Espinosa, meu éden

Espinosa, meu éden

sexta-feira, 8 de julho de 2011

170 - "Causos" e histórias espinosenses: Essa nossa mania de falar errado...

Nós, brasileiros, aprendemos cedo na escola como ler e escrever algumas das milhares de palavras da nossa riquíssima língua portuguesa. Entretanto, temos a mania de falar errado. Talvez por preguiça, quiçá por vício de linguagem, eventualmente pela convivência com outros interlocutores ou simplesmente por displicência. O fato é que falamos errado sim, mesmo conhecendo a forma culta das palavras da nossa língua. Pois bem. Um grande amigo, a quem chamarei de Pedrinho*, por quem tenho o maior carinho e respeito, tinha uma mania danada de falar errado algumas palavras que continham o dígrafo "LH". Ele constantemente trocava o "LH" pelo "I". Nas oportunidades em que nos encontrávamos para um bom bate-papo, eu sempre o alertava sobre o erro. Mas não tinha jeito. Ele sabia que estava errado, mas nunca conseguia pronunciar corretamente as palavras. Ao invés de dizer folha, ele dizia fôia; a palavra baralho, ele pronunciava baraio; em vez de falar telha, ele falava teia e assim por diante. Era muito engraçado. Até que um belo dia, estávamos em um barzinho tomando umas cervejas geladas, quando ao flagrá-lo mais uma vez falando incorretamente algumas dessas palavras, chamei-o para uma aposta, na tentativa de mudar de uma vez por todas aquela mania que já estava incomodando. Eu lhe pagaria cinco cervejas se ele dizesse dez palavras sem cometer esse tipo de erro. Ao que ele, incontinênti, respondeu: - Óóóóóia, canaia! Faiô a gaiofa, paiaço! Se óia no espeio, veiaco. Ô véio, é mió num espaiá isso no meu trabaio, hein? (Traduzindo: Olha, canalha! Falhou a galhofa, palhaço! Se olha no espelho, velhaco. Ô velho, é melhor não espalhar isso no meu trabalho, hein?) Naquele momento vi que não iria conseguir mudá-lo. Era um caso perdido. Desisti.
Coisas de Espinosa. Um grande abraço espinosense.
* Pedrinho: nome fictício.


169 - Mazzaropi, o famoso caipira do cinema que encantou a minha juventude

Desde criança fui arrebatado pela magia do cinema. E que sala de cinema tinha Espinosa à época! O Cine Coronel Tolentino, de Tidim e Nelito, era maravilhoso! Ainda me lembro com detalhes das suas instalações ali na Praça Antonino Neves: suas enormes portas de ferro com pequenas aberturas que nos permitiam espiar o que acontecia lá dentro; as belas cortinas que fechavam os corredores de acesso, as janelas e a tela grande; a pequena abertura gradeada onde comprávamos as entradas; o cone de madeira na entrada onde eram jogados os ingressos; os belos cartazes de filmes emoldurados nas paredes; a escada lateral que levava à sala de projeção, minha maior curiosidade; as confortáveis poltronas vermelhas reclináveis; as luzes coloridas no teto de madeira que piscavam antes de ser apagadas para o início do filme; a clássica música de abertura que embalava a esperada abertura das cortinas. Isso tudo sem contar os pequenos pedaços cortados de cenas dos filmes que eram dispensadas ao lixo pela janela da sala de projeção e que faziam a nossa alegria e que eram disputadíssimos por todos aqueles moleques fissurados em cinema. Quanta saudade! Nem mesmo o cinema de Montes Claros, na época, era tão bom como o "nosso". 
Foi aí nesta fábrica de sonhos que eu conheci Tarzan (Johnny Weissmuller), Ringo (Giuliano Gemma), Django (Franco Nero), Sartana (Gianni Garko), Trinity e Bambino (Terence Hill e Bud Spencer), Os Trapalhões e principalmente Mazzaropi. Não perdia um de seus filmes, que me divertiam à beça. Ainda sou um grande admirador do trabalho desse expoente do cinema brasileiro de todos os tempos. Vamos então conhecer um pouco da sua história.


O ator, produtor e cantor Amácio Mazzaropi nasceu em São Paulo, aos 9 de abril de 1912, filho do imigrante italiano Bernardo Mazzaropi e da portuguesa Clara Ferreira. Desde cedo destaca-se na escola declamando poesias e participando de peças teatrais. Mais tarde, amplamente influenciado pelo avô artista, apaixonou-se pelo circo, onde começou contando "causos" e anedotas. Já em 1932, ele estreia a sua primeira peça de teatro chamada "A herança do Padre João". A partir de 1935, já com a sua própria companhia de teatro, inicia uma longa turnê pelo interior do estado de São Paulo. Passou ainda pelo rádio e pela televisão até estrear o seu primeiro filme, em 1952, chamado "Sai da Frente", produzido pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz.


Depois de trabalhar em mais algumas fitas de outras produtoras, decide produzir os seus próprios filmes e cria a PAM Filmes, Produções Amácio Mazzaropi, que passaria também a fazer a distribuição das suas películas por todo o país. O primeiro trabalho na nova produtora é o filme "Chofer de praça". No ano de 1961, Mazzaropi compra uma fazenda em Taubaté, onde inicia a construção de um estúdio de gravação que resultará em seu primeiro filme colorido, "Tristeza do Jeca", que faz um enorme sucesso.  Em 1975 inicia a construção de um grande estúdio cinematográfico, com oficina de cenografia e hotel para os atores e técnicos, onde produziria mais alguns filmes. Quando filmava o seu 33º filme, "Maria Tomba Homem", ele veio a falecer aos 69 anos de idade, aos 13 de junho de 1981, no Hospital Albert Einstein de São Paulo, devido a um câncer na medula óssea, deixando inacabada a sua última obra.
Apesar do enorme sucesso de suas produções e da imensa popularidade entre a população brasileira, Mazzaropi nunca teve o devido reconhecimento do seu trabalho pela crítica e pela intelectualidade, sendo bastante criticado pela qualidade e temática de seus filmes.
Em 1994, nas instalações da sua fazenda, onde estão o seu hotel e o seu estúdio cinematográfico, foi inaugurado o Museu Mazzaropi, onde estão expostos todos os seus trabalhos e mais de 6000 peças de sua extensa e relevante carreira.


Filmografia:
Sai da frente (1951)
Nadando em dinheiro (1952)
Candinho (1953)
O gato da madame (1954)
A carrocinha (1955)
Fuzileiro do amor (1956)
O noivo da girafa (1957)
Chico Fumaça (1958)
Chofer de praça (1958)
Jeca Tatu (1959)
As aventuras de Pedro Malazartes (1959)
Zé do Periquito (1960)
Tristeza do Jeca (1961)
O vendedor de linguiça (1961)
Casinha pequenina (1962)
O Lamparina (1963)
Meu Japão brasileiro (1964)
O puritano da Rua Augusta (1965)
O corintiano (1966)
O Jeca e a freira (1967)
No paraíso das solteironas (1969)
Uma pistola para Djeca (1969)
Betão Ronca Ferro (1971)
O grande xerife (1972)
Um caipira em Bariloche (1973)
Portugal... minha saudade (1974)
O Jeca macumbeiro (1975)
Jeca contra o capeta (1976)
Jecão, um fofoqueiro no céu (1977)
O Jeca e seu filho preto (1978)
A banda das velhas virgens (1979)
O Jeca e a égua milagrosa (1980)
Maria Tomba Homem (não concluído)
No excelente filme "Tapete Vermelho", é prestada uma emocionante homenagem ao gênio Amâncio Mazzaropi. O ator Matheus Nachtergaele, numa interpretação espetacular, relembra o personagem caipira criado por ele em cada cena, até cumprir a promessa ao filho de levá-lo a assistir um filme do Mazzaropi.
O filme, de Luiz Alberto Pereira, que foi lançado em 2006, é uma produção para se guardar, pois seguramente um dia irá figurar entre as melhores produções do cinema nacional.
A excelente fotografia, a história singela e muito bem feita, a interpretação de Matheus e seus parceiros e até Paulo Goulart, de motorista de caminhão arranhando com seu vozeirão um dos sucessos musicais de Mazzaropi, ficaram simplesmente inesquecíveis... Fonte: gentedanossaterra.com.br

168 - "Causos" e histórias espinosenses: A terrível e hilária queda de moto

Lá pelos anos 80, era comum a nossa participação em partidas de futebol de salão em cidades vizinhas que, invariavelmente, terminavam em farras muito animadas. Em uma dessas oportunidades, fomos jogar em Monte Azul, no clube do BNB, e após a partida, claro, houve aquela cervejada. Não me lembro do resultado do jogo nem do time adversário, mas isso é o que menos nos importava. O legal mesmo era fazer amizades, bater uma bolinha e logo depois, tomar muita cerveja com a turma que nos recepcionava com muito carinho e consideração. A estrada que nos liga a Monte Azul ainda era de terra, nada de asfalto. Então, depois de muita confraternização, resolvemos que era hora de nos mandar de volta à Espinosa. Pedrão*, funcionário, e Pedrinho*, menor-aprendiz do Banco do Brasil voltavam de moto. Naquela época ninguém usava capacete ainda. Eu possuía um Chevette e estava voltando com meu primo Júlio César quando, em uma curva próxima à linha férrea que margeava a estrada, deparamo-nos assustados com Pedrão, meio ensanguentado, sinalizando desesperadamente com os braços, parado no meio da estrada, pedindo para que eu parasse. Pedrinho estava caído perto dali. Eles haviam caído da moto, na curva. Na hora, pensei o pior. Mas os caras deram muita sorte, pois saíram da estrada e foram arremessados contra uma moita bastante espessa à beira dos trilhos, que lhes amorteceu a queda.

Rapidamente colocamos os dois no carro, Pedrão no banco da frente, rebaixado, e Pedrinho deitado no banco de trás. Júlio ficou responsável por levar a moto de volta para casa. Saí em disparada para levá-los o mais rapidamente possível ao hospital em Espinosa. A situação era preocupante, mas ao mesmo tempo hilária. Durante o percurso, Pedrinho, bastante machucado e totalmente desorientado, se levantava a todo momento do banco traseiro e me perguntava: - Onde estou? Onde a gente estava? O que a gente estava fazendo? Eu estava com quem? Para onde estamos indo? Eu pacientemente tentava acalmá-lo, explicando tudo. Só depois de um tempo ele se deu conta do que havia acontecido e então bateu o medo de enfrentar a sua mãe. Pediu que sua mãe, que foi minha professora no grupo escolar, não fosse avisada do acontecimento, pois ao saber do que ocorrera, ela iria castigá-lo severamente. Mais uma vez, consegui acalmá-lo até chegar ao hospital em Espinosa. Deixei os dois lá sendo atendidos pelo médico e me dirigi à casa de Dona Maria* para comunicá-la sobre o acidente. Depois de contar todo o acontecido, ela, ainda assustada e bastante preocupada, foi vê-lo no hospital, mas não para castigá-lo, como ele imaginava. Depois do atendimento médico, Pedrinho recebeu alta e ficou alguns dias se recuperando do acidente em casa, sob os afetuosos cuidados da mãe. No final, ele se recuperou rapidamente, sem sequelas e sem levar qualquer castigo da mamãe. Coisas de Espinosa! Um grande abraço espinosense.
* Nomes fictícios.

167 - Espinosenses pelo mundo: José da Costa Ramos, o Monge Mokugen San

O fazendeiro e juiz de paz Sebastião da Costa Ramos, bastante conhecido na cidade de Espinosa como "Sêo" Tião Ramos, morava na Rua da Resina e, ao lado de Dona Ana Perpétua, constituiu uma grande família, com vários filhos. Entre eles o José da Costa Ramos. Todos eles foram meus vizinhos por muitos anos, pois morávamos em frente da sua casa. Zé Ramos, como o conhecíamos, formou-se em Odontologia em Belo Horizonte e, depois de exercer a profissão por algum tempo, abandonou tudo para se dedicar ao Budismo, causando enorme surpresa aos amigos e familiares.
Diz a lenda, bastante interessante, que Zé Ramos, em um jogo de futebol na cidade de Urandi-BA, acertou um potentíssimo chute na trave do time adversário. Até aí tudo bem, aconteceu mesmo. O que causa estranhamento até hoje é a informação de que, devido à potência do chute desferido pelo atleta espinosense, a trave continua a balançar até hoje. Isso eu não posso provar. Pois bem, voltemos à história do nosso conterrâneo de coração nipônico.  
O monge José Costa Mokugen San, que nasceu na cidade de Espinosa (MG), é o presidente da ACOO - Associação Cultural Oriente-Ocidente, com sede na cidade mineira de Belo Horizonte. Formou-se em Odontologia em 1978 pela UFMG, mas em 1991 abandonou a profissão e partiu para o Japão em busca da Iluminação, onde se tornou o primeiro brasileiro a completar o treinamento formal no famoso Mosteiro de Eihei-ji, principal mosteiro no Japão e no mundo da escola Zen Budista. Galgou todas as etapas do treinamento até que, em 2005, foi denominado como Monge Superior ou Abade do Templo de Shosenji, na província de Aichi, no Japão.
Em abril de 2008 recebeu do embaixador do Brasil no Japão uma condecoração em reconhecimento pela sua trajetória, consagrando-o ali como uma das maiores personalidades brasileiras no Zen. Mokugen San é, sem dúvida, uma das autoridades de nacionalidade brasileira mais significativas dentro do Budismo Zen.
Os monges budistas Mokusen e Mokugen San (Zé Ramos)
Mokugen San reside no Japão desde 1991 e possui laços estreitos com os órgãos oficiais do Budismo japonês, atuando de forma reconhecida em vários Templos Budistas de várias cidades daquele país. Enquanto não retorna ao Brasil, a ACCO é representada em Belo Horizonte pelo monge Gustavo Mokusen, vice-presidente da associação.
Durante todos estes anos de treinamento no Japão, Mokugen San gravou em seu coração e jamais esqueceu o pensamento firme de beneficiar o Budismo do Brasil, divulgar o genuíno espírito do Zen e também propiciar um espaço físico adequado à prática do treinamento do Caminho. E agora, também como Superior do futuro Templo Zen das Alterosas, que pretende construir em Belo Horizonte, almeja compartilhar com os brasileiros a prática correta e genuína do Dharma de Buddha. Fonte: zen.org.br
Há muito tempo que não tenho mais contato com Zé Ramos. Só sei que ele descobriu o seu caminho e não teve dúvidas quanto ao seu futuro de paz e felicidade. Que Deus o proteja! Um grande abraço espinosense.  

166 - "Causos" e histórias espinosenses: Os ingênuos trotes no Banco do Brasil

Houve um tempo em que havia muitos garotos trabalhando no Banco do Brasil, em funções de suporte administrativo, denominados de menores-aprendizes. Eram selecionados entre os estudantes das escolas da cidade e eram exonerados perto de completar dezoito anos. Nesta época também, muitos jovens tomavam posse como funcionários da carreira administrativa, muitos deles vindos de outras cidades, algumas bem distantes. Os mais antigos funcionários, então, aplicavam alguns trotes para tirar um sarro e brincar com a inexperiência dos calouros. Por exemplo: alguém entregava um envelope fechado para um deles e o mandava entregar a alguém em determinado estabelecimento. O destinatário, já antecipadamente contactado, abria o envelope e encaminhava o garoto para outro lugar. E assim, sucessivamente, até que alguém decidisse que era hora de encerrar a brincadeira, normalmente uma hora depois. Em outro trote, pedia-se ao garoto para se dirigir a uma papelaria para comprar um "envelope redondo" para colocar carta-circular. Noutra situação, entregava-se algumas folhas de carbono (ainda existe?) para o pobre garoto lavar. Havia também o pedido para procurar a máquina de achar diferenças de caixa.
Nas liberações de contratos agrícolas, centenas àquela época, entregava-se uma lista com os nomes dos agricultores para se fazer a chamada. Só que alguém incluía, na brincadeira, alguns nomes de pessoas famosas da História, tais como Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes), Édson Arantes do Nascimento (Pelé), Luís Alves de Lima e Silva (Duque de Caxias) etc. E o menino ficava lá, por um bom tempo, chamando os caras que nunca apareciam.
Nesta época, havia uma revista interna do Banco, gratuita, chamada BIP, que publicava artigos sobre diversos assuntos bancários. Os novos funcionários eram convidados e convencidos a assinar a revista, através de um cheque avulso em branco e quando recebiam o seu primeiro salário, muito bom por sinal, era descontada uma quantia que era usada para fazer uma farra entre a turma, com convite ao patrocinador da brincadeira. Era muito legal! Bons tempos aqueles. Coisas de Espinosa! Um grande abraço espinosense.