional em janeiro de 2023, Bruno tentou retornar ao futebol profissional, até aceitando uma proposta para jogar pelo time do Montes Claros, o que não prosperou. Hoje, o excelente ex-goleiro do Atlético e do Flamengo ganha a vida trabalhando em uma loja de móveis na cidade de Rio das Ostras (RJ) há mais de um ano, com a função de entregador. Ainda joga futebol, mas como amador, participando de partidas de torneios na várzea atuando pelo time do União do Bom Destino, do Espírito Santo.
Diante dos fatos e depoimentos apresentados no documentário, podemos constatar que a Eliza não teve a devida proteção da nossa Justiça e da sua família, esta completamente desestruturada, fato que acontece com bastante gente neste nosso país tão injusto socialmente. Quanto ao Bruno, não consigo acreditar que ele tenha se arrependido da barbaridade que cometeu, dada a sua perceptível arrogância, desinteresse e prepotência. Tivesse ele realmente se arrependido do bárbaro crime cometido, deveria contar a verdade e mostrar onde se encontra o corpo ou os restos mortais da Eliza para que a família pudesse finalmente realizar um sepultamento digno dela, diminuindo a dor que persiste nesses casos. Agindo assim, com humanidade, ele estaria realmente livre, depois de cumprir sua pena, para seguir adiante com o respeito e ajuda da sociedade. Infelizmente, não é o que visualizo.
A parte boa desta triste história é que o jovem Bruninho, que morou com sua avó Sônia em Campo Grande (MS), também se tornou goleiro e está hoje defendendo a equipe sub-15 do Botafogo, com seus 14 anos e 1,88m, sendo bastante elogiado e visto como uma promessa de grande atleta profissional no futuro. Que seja bastante bem-sucedido e feliz!
Um grande abraço espinosense.