Espinosa, meu éden

Espinosa, meu éden

sábado, 9 de setembro de 2023

3292 - Por que tanto ódio e violência?

Uma das coisas mais lindas no futebol, este mais amado esporte no Brasil, é a paixão avassaladora das torcidas dos clubes, explicitada nas ruas e bares, e, de forma mais contundente, relevante e perceptível, nos estádios. O demasiado arrebatamento dos torcedores em dia de jogos dos seus clubes de coração é algo vigoroso, bonito, emocionante. O sentimento de amor extremo se revela no ato de se vestir com orgulho a camisa do time, no canto do hino, nos cânticos de apoio durante as partidas, nos gritos dos nomes dos atletas, nas faixas e cartazes, nas fanfarras, no tremular das bandeiras, nas vaias aos adversários, na busca de autógrafos e fotografias com os ídolos. Toda essa energia positiva só embeleza e engrandece o futebol, sempre em um cenário de humildade, paz, harmonia e respeito com todos os participantes do espetáculo, dentro e fora de campo.


 
Mas infelizmente esse panorama de positividade elogiável do futebol vem sendo vencido pela intolerância e violência, dentro e fora de campo. Não são raros os episódios de brigas de torcidas, nas arquibancadas, nas esplanadas dos estádios, nas ruas, nas estações de metrô. E quase sempre com confrontos sangrentos com muitos feridos e até com vítimas fatais, lamentavelmente. Mas não só! Dentro de campo, a coisa melhorou bastante. Já não vemos mais como antigamente jogadores brucutus agredindo companheiros de profissão, praticando entradas violentas e criminosas, como as que sofreram no passado craques como Zico e Reinaldo. As agressões a árbitros e seus auxiliares são infrequentes na atualidade, o que é saudável. Mas fora de campo a coisa anda de mal a pior. Mesmo sendo crime, o maldito racismo permanece vivo e resistente na sociedade brasileira e também em outros países pelo mundo. Torcedores ignorantes e estúpidos continuam fazendo gestos racistas, xingando atletas de macaco e jogando bananas no campo de jogo com a única intenção de insultar, ofender e desestabilizar os adversários. E os casos se sucedem sem que algumas instituições, como a retrógrada e inoperante Conmebol, tomem atitudes sérias e eficazes para repudiar e punir ações e indivíduos racistas. Os atletas atingidos por atos de racismo são muitos: Aranha, Tinga, Daniel Alves, Vinícius Júnior, Marcelo, Taison, Roberto Carlos, Richarlison, Grafite, Celsinho e outros mais, infelizmente, apenas citando os brasileiros.



Erros de arbitragem, suspeitas de manipulação de resultados por apostas e jogadas imorais de bastidores são outras mazelas do mundo do futebol. Incomoda até a pesada overdose de palavrões no ambiente do esporte, com uma profusão de impropérios proferidos por quase todos os personagens, de torcedor a treinador. É impressionante a quantidade de "caralho" que se ouve no ambiente do futebol, em um excesso absurdo. Ninguém vai deixar de soltar um palavrão quando se é violentamente atingido pelo adversário em uma disputa de bola em campo, mas as palavras de baixo calão são ditas o tempo inteiro, em qualquer situação, em um excesso inexplicável, inclusive diante de crianças, o que evidentemente não é saudável nem bonito.


   
Mancha também o futebol alguns torcedores radicais, exaltados e truculentos que se acham donos dos clubes, com direito a invadir com violência as sedes e os centros de treinamento, ameaçando jogadores e seus familiares pelo fato de o time não estar apresentando resultados favoráveis em campo nas competições. Não raro, vandalizam propriedades dos seus próprios clubes, indignados com maus resultados ou rebaixamentos para divisões inferiores. São vândalos que deveriam ser punidos exemplarmente conforme a Lei. 
Nos estádios, muitos torcedores de boa índole e educação exemplar no cotidiano em família, no trabalho e em sociedade, transformam-se, assustadoramente, em indivíduos ferozes, bárbaros e selvagens, dispostos a tudo quando em bando. Influenciadas pelo ambiente de irmandade entre torcedores, muitas dessas figuras se acham no direito de atacar e agredir a quem estiver adiante. Xingam, de forma radical e ríspida, sem limite e papas na língua, o árbitro e auxiliares, a torcida rival, o time adversário, e até o treinador e os atletas do próprio time. Tem gente que ataca a moral do outro, xingando até a mãe e a esposa do cara, de tudo o que é nome ruim, um abuso. 



Se as atitudes dos torcedores merecem repúdio e críticas contundentes, o mesmo ocorre com muitos jogadores, alguns de fama mundial. O machismo que impera no Brasil, sobretudo no ambiente do futebol, leva a ações lastimáveis de ídolos que deveriam dar exemplo de retidão, pudicícia e respeitabilidade. São bastante conhecidos os casos de acusações de atos de estupro contra mulheres protagonizados por jogadores de futebol. Desde muito tempo atrás, no caso dos atletas do Grêmio Cuca, Henrique, Eduardo e Fernando, até os mais recentes, envolvendo os craques Neymar, Robinho e Daniel Alves. Outros também tiveram (ou têm) problemas com a Justiça, acusados de fraude em passaporte (Ronaldinho), agressão (Dudu, Antony) e assassinato (Bruno). São acusações deploráveis a astros do esporte que mancham peremptoriamente suas vitoriosas trajetórias.
É necessário e urgente que as pessoas cresçam e evoluam e não se achem no direito, só por serem apaixonados sócios-torcedores dos clubes e pagarem seus caros ingressos dos jogos, de xingar, atacar, insultar, agredir e matar outras pessoas nos estádios ou nas proximidades deste. O fato de ter ingresso também não dá a ninguém o direito de agir de forma racista e preconceituosa, muito menos de forma machista, assediando mulheres. Essas são ações criminosas que devem ser punidas exemplarmente, como manda a Lei, seja dentro ou fora dos estádios.



O que é espetacular no futebol é o jogo bonito, bem executado por atletas de raro talento e habilidade com a bola, é a arte de dar belos dribles, passes e lançamentos, é o momento mágico do balançar das redes com gols formidáveis, são as conquistas memoráveis de partidas e títulos importantes, é a paixão desmedida de gente de todas as idades por seu time do coração, sempre presentes no apoio à sua agremiação em um ambiente de paz, harmonia, tolerância, respeito e alegria incomensuráveis. Atitudes como a rua de fogo na recepção ao clube na chegada ao estádio, os mosaicos montados nas arquibancadas, o canto em uníssono do hino, o grito dos nomes dos atletas quando da informação da escalação, a invasão corintiana no Rio de Janeiro na semifinal do Brasileirão de 1976 contra o Fluminense, a saudação viking com palmas ritmadas unindo torcedores e jogadores do Cruzeiro, o recente "abraço" da torcida do Vasco ao estádio de São Januário interditado pela Justiça Desportiva, o "eu acredito" da torcida atleticana na memorável conquista da Libertadores pelo Atlético em 2013, bem como outras tantas demonstrações de amor aos clubes de forma pacífica e ordeira, isso sim são gestos positivos e elogiáveis.
 

É assim que eu sonho ver o futebol, sem violência, sem agressões nem verbais, sem preconceito, sem machismo, sem racismo, sem intolerância, sem ódio. E claro que com o meu Galo sempre no topo, com um time de alta qualidade, repleto de craques, dando espetáculo, vencendo, levantando taças e nos enlouquecendo ainda mais de contentamento. Sonhar nunca é demais!
Um grande abraço espinosense.