Talvez você não conheça nem jamais tenha ouvido falar em Gary Brooker. O cantor, compositor e pianista inglês faleceu de câncer há pouco menos de um mês, exatamente em 19 de fevereiro, em Surrey, no Reino Unido, aos 76 anos de idade. Mas é bem possível, especialmente os mais de idade, que você já o tenha escutado muito nos bailes e festinhas do passado, pois é quase impossível que ali não se tocasse a maravilhosa canção "A Whiter Shade of Pale" ("Um Tom Mais Claro de Palidez") da banda britânica de Rock Progressivo formada na década de 1960, Procol Harum. Este nome estranho da banda veio do nome de um gato de um amigo dos músicos, expressão do Latim que significa "Além Dessas Coisas". Esta foi a música de estreia da banda britânica, lançada em 12 de maio de 1967, e que fez enorme sucesso, atingindo os primeiros lugares das paradas musicais do mundo inteiro, inclusive no Brasil. Não à toa, ela foi anunciada como a canção mais tocada dos últimos 75 anos em espaços públicos no Reino Unido, bem como incluída pela prestigiada revista Rolling Stone, em 2004, na sua lista das "500 melhores canções de todos os tempos". A canção escrita por Keith Reid e musicada por Gary Brooker e Matthew Fisher, foi premiada, rendeu venda milionária de discos, teve milhares de regravações e foi utilizada como trilha sonora em filmes. E, claro, embalou muitos casais, amores e romances pelo mundo afora, inclusive na nossa quase centenária Espinosa.
O interessante é que, além de linda, romântica e maravilhosa, inspirada em Johann Sebastian Bach, a canção é bastante enigmática, como tantas outras criadas nos anos 70 pelas bandas de Rock Progressivo que faziam um som admiravelmente psicodélico. A letra da música continua suscitando polêmica e discussões sobre o real sentido das frases. Normalmente traduzido o título como "Um Tom Mais Claro de Palidez", encontrei uma visão um tanto mais filosófica da canção no site "https://paintboxtalks.wordpress.com", que fez uma tradução interessante e que transcrevo abaixo:
"Translúcida e Pálida Como a Morte"
"Dançamos um alegre fandango, Deslizando em círculos pelo soalho / Eu estava me sentindo meio mareado,/ A multidão gritava pedindo mais. O lugar rangia duramente/ e o teto voou para longe,/ Quando pedimos um outro drink/ O garçom trouxe uma gamela.
Era uma hora tão tardia, Que quando a mariposa contou sua história,/ A face dela, antes apenas fantasmagórica,/ Tornou-se translúcida e pálida como a morte.
Disse ela, "Não há o que discutir,/ A verdade é evidente, pode-se ver"./ Mas eu estava perdido em meu baralho,/ e não permitiria que ela se tornasse uma das dezesseis virgens vestais/ que partiam para o litoral.
Embora meus olhos estivessem abertos, talvez tenham sido fechados. E era uma hora tão tardia,/ Que quando a mariposa contou sua história,/ A face dela, antes apenas fantasmagórica,/ Tornou-se translúcida e pálida como a morte.
Disse ela: "Estou em casa, na praia do adeus"/ embora na verdade, estivéssemos no mar,/ Então levei-a pelo espelho e a forcei a concordar, dizendo: "Você deve ser a sereia que levou Netuno para para cavalgar."/ Ela, porém, me sorriu com tamanha tristeza que minha ira dissipou-se imediatamente.
Sendo a musica o alimento do amor/ a risada, então, é sua rainha/ Igualmente se o que está oculto será revelado/ então o que é imundo será purificado pela verdade.
Minha boca, como uma cartolina, abriu-se de um lado a outro de minha cabeça
Afundamos rapidamente e nos despedaçamos no leito do oceano."
Era uma hora tão tardia, Que quando a mariposa contou sua história,/ A face dela, antes apenas fantasmagórica,/ Tornou-se translúcida e pálida como a morte.
Disse ela, "Não há o que discutir,/ A verdade é evidente, pode-se ver"./ Mas eu estava perdido em meu baralho,/ e não permitiria que ela se tornasse uma das dezesseis virgens vestais/ que partiam para o litoral.
Embora meus olhos estivessem abertos, talvez tenham sido fechados. E era uma hora tão tardia,/ Que quando a mariposa contou sua história,/ A face dela, antes apenas fantasmagórica,/ Tornou-se translúcida e pálida como a morte.
Disse ela: "Estou em casa, na praia do adeus"/ embora na verdade, estivéssemos no mar,/ Então levei-a pelo espelho e a forcei a concordar, dizendo: "Você deve ser a sereia que levou Netuno para para cavalgar."/ Ela, porém, me sorriu com tamanha tristeza que minha ira dissipou-se imediatamente.
Sendo a musica o alimento do amor/ a risada, então, é sua rainha/ Igualmente se o que está oculto será revelado/ então o que é imundo será purificado pela verdade.
Minha boca, como uma cartolina, abriu-se de um lado a outro de minha cabeça
Afundamos rapidamente e nos despedaçamos no leito do oceano."
A verdade é que eu, e mais um bocado de gente, já curti muita música boa sem entender patavina o que estava contido na letra. Hoje, com a magia da Internet, tudo mudou, com a possibilidade instantânea de checar a tradução. A gente, nos bailes e nas horas dançantes de antigamente, geralmente com as apresentações dos inesquecíveis "Os Cardeais", dançava coladinho com as meninas, em clima de paixão e arrebatamento, ao som de músicas que diziam coisas completamente desconexas dos nossos sentimentos de então naquele momento. Outros exemplos de letras um tanto dissonantes das músicas que imaginávamos bem românticas são "I Started a Joke", dos Bee Gees, "Rock and Roll Lullaby", do B.J. Thomas e "Hotel California", dos Eagles. Eu caio na risada quando vejo hoje gente se indignando com os artistas (Pink Floyd é um exemplo), pelo conteúdo das letras que nunca captaram e entenderam, que vão de encontro ao que eles pensam e defendem na vida real. Um barato total!
Uma letra bonita é um tesouro incalculável, mas é o conjunto da música, com letra, acorde, arranjo, interpretação, voz e alma, que nos alegra e emociona, deixando nossos momentos muito mais lindos, saborosos e felizes.
Um grande abraço espinosense.
"A Whiter Shade of Pale"
Procol Harum (Keith Reid, Gary Brooker e Matthew Fisher)
We skipped the light fandango
Turned cartwheels 'cross the floor
I was feeling kinda seasick
But the crowd called out for more
The room was humming harder
As the ceiling flew away
When we called out for another drink
The waiter brought a tray
And so it was that later
As the miller told his tale
That her face, at first just ghostly
Turned a whiter shade of pale
She said, 'there is no reason
And the truth is plain to see
But I wandered through my playing cards
And would not let her be
One of sixteen vestal virgins
Who were leaving for the coast
And although my eyes were open
They might have just as well've been closed
And so it was that later
As the miller told his tale
That her face, at first just ghostly
Turned a whiter shade of pale