Espinosa, meu éden

Espinosa, meu éden

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

3070 - Um ícone da nossa Cultura vai-se embora: Rolando Boldrin

Que dia terrivelmente doloroso para a Cultura brasileira! Nem bem nos recuperamos da triste surpresa do falecimento da cantora e multi-instrumentista baiana Gal Costa, eis que outra figura de imenso valor e destaque na nossa Cultura, Rolando Boldrin, também se despede deste mundo tão absurdo, tumultuado e injusto. 
Rolando Boldrin nasceu em São Joaquim da Barra, pequena cidade interiorana do estado de São Paulo, aos 22 de outubro de 1936. O gosto pela arte e pela música apareceu logo na infância. Na adolescência juntou-se ao irmão para tocar nas rádios da sua cidade. Depois de experimentar diversas funções trabalhistas e servir o Exército, decidiu que era ser artista o que queria na vida. Após se instalar na metrópole São Paulo, mostrou toda sua versatilidade na seara da arte, atuando em teleteatros no rádio e na TV. Também atuou, com desenvoltura e talento, em diversas novelas das TVs Record, Tupi e Bandeirantes. Artista completo e multifacetado, Boldrin iniciou sua carreira musical pra valer em 1974, quando lançou seu primeiro disco solo, pela Continental, denominado "O Cantadô". Muitos outros álbuns vieram adiante, apresentando o melhor da música caipira do nosso Brasil. 



Rolando Boldrin foi um dos maiores defensores e divulgadores da genuína música brasileira, abrindo espaço em seus programas para os melhores artistas da música dita "regional" brasileira. Suas declamações de poemas e os seus "causos" contados de maneira bem-humorada e peculiar atraíam telespectadores e ouvintes amantes da arte.
Destacou-se sobremaneira como apresentador de televisão, sempre com grande sucesso e reconhecimento, iniciando na TV Globo em agosto de 1981 com o maravilhoso programa "Som Brasil", depois com "Empório Brasileiro" na TV Bandeirantes e "Empório Brasil" no SBT e finalmente na TV Cultura, desde o ano de 2005 com o seu "Sr. Brasil". Atuou como ator em algumas produções cinematográficas, entre elas "Doramundo", de João Batista de Andrade, "O Tronco", do mesmo diretor, e "O Filme da Minha Vida", de Selton Mello. Como ele se auto definia: "um ator que canta, declama poesias e conta histórias".  



Um grande amigo meu, Antônio Felisberto Fernandes, o Tuka, é um dos grandes admiradores do trabalho do Rolando Boldrin. Hoje ele deve estar bastante triste com a partida do ídolo. Eu também, pois era muito seu fã, assistindo por anos os seus maravilhosos programas culturais. Que descanse em paz assim como a Gal Costa.
Um grande abraço espinosense. 



3069 - MPB em lágrimas, morreu a diva Gal Costa

A notícia é avassaladoramente triste para quem ama a música, como eu. Morreu a estrela, diva, musa, deusa, ícone e notável Maria da Graça Costa Penna Burgos, a Gal Costa dos cabelos encaracolados, da beleza original, do espírito inquieto, da voz cristalina, dos muitos sucessos, das performances pulsantes, inspiradas, emocionantes e inesquecíveis. 
Nascida aos 26 de setembro de 1945, na cidade de Salvador, na Bahia, a bela morena tornou-se conhecida nacionalmente ao se tornar a musa da Tropicália, apresentando-se ao lado dos também talentosos e maravilhosos baianos Bethânia, Gil e Caetano. Gal cantou divinamente todos os sons, encantou plateias pelo mundo inteiro e agora tornou-se encantada, subindo aos céus para enfim encantar a Deus face a face.



A voz bela, gostosa, afinadíssima e divina de uma das rainhas da MPB esteve sempre presente na minha vida. Fez-me apreciar e mergulhar na Tropicália, cantando "Baby", de Caetano Veloso. Foi trilha sonora dos meus mais inesquecíveis carnavais da minha Espinosa com a "Festa no Interior", de Abel Silva e Moraes Moreira; "Balancê", de João de Barro (Braguinha) e Alberto Ribeiro; "Bloco Do Prazer", de Fausto Nilo e Moraes Moreira; e "Massa Real", de Caetano Veloso. Acompanhou minhas primeiras descobertas amorosas com "Sua Estupidez", de Roberto Carlos e Erasmo Carlos; "Chuva de Prata", de Ronaldo Bastos e Ed Wilson; "Sorte", de Ronaldo Bastos e Celso Fonseca; e "Meu Bem, Meu Mal", de Caetano Veloso. Deixou-me profundamente emocionado com "Mãe", de Caetano Veloso; "Estrada Do Sol", de Tom Jobim e Dolores Duran; e "Força Estranha", também de Caetano Veloso. Abriu minha mente com o "Vapor Barato", de Waly Salomão e Jards Macalé; "Vaca Profana", de Caetano Veloso; e "Juventude Transviada", de Luiz Melodia. Foi importante na minha evolução com "Podres Poderes" de Caetano Veloso; "Solar", de Fernando Brant e Milton Nascimento; e "Luz do Sol", de Caetano Veloso.
Cantou de tudo um pouco, Samba, Rock, Axé, Balada, Baião, Xaxado, Blues, MPB, Bossa Nova, música estrangeira, sem nunca desafinar. Gravou os mestres e os jovens compositores da rica Música Popular Brasileira, Lupicínio Rodrigues, Jair Amorim e Evaldo Gouveia, Herivelto Martins, Noel Rosa, Cartola (Angenor de Oliveira), Chico Buarque, Moraes Moreira, Gilberto Gil, Rita Lee, Djavan, Hyldon, Herbert Vianna, Adriana Calcanhotto, Tim Bernardes, Nando Reis, Guilherme Arantes, Mallu Magalhães, Moreno Veloso,  Vander Lee etc. Homenageou em álbuns, Dorival Caymmi, Ary Barroso, Caetano Veloso e Tom Jobim. 



A intérprete formidável de voz divina construiu uma carreira bem-sucedida por mais de seis décadas, conquistando novos admiradores sem nunca se deixar render ou abdicar de suas convicções sociais e políticas. Posicionou-se sempre e firmemente contra a ditadura, a violência e o autoritarismo, mostrando o corpo sem neuras, gravando canções críticas a poderosos e cantando e vivendo o amor, mas mantendo seus relacionamentos sob a mais profunda discrição. Gal viveu a vida em plenitude, sem fazer concessões, sem estardalhaço. O filho adotivo Gabriel só lhe fez ainda mais feliz, acolhido quando ela já tinha 60 anos.  



Gal é divina, maravilhosa, plural, estratosférica. Agora é estrela na Terra e também no Céu! Enquanto escrevo de olhos cheios de lágrimas, só tenho a agradecer à linda e sublime Gal Costa pelas mais prazerosas emoções proporcionadas pelo seu canto magnífico e tocante. Tive a honra e o privilégio de vê-la e ouvi-la, ao vivo, em um show no Circo da Unimontes, há muitos anos atrás aqui em Montes Claros. Foi uma dádiva! Inesquecível! Continuarei ouvindo a voz da Gal, com imenso prazer! 
Assim como viveu em paz, que ela descanse em paz! Gratidão por tudo, Gal! 
"É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte" (Caetano Veloso e Gilberto Gil).
Um grande abraço espinosense.