Renato Luciano, já ouviu falar? Eu nunca! Isso até pouco tempo, quando finalmente descobri sua bendita existência e sua música mais que linda "De Toda Cor", no YouTube. Paixão à primeira audição. E aí, claro, fui pesquisar o máximo sobre o artista de tão bela criação. E redescobri e pacientemente me resignei da minha imensa ignorância, pois é inevitável compreender que quanto mais a gente busca o conhecimento, mas a gente percebe o quanto de coisas desconhece por completo. É até desanimador isso, saber que, por mais que você se esforce e busque, jamais aprenderá tudo da História, jamais lerá todos os bons livros, jamais assistirá a todos os bons filmes, jamais escutará todas as lindas canções produzidas pelas mentes criativas e iluminadas de gente como Bob Dylan, Paul McCartney, Gilberto Gil, Bernardo do Espinhaço ou Renato Luciano. Mas evoluir é mais que preciso e aproveitar cada segundo para conhecer mais e mais do mundo nunca será tempo perdido.
O Renato Luciano de Paula é mineiro de Visconde do Rio Branco, onde nasceu em 27 de junho de 1983. Além de cantor e compositor, o rapaz é ator, tendo participado de várias peças teatrais e alguns filmes. Com Oswaldo Montenegro, participou em 2009 do musical "Filhos do Brasil", e em 2010 atuou no longa-metragem "Léo e Bia" ao lado de Paloma Duarte. Integrou os elencos dos musicais "Gonzagão – A Lenda" (2011) e "Ópera do Malandro" (2014). Em 2012 lançou o seu primeiro disco: "Seu Novo Par". Nesta época participou da criação da Cia. Barca dos Corações Partidos – Companhia de Teatro Movimento e Som, ao lado dos colegas Fábio Enriquez, Rica Barros, Adrén Alves, Eduardo Rios, Alfredo Del-Penho e Beto Lemos. Com esta companhia de teatro lançou algumas das suas composições no espetáculo "Auê" em 2016. Alternando entre o teatro e a música, lançou um EP de músicas autorais intitulado "Pra Dançar Com a Vassoura". Em 2017 interpretou um palhaço no musical "Suassuna – O Auto do Reino do Sol". Também lançou o álbum "De Toda Cor", com a faixa-título virando tema da novela "A Força do Querer", da TV Globo, tendo na gravação a participação dos artistas Emilio Dantas, Laila Garin, Léo Pinheiro, Moska, Ney Matogrosso, Pedro Luís, Oswaldo Montenegro e Zeca Baleiro.
Em 2021 Renato se juntou com o ator e cantor Rainer Cadete para o projeto musical "Leves e Reflexivas", um EP. Uma das canções, "Farinha do Mesmo Saco", contou com a participação da cantora e compositora mato-grossense Vanessa da Mata. Em 2022, Renato Luciano lançou seu terceiro disco, "Turista do Mundo", reafirmando seu talento incomum e sua habilidade de misturar sons e ritmos na criação de uma música sem rótulo, recheada de poesia e doçura.
O artista rio-branquense me encantou não somente pelas suas belas criações musicais, mas também por sua veia poética e suas ideias de grande sabedoria, sobretudo quando afirma "que o amor é um lugar super visitado e ainda tão pouco compreendido", ou diz que "em um mundo tão violento, a doçura é o que há de mais rebelde" ou acredita "que a simplicidade é o que há de mais sotifisticado". Assisti a uma entrevista sua e adorei sua simplicidade e seu ótimo humor, divagando sobre a vida e o mundo, e confessando ter aprendido muito com os artistas que o influenciaram: Charles Chaplin, Michael Jackson, Paulinho Moska, Adriana Calcanhotto, Legião Urbana, Maurício Pereira, Clube da Esquina, Clarice Lispector, Raul Seixas. Renato Luciano é um cara humano, bem-humorado, generoso, poético, antenado com a vida real e com as elucubrações dos mistérios, um pensador conectado com seu íntimo e à procura de explicações sobre tudo. Adorei suas frases: "É cara, a vida é uma maravilha e uma desgraça. E a graça é essa. Nossa felicidade está no fazer artístico. É muito simples ser complexo e muito complexo ser simples. O simples resolve tudo, como disse o Renato Teixeira. Eu sou o turista do mundo. O turista do mundo é aquele que está turistando, que está passando pelo mundo porque não se encaixa e ao não se encaixar, se encaixa em todos os lugares. Esse sou eu".
Uma de suas lindas poesias:
"Antes de tudo existir, existia a canção,
A canção é a causa primária de todas as coisas,
E uma das primeiras coisas que a canção criou, ela chamou de gente,
Essa gente criou os sonhos, e os sonhos criaram o amor,
O amor é uma coisa que essa gente sonha,
É porque muito raramente duas gentes se encontram e se amam,
Esse é o amor dos sonhos,
Mas isso é estratégia deles, dos sonhos,
Para que toda gente que restasse, passasse o resto da vida sonhando,
Assim cada vez que nasce um amor verdadeiro, nascem mil sonhos à volta,
E cada vez que um sonhador descobre que aquele outro sonhador,
Não era exatamente o sonho que ele sonhou,
Nasce uma canção, pura e linda,
Para justificar a frustração de não ter sido o tão sonhado amor."
Quão linda é a poesia que brota suave das mentes criativas dos nossos grandes artistas brasileiros!
Um grande abraço espinosense.
TEMPOS DAS FLORES
Renato Luciano
Pequeno tempo das flores
Que o vento traga amanhã
Que os versos curem as dores
Na voz de um velho Xamã
Que a doce luz num cipó
Possa me mostrar no tempo, maior
Delicado tempo das flores
Passa no tempo apagar
A chama do violento
Na vez de um belo luar
Delicado tempo das flores
Me leve, leve, pelo vento
Delicado tempo
Pequeno tempo das flores
Que o vento traga o amanhã
Que os versos curem as dores
Na voz de um velho Xamã
Que a doce luz num cipó
Possa me mostrar no tempo, maior
Delicado tempo das flores
Passa no tempo apagar
A chama do violento
Na vez de um belo luar
Delicado tempo das flores
Me leve, leve, pelo vento
Delicado tempo
Delicado tempo
Delicado tempo das flores


