Espinosa, meu éden

Espinosa, meu éden

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

2877 - E quando eu morrer?

Desde o dia 20 de maio de 2010, quando eu, influenciado por Zé Lúcio, resolvi criar este simples espaço para falar de tudo um pouco, mas especialmente da minha Espinosa, tenho noticiado aqui perdas irreparáveis de conhecidos e amigos queridos, não sem estar com o coração doído e desolado, às vezes completamente despedaçado. Tive o pesar de comunicar aqui a vocês o falecimento de amigos queridos como Gera de Vavá, Negão da Oficina, meu compadre Daílson, Tintin, Nivaldo Faber, Deca, Tio Genésio, Walter Cabeção e Djair Fróis (e tantos outros) e até do meu filho Ricardinho. É sempre muito dolorido e angustiante ter que noticiar essas perdas. Com essa angústia me incomodando certo dia, passei a matutar: "E quando chegar a minha vez? Quem fará a comunicação da minha morte?"
Que morrerei é a única certeza absoluta que tenho na vida. E este fato não deve demorar muito tempo, pois estou perto de "sessentar". Às vezes nem consigo acreditar que já vivi tanto tempo, e com tamanha felicidade proporcionada por Deus. E como Deus é bom para mim! Mesmo com algum pesado sofrimento no caminho, não posso reclamar da vida, nunca, jamais! 
Quando a minha ortotanásia acontecer (peço a Deus e espero que assim seja, sem sofrimento), certamente aparecerão amigos e conhecidos me enchendo de elogios, algo como "era tão bonzinho", como acontece com todo mundo que vai embora deste mundo. Aos leais e verdadeiros, ficarei grato pelo carinho demonstrado. Mas consciente que sou, com o corpo inerte e morto mas com a alma ainda ativa e sagaz, sei que escutarei ao longe sussurrados comentários de amigos, conhecidos e inimigos tachando-me de "metido a intelectual", de "metido a comentarista", de "arrogante", de "imbecil", de "babaca", de "doido" e até de "canalha" ou quem sabe um "já vai tarde!". Pode ser até que haja queima de fogos de artifício em comemoração à minha partida. Nenhum problema. Faz parte! E certamente eu tenha sido um pouco de cada coisa dessas, eventualmente. Sou um humano pecador e nunca fui nem quis ser exemplo para ninguém. Equivoquei-me muitas vezes durante minha viagem terrena, confesso. E me arrependo bastante por ter cometido todos esses erros. O que me conforta é que evoluí e aprendi a não cometê-los mais uma vez. Mas vou-me embora deste mundo com a consciência completamente tranquila, serena e em paz, por ter, pelo menos, tentado fazer o melhor. Não consegui sempre, é verdade, mas sempre tentei buscar a perfeição, como todo bom virginiano metódico e perfeccionista nascido em setembro. 
Pode parecer loucura, e talvez seja mesmo, mas imagino que ao morrer, somos apresentados em alguma portaria de repartição celeste parecida com as que vemos ao visitar parques florestais. Ali seremos recepcionados com atenção e gentileza por um servidor de São Pedro que nos apresentará, sem preocupação com o tempo que não mais existirá, um vídeo contendo todas as nossas ações na vida terrena. Excluídas as cenas de sono e vida cotidiana sem maior importância, serão focalizadas em uma gigantesca tela em 8K as nossas boas e más ações, em uma completa retrospectiva da nossa trajetória. Ali, sem espaço para que espalhemos fake News ou façamos deturpações da realidade, teremos que encarar todas as nossas atitudes realizadas durante nossa existência, se de maioria positiva ou negativa, se de amor ou ódio, se de paz ou guerra, se de humildade ou arrogância, se de partilha ou avareza, se de altruísmo ou ganância, se de perdão ou mágoa. Ali, diante das nossas escolhas feitas em vida, veremos se verdadeiramente merecemos entrar no Reino dos Céus ou se vamos nos queimar eternamente no fogo do inferno. Será mesmo assim? Jamais saberemos até que chegue nossa hora, mas é assim que imagino o pós dia final. Deve ser por isso que alguns me chamam de doido, não é mesmo?



Obviamente vocês não verão neste nosso humilde blog o comunicado da minha morte. Então já imagino e antecipo o que poderia sair escrito aqui, algo inusitado e fantasioso como:
"Faleceu nesta manhã ensolarada de domingo o bancário aposentado Eustáquio Tolentino, também tratado como "Taquinho", "Grilo", "Zé Oim", "Gringo", "Tepepa", "Ostaco" e "Aos Pedaços" pelos mais íntimos. Ele morreu ainda no campo da AABB Montes Claros depois de um sofrer um infarto fulminante durante a comemoração após marcar um gol de bicicleta na final do campeonato interno de futebol society do clube. Foi-se embora desta vida feliz, certamente, já que jogar futebol marcando gols era uma das coisas que mais amava. Eustáquio veio de família humilde da Rua da Resina em Espinosa e conseguiu realizar muitos dos seus sonhos, sempre evidenciando o seu agradecimento e gratidão a Deus. Pautou sua vida pela defesa da Verdade, da Paz, da Amizade e da Justiça Social. Como bom virginiano, tentou atingir a perfeição em tudo que fez e viveu, mas infelizmente, por ser humano, falhou fragorosamente na tarefa. Adorava muita coisa, de música a cinema, de futebol a um bom papo no boteco, mas odiava hipocrisia, deslealdade, desonestidade e arrogância. Começou a trabalhar ainda com seus 13 anos e aposentou-se após 35 anos de labuta no Banco do Brasil. Como últimos desejos, deixou registrado o anseio de ser sepultado em Espinosa sem choro nem vela, apenas com a presença festiva e alegre dos que realmente o amam e com música ambiente das canções que apreciava. Deixou uma mensagem à esposa, filhos, cachorros, familiares e amigos: "Obrigado por terem me suportado todos esses longos anos. Amo todos vocês, uns mais, outros menos, mas amo todos vocês". Que descanse em paz, se o merecer!"
Espero que este dia ainda demore um pouco, não tenho pressa, ouviu, meu Deus?       
Um grande abraço espinosense.   

2876 - A Vovó do Galo subiu aos céus

O que leva alguém a amar incondicionamente um clube de futebol? Conquistas memoráveis de títulos? Vitórias consagradoras? Triunfos contra o principal rival? O espírito de luta? A beleza da camisa? Um pouco de cada isso ou efetivamente nada disso? Como se explica essa paixão avassaladora que leva pessoas ao delírio, por muitas vezes perdendo a razão? A verdade é que amor não precisa ser explicado. Ele brota inexplicavelmente do coração das pessoas sensíveis e humanas e pronto, está lá instalado para sempre.



Quem ama de verdade, não mata, não tortura, não violenta, não machuca, não agride, não sufoca, não insulta, não ultraja, não causa sofrimento a ninguém, humano ou animal. Quem ama verdadeiramente espalha amor por todos os lados. E um amor verdadeiro se manifesta até o segundo final, até a chegada da irreversível partida para o além. Assim é que ontem, 13 de janeiro de 2022 (tinha que ser no dia 13), infelizmente, uma torcedora símbolo do Clube Atlético Mineiro partiu para a eternidade aos 101 anos de idade. A célebre Vovó do Galo, dona Ana Cândida de Oliveira Marques, deixou esta vida terrena, mas só depois de testemunhar as brilhantes conquistas dos bicampeonatos da Copa do Brasil, do Campeonato Brasileiro e do Campeonato Mineiro na última temporada.



Dona Ana Cândida não perdia uma partida do seu amado Atlético em Belo Horizonte, sendo sempre vista nas arquibancadas do Mineirão e do Independência levando seu apoio incondicional ao time em campo. Amava e era amada pelos membros da diretoria, funcionários e atletas do clube. E era idolatrada pela imensa Massa Atleticana, que a tratava com o maior carinho. Quis o destino que ela se despedisse em um dia 13, o número do Galo, e completamente feliz após um ano quase perfeito de desempenho do time, ganhando quase tudo que disputou na temporada de 2021. 
Que a apaixonada Vovó do Galo descanse na mais completa paz, continuando a torcer e a mandar energias positivas ao seu e ao nosso amado Atlético lá dos Céus. Amém!
Um grande abraço espinosense.