Uma das mais lindas e tradicionais festas populares brasileiras acontece anualmente no dia 24 de junho, o dia em que comemoramos a sagrada existência do santo João Batista, aquele que na tradição cristã anunciou a "boa-nova" da vinda ao mundo do Cristo, filho de Deus, o Salvador da Humanidade. A data religiosa é considerada feriado em muitas cidades norte-mineiras que valorizam a cultura popular brasileira e o catolicismo mundial. Espinosa é uma delas.
Com o passar dos anos, a chegada da modernidade e as consequentes mudanças na sociedade, a festa foi perdendo identidade. Nos tempos idos, as ruas eram tomadas por fogueiras arrumadas diante das residências, onde à noite as crianças se divertiam à beça soltando seus fogos de artifício como traques, bombinhas, "chuvinhas" e estalos de salão, pulando a fogueira e no dia seguinte saboreando a batata assada nas brasas. Não faltavam também a animada quadrilha, as esvoaçantes bandeirolas coloridas e as saborosas comidas típicas como canjica, milho cozido, bolo de milho, curau, pipoca, canjica, pamonha, pé de moleque, maçã do amor, mané pelado, paçoquinha e o indispensável quentão.
As festas juninas que atualmente homenageiam os santos católicos substituíram os antigos cultos a deuses da natureza, das plantações e das colheitas dedicados especialmente a Adônis, mito grego da agricultura, belo amante das deusas Afrodite (deusa do amor) e Perséfone (deusa dos infernos). Interessante que as fogueiras, que simbolizam o agradecimento pela fertilização da terra e pelas boas colheitas, têm formatos diferentes para homenagear os santos. A fogueira de Santo Antônio é quadrada, a de São João é redonda e a de São Pedro é triangular. Os balões, que antigamente eram bastante utilizados, hoje são proibidos por causar incêndios, destruição e prejuízo. As fogueiras também já não são tão criadas nas ruas das cidades, por risco de afetar os fios de iluminação pública, mas continuam existindo nas casas, sítios e fazendas da área rural. A quadrilha continua viva, envolvendo a todos com alegria e bom humor, colocando o povo para dançar e se esbaldar a noite inteira, com muita animação e entusiasmo. Ao contrário de outras datas especiais, Carnaval e Natal por exemplo, em que a música tradicional foi substituída por ritmos modernos e avessos às tradições, as festas juninas ainda resistem com suas canções de forró que tratam da beleza do Sertão e da dura vida dos sertanejos. Uma dessas maravilhosas canções, criada por Luiz Gonzaga e José Fernandes, é interpretada pelo gênio da música brasileira Gilberto Gil no vídeo abaixo.
Como aqui em Montes Claros não há festa, nem comemoração e nem feriado de São João, ficam só as memórias de um tempo formidável da minha infância e adolescência vivido entre as fogueiras da Rua da Resina. Viva São João!
Um grande abraço espinosense.
OLHA PRO CÉU (Luiz Gonzaga e José Fernandes)
Olha pro céu, meu amor
Vê como ele está lindo
Olha pra aquele balão multicor
Que no céu vai sumindo
Foi numa noite
Igual a esta
Que tu me deste o teu coração
O céu estava
Assim em festa
Pois era noite de São João
Havia balões no ar
Xote e Baião no salão
E no terreiro o teu olhar
Que incendiou meu coração