Espinosa, meu éden

Espinosa, meu éden

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

3619 - E agora, Galo?

O mundo do Clube Atlético Mineiro caiu em uma imensa depressão após os fracassos em série nas principais competições esportivas ao final desta temporada. Após ser batido pelo arquirrival Flamengo na final da Copa do Brasil em plena Arena MRV, o Atlético também viu sua esperança de conquistar a Glória Eterna se dissipar no ar diante de um iluminado Botafogo no Monumental de Núñez. E para piorar a já complicada situação, a equipe alvinegra não mais tem chance de se classificar através do Campeonato Brasileiro para a disputa da Copa Libertadores de 2025, pode também ficar fora da Copa Sul-Americana e, na pior das hipóteses, ser rebaixado à segunda divisão do Brasileirão, fato inimaginável até pouco tempo atrás. Juntando toda esta conjuntura de insucessos, o custo mostra-se terrível para a manutenção e sobrevivência econômica do clube, que mesmo com a transformação em SAF, ainda luta contra uma dívida bilionária que dificulta mais investimentos no elenco. Conforme cálculos de órgãos da imprensa, a perda de recursos futuros chega ao montante de R$ 437 milhões, no mínimo. Pela perda do título da Libertadores, foram R$ 100 milhões; pela não participação no Intercontinental de Clubes, em dezembro, seriam mais R$ 30 milhões; pela ausência no Mundial da FIFA em 2025, outros R$ 302 milhões; e na desclassificação para a disputa da Recopa com o Racing, outros R$ 5 milhões. E a perda financeira aumenta ainda mais com a não realização do direito de jogar a Libertadores de 2025, competição que mais premia os clubes participantes. Ou a Sul-Americana e ainda a Série A. Resumindo, um cenário devastador futebolisticamente e, principalmente, economicamente, pois não se faz futebol atualmente sem grana e grandes investimentos. A prova está diante dos nossos olhos: o Campeão Botafogo, que teve investimentos de grande monta na montagem de um elenco forte, qualificado e competitivo. O Botafogo do milionário John Textor investiu R$ 373,2 milhões de reais em 2024, com nada menos que 20 novos jogadores contratados: John e Raul (goleiros), Alexander Barboza, Lucas Halter, Pablo e Adryelson (zagueiros), Damián Suárez, Cuiabano, Vitinho e Alex Telles (laterais), Gregore, Óscar Romero, Allan, El Arouch e Thiago Almada (meio-campistas) e Jeffinho, Luiz Henrique, Savarino, Matheus Martins e Igor Jesus (atacantes). Desses, dez estiveram em campo como titulares na final da Libertadores. Com tamanha injeção de dinheiro é praticamente impossível que outras equipes possam competir com o Botafogo, exceto raríssimas exceções, como Palmeiras e Flamengo, gigantes econômicos similares que venceram os principais campeonatos dos últimos anos.



Quanto ao fracasso do meu Atlético na final da Copa Libertadores, nenhuma surpresa. Pelo menos para mim e para milhões que acompanham futebol sob análise imparcial, sensatez e foco em dados. Só mesmo um completo desinformado, ou fanático delirante, para não ver claramente que o time e o elenco do Botafogo são muito, mas muito mais qualificados que os do Atlético. Não há comparação! Então, mesmo com toda a imprevisibilidade do futebol que permite a ocorrência de zebras, a lógica, que acontece em mais de 90% das partidas, seria a vitória e a consequente conquista do título pelo Botafogo, o que efetivamente ocorreu. E deu a lógica, simplesmente! 
Na grande partida final realizada na linda Buenos Aires, surpreendentemente, logo no primeiro minuto de jogo, o volante Gregore fez enorme besteira e deu ao Galo a chance pedida a Deus para tentar destruir a supremacia botafoguense. Apostando na vantagem de um jogador a mais, confiando na eficiência da sua equipe, mas ainda respeitando a qualificada equipe do Botafogo, o treinador Gabriel Milito resolveu manter o mesmo time que entrou em campo, aguardando que pelo menos um gol seria marcado ainda no primeiro tempo, o que infelizmente não aconteceu. Algumas explicações podem ser listadas para tal fato. O elenco do Atlético não tem armadores, não tem volantes que possam atuar mais avançados na criação de jogadas, não possui reservas de qualidade para os titulares Hulk, Scarpa e Paulinho, os zagueiros são lentos e facilmente driblados e não tem nenhum reserva da posição na lateral-esquerda. O elenco atleticano é bastante curto, irregular e incompleto, eis a triste e irrefutável verdade. E para aguentar o desgaste de três competições pesadas disputadas simultaneamente, fatalmente se chegasse às finais iriam faltar qualidade e força no enfrentamento aos gigantes adversários, bem mais preparados mental, técnica e fisicamente. Paulinho, coitado, jogou por meses com uma contusão séria e dolorida, dando tudo pelo clube, tendo que se submeter a uma cirurgia agora nas férias. Bernard, grande jogador, infelizmente não se adaptou ainda ao time após seu retorno, passando por uma grave contusão que o afastou dos campos por bom período. E Hulk, mesmo sendo o nosso super-herói salvador nos momentos complicados, está visivelmente desgastado, cansado pela temporada exaustiva de muitos e muitos jogos decisivos em série. Com todos esses problemas estruturais, os atletas fizeram excelente campanha nos torneios e conseguiram a façanha de chegar a duas finais. Merecem o nosso apoio e reconhecimento. Pelo menos os meus, eles todos têm.
Com a perda do sonho de disputar a edição 2025 da Copa Libertadores e a diminuição severa da grana para investir, a direção do clube já adiantou que serão poucas as contratações para o novo ano. Certamente que muitos atletas serão dispensados, com as saídas de Mariano, Maurício Lemos, Alan Kardec e Eduardo Vargas já confirmadas. Aos que vão seguir carreira em outros clubes, o desejo de boa sorte e a gratidão pelo profissionalismo e pelos títulos conquistados. Aos que continuarão defendendo o nosso Manto Sagrado, a minha anuência e a torcida para que deem o seu máximo para honrar esta nossa camisa alvinegra mágica.


      
Após tamanha tristeza e frustração, especialmente para quem acreditou no sonho da conquista da Libertadores e viajou por dias e dias de carro ou ônibus em uma jornada cheia de aventura e cansaço, é completamente compreensível o sentimento de dor, irritação, revolta e enfurecimento da apaixonada torcida atleticana. É natural que os torcedores mais radicais se sintam ignorados, desprezados e enganados pelo clube e desabafem com um turbilhão de críticas a jogadores, treinador, comissão técnica e administradores do clube. Faz parte da Democracia o julgamento do trabalho realizado que decepcionou a todos. Até aí, tudo normal. O problema é quando o limite do respeito e da justiça é ultrapassado, com ataques desproporcionais às reputações alheias e até ameaças de morte. Aí passa a ser caso de polícia. Quando a situação se limita ao mundo do futebol, está mais que claro que os homens que comandam a SAF do Atlético apostaram no grupo atual e não ultrapassaram o limite de investimentos que eles mesmos determinaram, com poucas contratações realizadas para reduzir as fragilidades do elenco. Isso é real e indiscutível. Dirigentes de Flamengo e Botafogo, e até do nosso arquirrival aqui de Minas, abriram os cofres e investiram pesado em contratações, conseguindo resultados bons ou excelentes. O Flamengo foi Campeão Carioca e Campeão da Copa do Brasil em 2024, enquanto o Botafogo venceu a Copa Libertadores e fatalmente será também o grande vencedor do Brasileirão. O Cruzeiro, bancado pelo milionário torcedor Pedrinho BH Lourenço, voltou ao noticiário mundial com a chegada à final da Copa Sul-Americana, mesmo perdendo a final para o Racing da Argentina. O Atlético de Gabriel Milito, infelizmente, sem maiores investimentos, fez milagre ao conseguir chegar às finais de Copa do Brasil e Libertadores, sendo merecidamente derrotado por equipes muito melhores em todos os sentidos, Flamengo e Botafogo. Até aí, então, nada de anormal acontecendo nos gramados dos estádios, somente a tão pujante lógica. Completamente fora da lógica será o descenso à Série B, uma catástrofe inesperada. E a resolução do problema do comando que se arrasta por décadas, efetivamente não virá desse expediente ineficaz de ficar trocando infinitamente de treinador, ano após ano, sem que um elenco deveras competente seja montado. É só observar quantos treinadores passaram pelo clube nos últimos anos. Quem duvidará da competência de um Felipão, Cuca, Paulo Autuori, Levir Culpi, Marcelo Oliveira, Roger Machado, Oswaldo de Oliveira, Vagner Mancini, Eduardo Coudet, Jorge Sampaoli? Todos esses foram demitidos sumariamente após alguma série de resultados negativos. E se vierem Pep Guardiola, Carlo Lancelotti, Jürgen Klopp ou Mikel Arteta, terão o mesmo destino após uma série de derrotas e algum título perdido, sendo criticados sumariamente e quiçá chamados agressivamente de burros pelos bipolares cornetas.


 
Para a temporada de 2025, com a já confirmada carência de dinheiro no clube, certamente não veremos a chegada de grandes nomes para reforçar o time, o que é preocupante. Precisamos urgentemente de um armador de qualidade, como o Rodrigo Garro que joga no Corinthians. E de um atacante jovem e goleador como o Yuri Alberto, também do Corinthians. E de atacantes, pelo menos dois, de velocidade e talento pelos lados de campo, como possui o Botafogo, com Luiz Henrique e Savarino. Se Guilherme Arana continuar, precisamos de um reserva para sua posição. E ainda necessitamos de uns dois volantes de qualidade para sair jogando e criando chances de gol para os atacantes, como faz brilhantemente o Gérson no Flamengo. E precisamos de uns dois jovens e rápidos zagueiros para dar mais mobilidade e segurança à defesa. Estou sonhando? Não! Estou apenas detectando as carências do nosso elenco, esperando que a diretoria tenha humildade para reconhecer os erros cometidos  e que se esforce para que boas aquisições sejam realizadas, isto se as metas futuras realmente sejam conquistas de títulos nacionais e internacionais e não só o sexto e importante Campeonato Mineiro.



Especificamente sobre a batalha de Buenos Aires, não podemos ser injustos com ninguém, nunca! E devemos compreender que profissionais do futebol, como quaisquer outros, são seres humanos falíveis. Por isso não podemos simplesmente condenar ao "cancelamento" ou ao fuzilamento moral os profissionais do clube pelos insucessos e erros cometidos, sobretudo nesta final da Libertadores. Ataques raivosos e ameaças físicas não devem ser aceitas, mas críticas duras, respeitosas e com bons argumentos sempre serão bem vindas. Especificamente na derrota para o Botafogo, que jogou o tempo inteiro com um jogador a menos, falhamos demais, de forma inaceitável para quem almeja a conquista da taça. O técnico Gabriel Milito escolheu a estratégia mais segura (infelizmente não bem-sucedida) no primeiro tempo ao ter um jogador a mais em campo, apostando na manutenção da escalação inicial, o que efetivamente não funcionou, ocorrendo o contrário do imaginado, ou seja dois gols tomados ao invés de marcar um apenas. No primeiro gol, de Luiz Henrique, tínhamos oito jogadores na área e mais o goleiro Everson contra cinco botafoguenses, mas nem assim conseguimos evitar o gol. Nada adianta ter tamanha quantidade de jogadores na defesa se estes não marcarem em cima os adversários. Bobeira generalizada que custou caro. No segundo gol, um vacilo juvenil do ótimo lateral-esquerdo do Galo e da Seleção Brasileira, Guilherme Arana, que protegeu mal uma bola para o goleiro Everson, que afoito, cometeu o pênalti infantil no lépido e talentoso Luiz Henrique. E para arrematar o terrível dia de vacilos monumentais em Buenos Aires, os nossos dois zagueiros foram facilmente driblados pelo atacante artilheiro Júnior Santos em um espaço de 30 centímetros junto à bandeirinha de escanteio, jogada que resultou no seu gol, terceiro do Botafogo, que sacramentou inapelavelmente a vitória e a expressiva e justa conquista do clube carioca. Nada a contestar, venceu o melhor! E pronto, ponto final!





Saber ganhar é essencial. Saber perder, é ainda mais essencial, sobretudo para quem necessita exercitar em plenitude a humildade. Reconhecer o valor, a excelência e a superioridade do adversário é tarefa para gigantes, como o nosso Clube Atlético Mineiro. Assim, congratulações a Flamengo e Botafogo e às suas apaixonadas torcidas pelas grandes e justas conquistas. 
Dito isso, eis que de repente um novo, surpreendente e assustador cenário se descortina diante do Atlético, podendo causar consequências inimagináveis. O fantasma do rebaixamento, que parecia tão distante, aparece repentinamente após o encerramento da penúltima rodada do Brasileirão. Depois da melancólica derrota para o Vasco da Gama por 2 x 0 em São Januário, a situação complicou demasiadamente. Junto com Fluminense, Athletico e Bragantino, o Atlético vai para a última rodada do campeonato necessitando desesperadamente de um empate com o xará paranaense, sem depender de outros resultados, para não ser rebaixado pela segunda vez à Série B. Sempre digo que a linha que separa a glória do fracasso é muito tênue, quase imperceptível. Poderemos ir da expectativa do prestígio total ao vexame da queda em pouquíssimo espaço de tempo. Coisas indecifráveis do futebol que parecem acontecer somente, ou mais, com o nosso amado Galo.

Em 2005, a torcida, apesar de triste, cantou o Hino e aplaudiu o time após a queda. 
Não consigo imaginar a repetição desta cena agora em 2024.


A situação é complicadíssima. Restando uma partida a se realizar e com uma vaga aberta para o descenso, temos Atlético com 44 pontos e 10 vitórias, Fluminense com 43 pontos e 11 vitórias, Athletico com 42 pontos e 11 vitórias, e Red Bull Bragantino com 41 pontos e 9 vitórias. Para se livrar do terror da queda, o Galo precisa da vitória ou apenas de um empate em casa com o Athletico. Seria simples, não fosse a atual situação de urucubaca que vive o clube, há doze partidas sem vencer, jogando mal e com o elenco desgastado e totalmente abatido, sem a mínima confiança. Nada parece funcionar em campo, o que deixa de cabelos em pé e revoltada a apaixonada e exigente torcida. E se o Galo perder, o que acontece? Aí o trem pode ficar não feio, mas horripilante. Se o Fluminense empatar fora de casa com o Palmeiras, que ainda briga pelo título com o Botafogo, e o Red Bull Bragantino vencer em casa o já rebaixado Criciúma, a vaca terá ido, irremediavelmente, pro brejo. Quem diria, hein? Quem, em sã consciência, poderia imaginar um desfecho desse para um dos considerados favoritos aos principais títulos na temporada? Esse nosso futebol é mesmo imprevisível, uma coisa maluca onde tudo pode acontecer. Até mesmo o Atlético ainda conseguir uma vaga na Copa Sul-Americana de 2025! Para este milagre tornar-se realidade, basta o Galo vencer o xará paranaense e contar com empate ou derrota do Grêmio contra o Corinthians e de derrota do Vitória para o Flamengo. Assim o time alvinegro mineiro ficará com 47 pontos ganhos e se manterá na 12º posição na tabela de classificação. É por este milagre que vou torcer no domingo, com toda a força do meu velho e testado coração atleticano. Certamente a tarde de domingo mexerá com os nervos de milhões de torcedores de futebol do país. 
Só tenho certeza de que, qualquer seja o desenlace desse filme, afortunado ou desgostoso, meu coração e minha alma continuarão coloridas de preto e branco. Seguirei adiante com a cabeça erguida, camisa preta e branca no corpo, orgulhoso de ser Atleticano até que a morte venha me buscar para a derradeira viagem. Aqui é GALO, para sempre! Na alegria ou na tristeza, na glória ou no fracasso.
Um grande abraço espinosense.