A vida é mesmo assim, bela, maravilhosa e um divino presente de Deus, mas ao mesmo tempo, fugaz, dura, difícil e complicada. Enquanto alguns festejam e comemoram com a devida e merecida alegria os seus casamentos, os seus aniversários e os nascimentos de seus filhinhos, outros choram por enfermidades ou a perda de seus entes queridos. Assim é a vida, sem apelação. Por isso é importante estarmos sempre preparados para o fim, tão certo como o nascer do Sol e a descida da chuva em algum momento do implacável tempo, nunca se esquecendo de seguir os ensinamentos do Homem que desceu à Terra para nos salvar.
Com algum atraso tomei conhecimento, com bastante tristeza, do acontecimento trágico que ceifou a vida do senhor Gervásio Moreira Braga em um acidente ocorrido no trevo de acesso à Espinosa.
Aos filhos Hélio e Edílson Braga e aos demais familiares, o meu sincero sentimento de pesar pela perda irreparável, o meu abraço solidário e a minha prece ao Criador para que lhes ampare neste instante tão triste e doloroso.
Que seu Gervásio, após a digna e honrada caminhada terrena, descanse na mais completa paz!
Um grande abraço espinosense.
Mesmo sem autorização, resolvi publicar aqui na íntegra o maravilhoso texto do Edílson, filho do senhor Gervásio, publicado na sua página do Facebook. Espero que ele não se incomode com minha decisão.
Meu pai foi um guerreiro! Quando jovem, transportou pedras nos carros de boi e orgulhava-se de ter ajudado a calçar as mais antigas ruas de Monte Azul. Criou e educou 10 filhos (uma adotiva) com um início de vida muito sofrido, descendo a Serra do Catita com tropas de animais carregadas com bruacas de couro cru para vender café, farinha, pequi, jaca, laranja, na feira de Monte Azul. Sua pele molhada pelo orvalho das madrugadas vencidas nas montanhas e suas mãos calejadas conheciam bem o manejo da enxada e o peso das colheitas. Mais tarde, com os filhos e toda a mudança em um carro de boi, desceu a serra e mudou-se para a comunidade de Santa Marta, atraído pela fartura de água da Barragem do Estreito. Com a necessidade de oferecer melhores condições de estudo para os filhos, mudou-se para Espinosa, fixando moradia em frente à Escola Normal, consolidando ali uma moradia acolhedora e cheia de memórias afetivas para os filhos e para todos que compartilhavam da companhia daquela família humilde e numerosa. Era um prosador nato, seus causos e histórias ambientados nas matas do Gerais, e na antiga Tremedal do Coronel Levy intrigava e atraía ouvidos atentos nos velórios onde era sempre presença certa. Dono de uma memória excepcional, relatava tudo com riqueza de detalhes, demonstrando profundo conhecimento das biografias e da genealogia de todos que faziam parte de seus causos. Já aposentado, dividia seu tempo entre a companhia aconchegante da minha mãe e o cuidado com o seu sítio na Comunidade de Puruquera, onde, na altura de seus 78 anos, e ainda com muito vigor físico, plantava, roçava, fazia cerca e cuidava do gado, reafirmando a essência da sua alma sertaneja. Quis o destino que no final da tarde do dia 07 de junho, quando se punha mais cedo o sol do outono, seu Gervásio teve tolhido o seu direito de voltar pra casa. Deixou um legado de honestidade, carisma, fé e muita vontade de viver!!!
“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem."
Guimarães Rosa