Depois de subir e descer as íngremes ladeiras de Diamantina durante as férias, fui conhecer o distrito de Conselheiro Mata, que fica a cerca de 50 km de distância da cidade. São 10 km de asfalto em direção a Curvelo pela BR-367 e mais 39 km de estrada de terra, virando à direita, pela MG-220. A estrada é boa, mas é preciso ter paciência com aquela trepidação toda causada pelas famosas "costelas" que antigamente víamos em demasia nas estradas de terra de Espinosa. Nada que desanime quem tem ânimo e prazer em desbravar os sertões em busca de aventura.
Conselheiro Mata é um distrito do município de Diamantina. Pelas informações de alguns moradores, pouco mais de 300 pessoas moram habitualmente lá. Foi criado pelo Decreto nº 52, de 6 de maio de 1890, então com o nome de Riacho das Varas. Passou a ter sua denominação atual através da Lei Estadual nº 540, de 3 de setembro de 1912.
Logo ao chegar, é facilmente perceptível a tranquilidade do lugarejo. Descendo a rua principal, ao lado da Igreja de Nossa Senhora das Dores e da Escola Estadual Dom Joaquim Silvério de Sousa, bem devagar, devido ao piso de pedras bastante irregular, chega-se ao Buteko e Restaurante do Kussu, estabelecimento comandado pelo Seu Geraldo Kussu, figura ímpar do lugar. Ele é também proprietário de uma pousada, torcedor do Flamengo, amante de uma cervejinha e sempre tem uma "tirada" sarcástica na ponta da língua para surpreender e cativar os visitantes. Outra pousada existente por lá é a "Minha Casa", da Andréa, da sua filha Ludimila e do Dedé, localizada na Rua de Trás, a segunda e última rua da localidade. Ficamos hospedados lá, um lugar bem agradável que conta ainda com um charmoso restaurante e lanchonete, o Arte Rural.
A localidade de Conselheiro Mata tem uma rica história. Lá funcionou por algum tempo um projeto fantástico de educação integral criado pela educadora russa Helena Antipoff. Para quem não sabe, Helena Wladimirna Antipoff (Grodno, Rússia, 25 de março de 1892 - Ibirité (MG), 9 de agosto de 1974) foi uma psicóloga e pedagoga nascida na Rússia, de alto gabarito, que veio para o Brasil, a convite do Estado de Minas Gerais, para ajudar na reforma do ensino, no ano de 1929. Dedicou sua vida à educação, em especial aos jovens com deficiência e aos que residiam nas zonas rurais das cidades. Criou duas escolas para ensino em tempo integral, em sistema de internato, uma em Ibirité (MG), na Fazenda do Rosário, e a outra em Conselheiro Mata, a Escola Normal Regional Dom Joaquim Silvério de Sousa. Nesta última, instalada em 30 de setembro de 1949 em uma casa de retiro dos padres construída por Dom Joaquim Silvério de Sousa, primeiro Arcebispo de Diamantina, posteriormente foram criados o Ginásio Rural Padre José de Carvalho (destinado a jovens do meio rural, com o objetivo de prepará-los para o exercício de uma atividade agrícola) e o Centro de Treinamento de Professoras Rurais (visando uma melhor formação a professoras leigas que exerciam o magistério em Minas Gerais). Jovens de toda a região do Vale do Jequitinhonha e do Norte de Minas tiveram a sorte de poder estudar ali, em tempo integral e com ensinamentos em diversas áreas do saber, sob os cuidados zelosos de brilhantes educadoras como Dona Lidimanha Augusta Maia (diretora), Dona Lourdes Moura, Dona Pedrosa, Dona Maria das Dores, Dona Amélia Lages, Dona Luizinha, José Marques das Aleluias, entre outros mais professores. Em 2006 a escola de Conselheiro Mata foi fechada com o encerramento do sistema de internato para as alunas. Hoje em seu prédio funciona a escola estadual do distrito.
Helena Antipoff foi agraciada muitas vezes pelo seu brilhante trabalho em prol da educação brasileira, ganhando homenagem até em Espinosa, com seu nome sendo dado à escola da localidade de Periperi, a Escola Municipal Professora Helena Antipoff.
O distrito de Conselheiro Mata oferece também uma vasta opção de lugares especiais e maravilhosos para se apreciar a beleza da Natureza. Antigo ponto de parada de uma já desativada linha de trem entre Diamantina e Corinto (a velha estação ferroviária resiste ao tempo, bastante conservada), o povoado conta com um grande número de cachoeiras de tirar o fôlego, tamanhas as suas belezas. Algumas são de difícil acesso, mas pode-se chegar a outras sem muita dificuldade. A Cachoeira das Fadas é linda, maravilhosa, inebriante, e fica a apenas 1 km do centro da localidade. O acesso é feito por uma trilha não tão difícil de se realizar. Outra maravilha da Natureza fica mais distante, a cerca de 17 km, no Rio Pardo Grande. É a Cachoeira do Telésforo, uma larga queda d´água de cerca de uns 12 metros de altura que deságua em um poço profundo em meio a uma praia imensa de areia fina e de uma cor branca embriagadora. E tem mais, como as cachoeiras do Tombador, do Diquinho, da Vaca Brava e a da Usina, entre outras que não tive tempo de conhecer, infelizmente.
Para se ter uma percepção melhor do encanto desses lugares, só mesmo a visualização das fotografias e das imagens do vídeo abaixo. Ou ainda melhor, um dia desses pegar a estrada e ir se deixar deslumbrar in loco pela força criativa do Criador do Universo.
Um grande abraço espinosense.