Mais um sonho realizado! Mais uma alegria incontida na velha e cansada alma beatlemaníaca. É mesmo uma felicidade inestimável poder ter tido a oportunidade e viver a experiência de presenciar aquele elegante e talentoso senhor septuagenário empunhando seus instrumentos musicais com tamanha competência e jovialidade, a ponto de fazer vibrar de emoção e alegria escancaradas, mais de 50 mil pessoas entrincheiradas no estádio Mineirão numa noite de terça-feira.
Paul McCartney é ícone. Paul McCartney é lenda. Paul McCartney é imortal. Paul McCartney é Sir. Paul McCartney é Rock and Roll. Paul McCartney é Pop. Paul McCartney é um pacifista. Paul McCartney é um gentleman. Paul McCartney é espirituoso. Paul McCartney é bem humorado. Paul McCartney é carismático. Paul McCartney é simpaticíssimo. Paul McCartney é gênio. Paul McCartney é um Beatle. E que coisa maravilhosa: Deus me permitiu ver, ao vivo e a cores, mesmo de longe, lá na arquibancada, um beatle tocar e cantar! E foi o Paul! Yes, man! O Paul!
Desculpem-me a impetuosa infantilidade, mas é uma coisa muito pessoal e extraordinária esse negócio de um menino pobre, nascido em uma cidadezinha do Sertão Norte-Mineiro, com acesso quase nulo a qualquer tipo de cultura na infância e juventude, ter descoberto um dia (tardio, é verdade), a existência de quatro cabeludos de uma cidade longínqua de nome Liverpool, que tocavam um tal de Rock and Roll e fizeram uma revolução de paz, amor e transformações na música e na forma de o mundo inteiro encarar a vida. Era a rapaziada de uma tal banda chamada Beatles.
Realizar sonhos não são tarefas simples, muito pelo contrário. A tarefa começa com bastante antecedência. Inicia-se na compra dos ingressos, de preços elevados, mesmo sem saber se naquela data futura estaríamos disponíveis. Passa-se pela compra das passagens, na procura diária por preços mais acessíveis. Depois vem a procura por acomodações no local do evento. Continua na ansiedade da preparação e percurso da viagem. Até que chega o grande dia! Mais ansiedade. As horas passam lentas. A chegada ao estádio com grande antecedência, para não perder absolutamente nada da festa, a espera na fila sentado no chão, debaixo de um sol escaldante na Avenida Coronel Oscar Paschoal. Ainda bem que uma nuvenzinha aparecia no céu de vez em quando para diminuir o nosso calvário. A interação com outros companheiros de jornada e sonho, muitos jovens, adultos e idosos, vestidos com suas camisas dos Beatles e do grande Paul, também nos aliviava o sofrimento. Podia-se ver gente de todo o país, até um rapaz com uma camisa do Papão da Curuzu, o Paysandu de Belém do Pará.
Aí veio, finalmente, a abertura dos portões e a correria para a tradicional revista da segurança. Outra fila para o acesso ao setor correspondente ao ingresso. Mas ninguém reclamava do sol, do tempo de espera, do sofrimento ou do cansaço. Paul vale tudo isso e muito mais. O acesso finalmente foi liberado. Agora era hora de ser rápido e escolher assentos com boa visualização do palco. A vantagem de estar em número de três é a de poder sair para ir ao banheiro sem o temor de perder a tão valorizada posição de assento. E as horas iam se arrastando. Os portões da esplanada foram abertos às 17h20 e o acesso ao estádio logo em seguida, às 17h41. O show só iria começar às 21h30, ou seja, 4 horas mais tarde. E isso dava algum desânimo? Nenhum, zero. Animação total. Os ambulantes passavam a todo momento vendendo cerveja, água e refrigerante. Nada na lata, tudo servido no copo, por medida de segurança. E os preços? Exorbitantes! Um copinho de água a R$ 5,00, uma latinha de refrigerante a R$ 8,00 e uma latinha de cerveja Heineken a incríveis R$ 12,00. E com o passar do tempo, tudo quente pra danar. Intragáveis. E a galera se importava com isso? Que nada! A turma se empanturrava de cerveja e de tropeiro à espera do ídolo.
Enquanto o sol desaparecia no belo horizonte e a escuridão da noite se apresentava nada sombria, a pista no gramado e as arquibancadas do Mineirão iam se enchendo aos poucos até que, exatamente às 21 horas e 40 minutos, o êxtase da multidão se manifestou com a entrada no palco de Sir Paul McCartney empunhando seu inseparável baixo Hofner. Cerca de 50 mil pessoas soltaram em uníssono gritos de prazer, enquanto Paul tocava "A Hard Day’s Night", abrindo a apresentação da sua segunda turnê pela capital mineira, desta vez a "One on One". Em seguida, vieram "Save Us", "Can’t Buy Me Love", "Letting Go" e "Drive My Car". O ídolo conquistou o público com palavras em português com seu charmoso sotaque. "É bom estar de volta", "Olá, BH", "Tudo bem com vocês?", "Ei BH! Boa noite, gente! Tudo bem?" foram algumas das muitas interações com o público na primeira metade do show.
E em série vieram grandes sucessos dos Beatles, da sua carreira solo ou dos tempos de Wings. Paul trocava de instrumentos de tempos em tempos durante a apresentação. Com o baixo, tocava as músicas mais efervescentes, mais roqueiras. Com a guitarra, outras idem. Ao piano, interpretava canções mais românticas, como as que homenageia sua atual esposa Nancy, "My Valentine", e a saudosa ex-esposa Linda McCartney, "Maybe, I'm Amazed". Em certo momento, Paul pegou o violão e tocou "In Spite of All the Danger", a primeira canção autoral gravada pelos Quarrymen, a banda inicial dos garotos de Liverpool que mais tarde se transformaria na maior e mais famosa banda de Rock de todos os tempos, The Beatles. Mais adiante tocou a linda "Blackbird" e confirmou a sua defesa firme dos direitos humanos universais. Logo em seguida, cantou sua música "Here Today" em homenagem ao grande parceiro John Lennon, mostrado em imagens no telão. George Harrison também recebeu igual homenagem, com a execução da música "Something", de George, desta vez com o uso do ukulele.
Here Today (Aqui, Hoje)
De Paul McCartney em homenagem a John Lennon
And if I said (E se eu disser que)
I really knew you well (Realmente te conhecia bem)
What would your answer be? (Qual seria sua resposta?)
If you were here today (Se você estivesse aqui hoje)
Here today (Aqui, hoje)
Well knowing you (Te conhecendo bem)
You'd probably laugh and say (Você provavelmente iria rir e diria)
That we were worlds apart (Que estávamos muito distantes)
If you were here today (Se você estivesse aqui hoje)
Here today (Aqui, hoje)
But as for me (Mas, quanto a mim)
I still remember how it was before (Eu continuo lembrando como era antigamente)
And I am holding back the tears no more (E não estou mais segurando as lágrimas)
I love you, oh (Eu te amo, oh)
What about the time we met? (E sobre quando nos conhecemos?)
Well I suppose that you could say that (Bem, eu acho que você diria que)
We were playing hard to get (Nós trabalhamos duro para conseguir)
Didn't understand a thing (Não entendíamos nada)
But we could always sing (Mas nós sempre podíamos cantar)
What about the night we cried? (E sobre a noite em que choramos?)
Because there wasn't any reason left (Porque não havia razões)
To keep it all inside (Para manter tudo aquilo)
Never understood a word (Nunca entendia uma palavra)
But you were always there with a smile (Mas você estava sempre lá com um sorriso)
And if I say I really loved you (E se eu disser que eu realmente te amei)
And was glad you came along (E fiquei feliz, por você vir junto)
Then you were here today (Se você estivesse aqui hoje)
For you were in my song (Por você estar em minha música)
Here today (Aqui, hoje)
O público alternava momentos em pé e sentados, dependendo do ritmo da canções. Cantava junto as músicas mais conhecidas e ouvia com atenção as mais recentes e menos famosas. O ponto culminante do espetáculo aconteceu nas performances consecutivas das músicas "Let it Be", "Live and Let Die" e "Hey Jude", quando o público, maravilhado, cantou junto o refrão da primeira, viu canhões de fogo explodirem no palco com um barulho ensurdecedor na segunda e, na última canção, entoou em coro o antológico "na na na na na, na na na na" empunhando balões coloridos e cartazes escritos com o refrão, disponibilizados pela produção. Maravilhoso! Aí, como já esperado, Paul se despediu do público para retornar em breve para o tradicional bis, para delírio da multidão beatlemaníaca.
Paul retornou ao palco portando uma enorme bandeira do Brasil, enquanto dois de seus músicos seguravam uma bandeira da Grã-Bretanha e outra do orgulho LGBT, o que sinalizava o seu amor pelo seu país e pelo nosso, além da sua posição resoluta contra a homofobia. Para encerrar o espetáculo de som, luzes e cores que jamais sairá da minha mente, ele tocou e cantou nada menos que sete músicas: "Yesterday", "Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band", "Helter Skelter", "Birthday", "Golden Slumbers", "Carry That Weight" e "The End". Esta última, como o nome já diz, colocou fim ao maravilhoso show de 2 horas e 40 minutos de magia, com a gente já se deslocando ao ponto de saída. Paul então se despediu da terra mineira com as suas tradicionais jovialidade e simpatia: "Está na hora de partir. Obrigado à melhor equipe do mundo. Obrigado à minha banda fantástica. E obrigado a vocês. Até a próxima!"
Ainda extasiado pela divina música do gênio inglês, era hora de sair apressado do estádio para conseguir um táxi que nos levasse de volta ao hotel. E com passos largos chegamos logo à avenida C e, aleluia!, conseguimos fácil um táxi. A volta para casa era o que mais me preocupava, pois o show iria terminar muito tarde, no início da madrugada, e imaginava como seria complicado não conseguir transporte no meio daquela multidão. Mas graças a Deus, deu tudo certo. O taxista, um senhor idoso e ranheta que reclamou de tudo a corrida inteira, nos deixou sãos e salvos no hotel. Aí foi só procurar descansar para acordar cedo no dia seguinte e pegar o avião de volta para a nossa verdadeira, humilde e aconchegante moradia, cansados, mas com o coração batendo forte de alegria e felicidade pela realização de um grande sonho.
Seria eu um canalha se não registrasse aqui a acolhida maravilhosa dos meus amigos do coração José
Carlos Sepúlveda (o Mangabinha), sua esposa Ivone (Cotinha) e seu filho Vítor, que nos receberam com todo o carinho, atenção e consideração. A eles, o nosso amor e reconhecimento eternos.
Ainda extasiado pela divina música do gênio inglês, era hora de sair apressado do estádio para conseguir um táxi que nos levasse de volta ao hotel. E com passos largos chegamos logo à avenida C e, aleluia!, conseguimos fácil um táxi. A volta para casa era o que mais me preocupava, pois o show iria terminar muito tarde, no início da madrugada, e imaginava como seria complicado não conseguir transporte no meio daquela multidão. Mas graças a Deus, deu tudo certo. O taxista, um senhor idoso e ranheta que reclamou de tudo a corrida inteira, nos deixou sãos e salvos no hotel. Aí foi só procurar descansar para acordar cedo no dia seguinte e pegar o avião de volta para a nossa verdadeira, humilde e aconchegante moradia, cansados, mas com o coração batendo forte de alegria e felicidade pela realização de um grande sonho.
Seria eu um canalha se não registrasse aqui a acolhida maravilhosa dos meus amigos do coração José
Carlos Sepúlveda (o Mangabinha), sua esposa Ivone (Cotinha) e seu filho Vítor, que nos receberam com todo o carinho, atenção e consideração. A eles, o nosso amor e reconhecimento eternos.
Nesta nova turnê iniciada em 13 de abril de 2016, intitulada "One on One", Paul se apresentará em 78 datas, passando por várias cidades de 17 países (49 shows na América do Norte, 10 na Europa, 8 na América do Sul, 7 na Oceania e 4 na Ásia). No Brasil ele já se apresentou em Porto Alegre (Beira-Rio, dia 13 de outubro), São Paulo (Allianz Parque, dia 15 de outubro), Belo Horizonte (Mineirão, dia 17 de outubro) e em Salvador (Itaipava Arena Fonte Nova, dia 20 de outubro), quem sabe realizando sonhos iguais ao meu, de outros aficionados pelos Beatles e pela música encantadora do Sir Paul McCartney.
Após a passagem pelo Brasil, a turnê prossegue seguindo para a Colômbia, passando por México, Austrália e se encerrando em 16 de dezembro de 2017 no Mount Smart Stadium, na cidade de Auckland, na Nova Zelândia.
Que Deus conceda muita saúde ao velho Paul para que ele possa continuar nos inebriando com suas maravilhosas canções. Vida longa, Paul!
Que Deus conceda muita saúde ao velho Paul para que ele possa continuar nos inebriando com suas maravilhosas canções. Vida longa, Paul!
Um grande abraço espinosense.
Turnê "One on One" - Músicos:
Abe Laboriel, Jr. - Bateria, percussão e vocais de apoio.
Brian Ray - Guitarra, violão, baixo e vocais de apoio.
Rusty Anderson - Guitarra, violão e vocais de apoio.
Paul Wickens - Teclados, acordeão, harmônica, bongo, percussão, guitarra, violão e vocais de apoio.
Paul McCartney - Vocais, baixo, piano, guitarra, violão e ukulele.
Repertório: 25 Beatles, 9 carreira solo, 3 Wings, 1 Quarrymen.
1) A Hard Day’s Night (Beatles)
2) Save Us
3) Can’t Buy Me Love (Beatles)
4) Letting Go (Wings)
5) Drive My Car (Beatles)
6) Let Me Roll It (Wings)
7) I’ve Got a Feeling (Beatles)
8) My Valentine
9) Nineteen Hundred and Eighty-Five (1985) (Wings)
10) Maybe I’m Amazed
11) I’ve Just Seen a Face (Beatles)
12) In Spite of All the Danger (Quarrymen)
13) Love Me Do (Beatles)
14) And I Love Her (Beatles)
15) Blackbird (Beatles)
16) Here Today
17) Queenie Eye
18) New
19) Lady Madonna (Beatles)
20) FourFiveSeconds
21) Eleanor Rigby (Beatles)
22) I Wanna Be Your Man (Beatles)
23) Being for the Benefit of Mr. Kite! (Beatles)
24) Something (Beatles)
25) A Day in the Life (Beatles)
26) Ob-La-Di, Ob-La-Da (Beatles)
27) Band on the Run
28) Back in the U.S.S.R. (Beatles)
29) Let It Be (Beatles)
30) Live and Let Die
31) Hey Jude (Beatles)
BIS
32) Yesterday (Beatles)
33) Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise) (Beatles)
34) Helter Skelter (Beatles)
35) Birthday (Beatles)
36) Golden Slumbers (Beatles)
37) Carry That Weight (Beatles)
38) The End (Beatles)