Espinosa, meu éden

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segunda-feira, 4 de maio de 2020

2406 - A Covid-19 leva embora o grande Aldir Blanc

Após ser internado no dia 10 de abril com infecção urinária e pneumonia no Hospital Miguel Couto e ser posteriormente transferido para uma UTI no Hospital Universitário Pedro Ernesto, ambos no Rio de Janeiro, faleceu na madrugada de hoje, 4 de maio, por conta do Covid-19, o compositor Aldir Blanc, indubitavelmente um dos maiores letristas da rica Música Popular Brasileira.
Aldir Blanc Mendes tinha 73 anos. Ele nasceu em 2 de setembro de 1946 no bairro do Estácio, na zona norte do Rio de Janeiro. Como bom virginiano, detalhista, curioso e observador, captou como ninguém o cenário popular das ruas da cidade maravilhosa, com seus encantos mil, sua gente diversificada e sua cultura abrangente, apaixonando-se pelo futebol, com o Vasco da Gama; o Samba, com o Salgueiro; e a poesia que se transformava em música. Após formar-se em Medicina, na área da Psiquiatria, descobriu logo que aquilo não era o seu destino nem sua fonte de prazer. Abandonou-a em 1973, quando compreendeu que, sem poder salvar suas filhas gêmeas prematuras da morte precoce, não havia motivo para continuar na profissão. A música e a poesia eram o seu caminho. Isso se confirmou quando conheceu o cantor e compositor João Bosco, quando se deu um casamento perfeito entre o letrista do lirismo e do cotidiano e o músico talentoso de harmonias pulsantes e sofisticadas. Esta frutífera parceria nos presenteou com canções especiais como "Linha de Passe", "Corsário", "O Mestre-Sala dos Mares", "Dois Pra Lá, Dois Pra Cá", "Bala Com Bala", "Cabaré", "Kid Cavaquinho", "Caça à Raposa" e a belíssima e tocante "O Bêbado e a Equilibrista", esta que encantou e emocionou o país na voz da nossa maior cantora, Elis Regina, transformando-se em um hino de defesa da Liberdade e da Democracia.


E não só! A lista de canções valiosas criadas pelo artista é grande. "Amigo É Pra Essas Coisas" (com Sílvio da Silva Júnior), "Nação" (com João Bosco e Paulo Emílio), "A Viagem" (com Cleberson Horsth), "Catavento e Girassol", "Nítido e Obscuro" e "Baião de Lacan" (com Guinga), "Resposta ao Tempo (com Cristóvão Bastos), "De Esquina em Esquina" e "Ela" (com César Costa Filho), "Recreio Das Meninas II", "Pra Que Pedir Perdão?" e "Só Dói Quando Rio" (com Moacyr Luz), e mais uma centena delas. 

"Todo boêmio é feliz
Porque quanto mais triste
Mais se ilude...

Esse é o segredo de quem
Como eu, vive na boemia
Colocar no mesmo barco
Realidade e poesia...

Rindo da própria agonia
Vivendo em paz ou sem paz
Pra mim tanto faz
Se é noite ou se é dia..."
(Versos de "Me Dá a Penúltima")

Livros:
"Rua dos Artistas e Arredores" (Ed. Codecri, 1978)
"Porta de Tinturaria" (1981)
"Brasil Passado a Sujo" (Ed. Geração, 1993)
"Vila Isabel - Inventário de Infância" (Ed. Relume-Dumará, 1996)
"Um Cara Bacana na 19ª" (Ed. Record, 1996)


Em mais de 50 anos de carreira, Aldir Blanc escreveu livros, contos, críticas, artigos de jornal e criou mais de 500 músicas. Teve como parceiros, além de João Bosco, nomes como Maurício Tapajós, Edu Lobo, Sueli Costa, Wagner Tiso, Djavan, Hélio Belmiro, Guinga, Cristóvão Bastos, Carlos Lyra, Ivan Lins, Paulo César Pinheiro, Roberto Menescal e Moacyr Luz. 
Aldir, amante por anos da vida boêmia, afastada nos últimos tempos de reclusão sóbria em casa, conseguiu, com significativo brilhantismo, captar a essência da vida cotidiana dos cariocas e do ambiente da mais linda cidade do país, deixando um legado de raro valor cultural. Que descanse em paz, sabendo que sua abrangente e preciosa obra continuará inesquecível!
Um grande abraço espinosense.


A sua mais famosa canção, imortalizada pela melhor cantora de todos os tempos no Brasil...