É quase inacreditável, mas o presidente da República Getúlio Vargas assinou na então capital Rio de Janeiro, em 14 de abril de 1941, o Decreto-Lei nº 3.199, que estabelecia as bases de organização dos desportos em todo o Brasil com a seguinte redação do Art. 54: "Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país". Ou seja, as mulheres estavam proibidas de praticar o futebol! Que coisa mais absurda! Mas se profissionalmente o retrocesso se deu, na prática as meninas se rebelaram e continuaram a bater a sua bolinha de forma amadora e sorrateira pelos campos do país. A revogação de tal aberração só viria em 1983, 42 anos mais tarde, quando o estrago na estrutura e no desenvolvimento do futebol feminino já estava feito.
Tratado com desdém pelas instituições responsáveis pelo esporte no país e pelo machismo arcaico e retrógrado da população masculina, o futebol feminino penou até chegar aos tempos atuais, em que parecem estar finalmente descobrindo seu valor. Com a exigência da FIFA de que todo clube mantenha um time de futebol feminino adulto e de base, a coisa finalmente começou a andar no ano de 2019. A Conmebol, nos seus eventos Copa Sul-Americana e Libertadores, também passou a exigir dos seus filiados, e até a CBF também teve que se mexer, exigindo dos clubes da Série A a mesma ação. Assim, Atlético e Cruzeiro tiveram que se adaptar às novas regras fazendo investimentos no futebol feminino, com as Vingadoras e as Cabulosas.
Em meio aos melhores times do país, Corinthians, Santos, Palmeiras, São Paulo e Ferroviária, eis que surgiu o Real Brasília em 2019, conhecido como Leoas do Planalto. O clube surgiu da mudança do nome anterior Esporte Clube Dom Pedro Bandeirante, do escudo e cores. O Real Brasília, em pouco tempo, já conquistou o direito de disputar a primeira divisão do futebol feminino. E o Real começou fazendo bonito, vencendo o Santos, as Sereias da Vila, em casa, por 3 x 1. E quem marcou o terceiro gol das Leoas? A zagueira Rafa Soares, nossa conterrânea de Espinosa. Vamos conhecer sua história.
Para nosso orgulho e alegria, a jovem Rafaela Soares de Souza é hoje uma jogadora profissional de futebol e integra o elenco da equipe do Real Brasília, atuando como titular da zaga. A garota nasceu em Espinosa, na comunidade de Capivara de Cima, no dia 4 de fevereiro de 2000, estando hoje com 22 anos de idade. Começou a gostar de jogar bola ainda pequena, atuando em meio aos amigos locais do sexo masculino, sem o menor problema, destacando-se entre a turma. Com apoio da família e incentivada por um tio que residia no estado de São Paulo, deixou Espinosa com 13 anos de idade e foi fazer um teste no São José, sendo imediatamente contratada para a categoria sub-13. Passou por dificuldades para conciliar estudos e os treinos, mas com determinação, firmeza e coragem seguiu em frente. Ficou por quase oito anos no time do São José até ser contratada pelo Real Brasília, clube da capital brasileira. A atleta diz preferir jogar como volante, mas atualmente é escalada para compor a zaga da sua equipe. Para comprovar sua qualidade, Rafa Soares, como é conhecida, já atuou pelas Seleções Brasileiras sub-17 e sub-20. Com seus 1,76m de altura, Rafa diz se espelhar na veterana atleta Formiga e é fã do craque Ronaldinho Gaúcho. Acha que Lionel Messi é o melhor jogador do mundo e que o Éverton Ribeiro é o melhor do Brasil atualmente. Na vida pessoal, é bastante humilde, adorando comer o tradicional prato brasileiro com arroz, feijão, bife e batata frita, aém de um bom churrasco, e tem como sonho a realizar depois do encerramento da carreira de atleta profissional, a graduação em Medicina Veterinária, por gostar muito de animais.
Como é prazeroso ver os nossos conterrâneos se destacando no mundo nas mais variadas áreas do conhecimento, do esporte e do trabalho, mostrando todo o incrível potencial da nossa gente batalhadora que só precisa de oportunidades para mostrar o seu gigante valor. Desejo boa sorte e todo o sucesso à nossa jovem atleta Rafaela Soares de Souza, bem como a todos os demais atletas espinosenses que batalham pelo reconhecimento nos mais diversos clubes do Brasil.
Quantos de nós, espinosenses, não estão aí, espalhados pelo mundo, fazendo a diferença sem que saibamos? A eles, os conhecidos e os ainda incógnitos, todo o nosso carinho, incentivo e gratidão por levar de forma positiva o nome da nossa Espinosa para outras plagas. Valeu, Rafa! Tudibomprocê!
Um grande abraço espinosense.
